A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alertou, segunda-feira (10/09), que o aquecimento global pode representar uma séria ameaça para a segurança alimentar mundial. Segundo o subdiretor-geral da FAO, Alexander Muller, as mudanças climáticas cada vez mais visíveis no planeta estão se transformando em um dos grandes desafios que humanidade enfrentará nos próximos anos, devido a seu impacto na produção, distribuição e acesso aos alimentos.
A agricultura é hoje, destacou Muller, o setor mais afetado pelas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, exigindo políticas imediatas para assegurar a segurança alimentar da população do planeta. A situação de risco é mais grave nos países em desenvolvimento que possuem menor volume de recursos par enfrentar os danos decorrentes deste fenômeno.
As variações climáticas extremas, exemplificou, podem colocar em risco a produção de arroz, alimento básico de mais da metade da população do planeta. O funcionário da FAO defendeu medidas como a introdução de novas variedades melhoradas deste cereal, com maior tolerância à salinidade. Além disso, propôs uma rápida transição para um maior uso de biocombustíveis, levando em conta a segurança alimentar e a preservação ambiental.
Mas a agricultura, acrescentou, é ao mesmo tempo vítima e culpada pelo que está acontecendo com o clima. A produção de arroz, assinalou, é hoje uma das principais fontes de gases causadores do efeito estufa. A pecuária, por sua vez, é responsável por 18% das emissões de gases do efeito estufa em nível mundial, enquanto que o desmatamento responde por 18% das emissões de dióxido de carbono. Para reverter esse quadro, Muller defendeu a mudança na gestão da pecuária e das práticas agrícolas e florestais, com a adoção de práticas de conservação que ajudem a manter grandes quantidades de carbono no solo.
Refugiados ambientaisOutro alerta sobre os efeitos do aquecimento global foi feito, sexta-feira, pela organização espanhola Ecologistas em Ação. Segundo a organização, nos próximos 30 anos, as mudanças no clima farão com que cerca de 200 milhões de pessoas sejam forçadas a deixar o local onde vivem. Até 2020, os processos de desertificação expulsarão de suas casas cerca de 135 milhões pessoas. O alerta foi feito pela entidade durante um evento paralelo à Cúpula contra a Desertificação, realizada em Madri.
Esses efeitos, defendeu a Ecologistas em Ação, exigirão uma revisão urgente do conceito jurídico de refugiado, adequando-o a essas novas realidades sociais. Entre essas revisões, está a regulamentação da categoria do “refugiado ambiental”, necessária para garantir um mínimo de proteção jurídica às pessoas obrigadas a deixar seus lares em função de questões ambientais.
A Organização das Nações Unidas (ONU) define hoje como refugiados somente aquelas pessoas que são forçadas a deixar suas casas por causa de distúrbios políticos ou sociais. Mas o debate sobre a necessidade de ampliar esse conceito está aberto. A ONU reconhece que cada vez mais pessoas estão sendo deslocadas por problemas ambientais, como a desertificação, o esgotamento do solo, enchentes e outros tipos de desastres naturais.
Os ecologistas espanhóis criticaram os países que estão adotando políticas cada vez mais restritivas contra a migração e acusaram tais políticas de violar sistematicamente os direitos humanos e o Estatuto dos Refugiados, da Convenção de Genebra. Além disso, defenderam que governos e empresas dos países ricos devem parar com a exploração indiscriminada de recursos naturais dos países pobres, o que só vem agravando os problemas ambientais.
Aproximando-se do limiteO noticiário sobre os efeitos do aquecimento global renova, praticamente todos os dias, as advertências sobre as ameaças que pairam sobre todo o planeta. Nesta terça-feira, uma matéria da agência Reuters apresenta a conclusão de um grupo de cientistas britânicos, após uma pesquisa que durou cinco anos: o mundo provavelmente vai ultrapassar o limite de aquecimento global que a União Européia considera perigoso.
Em março deste ano, líderes da União Européia reiteram a importância de limitar o aquecimento global médio a 2°C acima dos níveis pré-industriais. Com base neste limite, a UE propôs novas metas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Mas, na comunidade científica, há um clima de pessimismo tanto em relação ao limite proposto quanto às novas metas propostas pelas lideranças dos principais governos europeus.
O MetOffice, órgão meteorológico do governo britânico e responsável pela nova pesquisa duvida que essas metas sejam atingidas. Segundo Vicky Pope, gerente do programa de pesquisas sobre mudanças climáticas do Hadley Center, disse que “já está bem aceito que a meta de 2°C será superada”. A própria meta já é problemática. Os cientistas acreditam que o aquecimento de dois graus já será suficiente para iniciar o degelo das calotas polares, com conseqüências graves e irreversíveis.
No último século, a temperatura média do planeta subiu cerca de 0,7°C. Os cientistas acreditam que uma nova elevação de 0,6° C é inevitável, já que os oceanos estão absorvendo aquecimento mais rápido das terras emersas. Caso, os atuais níveis de emissão de gases não caírem nos próximos anos, esse número deve subir, aproximando-se perigosamente da casa dos dois graus. O derretimento da calota polar da Groenlândia, em uma velocidade maior do que a prevista, é um sinal de que essa é a tendência mais forte hoje. Enquanto isso, as lideranças dos países mais ricos do mundo seguem empurrando com a barriga um problema que não cessa de lançar sinais de alerta.
(Por Marco Aurélio Weissheimer,
Agencia Carta Maior, 11/09/2007)