Movimento mundial pede inclusão das florestas no combate às mudanças climáticas; desmatamento nos trópicos e subtrópicos representa 18 a 25% das emissõesAmbientalistas, cientistas, representantes do governo e de comunidades indígenas assinaram segunda-feira (10/09) a Declaração das Florestas, que visa à redução das emissões de carbono provenientes do desmatamento. O cenário do lançamento não poderia ser mais propício: o evento aconteceu do alto de uma torre que mede fluxo de carbono na Reserva de Cuieiras, no Amazonas.
"Esta declaração deverá unir todos os povos indígenas das florestas do planeta inteiro", comemorou Pedro Garcia, da COIAB (Confederação Indígena da Amazônia Brasileira). O Secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Virgílio Viana, também assinou o compromisso: "É um momento histórico. O Amazonas dá as boas vindas a esta iniciativa que nasce aqui e vai percorrer o mundo inteiro", disse. Também participaram do lançamento Andrew Mitchell, fundador da ONG GCP (Global Canopy Programme), e os professores Antonio Manzi, Flávio Luizão (INPA) e Dieter Anhuf (Universidade De Passau), que integram o LBA, experimento científico que envolve 400 cientistas brasileiros e internacionais na Amazônia.
De Manaus, a Declaração segue por uma jornada pelo mundo até chegar a Bali, em dezembro, na Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU. "Finalmente uma chance de colocar as florestas na agenda do clima, após anos de tentativas. Dessa forma podemos reduzir emissões, favorecer o desenvolvimento local com o uso econômico das florestas e ainda ganhar os serviços de biodiversidade e clima local", avalia Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, também signatário da Declaração.
Já com 250 assinaturas, o movimento recebe adesões a partir de amanhã. O canal de televisão britânico BBC vai filmar as etapas nos vários continentes e produzir um filme, que será exibido em Bali.
Compromisso adicionalO texto da declaração ressalta que as nações em desenvolvimento não são as principais responsáveis pela alteração climática, mas têm um papel fundamental na preservação das florestas. "As conseqüências advindas de tais mudanças recairão pesadamente sobre nações que possuem menos condições e meios de se adaptar ao problema", alerta.
Uma das recomendações da Declaração é que os créditos de carbono gerados pela conservação da floresta sejam incluídos nos mercados globais. "Os povos das florestas, as comunidades e os governos necessitam de incentivos reais para manter e fazer crescer seu capital florestal", defende o texto.
O desmatamento das florestas tropicais representa de 18 a 25% das emissões de carbono, mas o movimento defende que o foco das políticas de combate ao aquecimento global deve ser a busca de soluções com o uso de energia limpa: "O importante é que todos os promotores concordam que se trata de um compromisso adicional, e nunca substitutivo, daqueles dos países ricos em relação à energia e ao transporte", afirma Smeraldi.
Também assinam a declaração: Wangari Maathai, prêmio Nobel da Paz, Kevin Conrad, representante da coalizão de 30 países com florestas tropicais nas Nações Unidas, o arcebispo patriarca Bartolomeo da Igreja Ortodoxa, John Elkington, fundador da SustainAbility, Robin Hanbury-Tenison, presidente da Survival International, Thomas Lovejoy, presidente do Centro Heinz, Norman Myers, cientista, Carlos Nobre, cientista senior do INPE, Ghillean Prance, diretor dos Royal Botanical Gardens, Peter Raven, diretor do Missouri Botanical Garden, Fábio Feldmann, consultor, Márcio Santilli, do Instituto Socioambiental, Jonathon Porritt, diretor do Forum for the Future, Paulo Moutinho do IPAM, Laura Ledwith, diretora de assuntos internacionais da Conservation International e o bispo anglicano de Liverpool.
Clique
aqui para ler a declaração na íntegra.
(Por Fernanda Campagnucci,
Amazonia.org.br, 11/09/2007)