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2007-09-11
Caxias do Sul - Tradição há décadas e proibidas por lei há 15 anos, as queimadas em campos para a renovação de pastagens para o gado viram polêmica durante os meses de agosto e setembro, quando são praticadas. Pecuaristas da região alegam que métodos alternativos, como o manejo da terra e replantio de pasto, têm alto custo e reclamam da falta de linhas de crédito para a implantação de novas técnicas. Do outro lado, autoridades ambientais se mobilizam para fiscalizar a prática e evitar danos à fauna e à vegetação.

Para se ter uma idéia do problema, a Polícia Ambiental (Patram) de Caxias do Sul, que fiscaliza parte da região, recebe uma média de oito denuncias diárias de queimadas. As rondas pelas propriedades rurais resultam em quatro notificações por dia. Os casos são encaminhados para o Ministério Público (MP), que acorda um Termo de Ajustamento de Conduta ou ajuíza denúncia por crime ambiental.

- Os produtores reclamam que não têm dinheiro para fazer a melhoria da pastagem. Mas acredito que possam fazer isso aos poucos, e investir em outras culturas, como hortaliças e plantações - avalia o comandante da Patram, tenente Aécio Ramos Mendonça.

Entre os pecuaristas, o hábito resiste, principalmente devido aos altos custos, alegam. Um produtor de São Francisco de Paula entrevistado pelo Pioneiro ontem revelou que, embora tenha implantado o replantio em um terço dos 700 hectares que possui, ainda utiliza o fogo nos outros dois terços.

- Com o fogo, eu produzo anualmente 30 quilos de carne por hectare. Com manejo e replantio, chego a conseguir 400 quilos por hectare. Mas não pago nada para queimar. Já para fazer o replantio, o gasto por hectare chega a R$ 1 mil - calcula o pecuarista, deixando claro que defende a mudança na lei para poder queimar campo sem medo da polícia.

Pecuarista não usa fogo, mas tem de apagar incêndio
Quem não é adepto da prática da queimada também acaba sofrendo com as conseqüências. Ontem à tarde, o agricultou Alex Martini, 41 anos, estava em sua casa, próximo ao distrito de Vila Seca, quando avistou uma fumaça densa. Intrigado, foi até o topo de uma coxilha para verificar o que estava acontecendo e viu seu campo, que fica às margens da RST-453, a Rota do Sol, em chamas.
- É muita sacanagem. Alguém deve ter colocado fogo na minha terra. Pode ver o resto dos meus campos, nenhum está queimado. Sei que é proibido e por isso não faço - garantiu o homem. Sozinho e diante de uma grande área já destruída, Martini não conseguiu controlar as chamas, que avançavam rapidamente alimentadas pelo vento e pela vegetação seca.

A queimada
- O pasto utilizado para a pecuá ria tem um ciclo de vida anual, morrendo no final do inverno, sendo necessário o replantio ou o aguardo de nova brotação.
- Como o regime de chuvas é mais intenso em relação a outras regiões, o pasto brota e cresce mais do que o normal no verão, restando folhas secas no início do inverno.
- O fogo é usado para remover o pasto seco. Caso isso não ocorra, os animais comerão o suficiente para se manter, sem engordar, pois não conseguem separar as folhas novas que estão nascendo do material que fica na superfície.
Fonte: Emater

Código Florestal
A Lei 9.519 foi criada em 1992. O artigo 28 estabelece que é proibido o uso do fogo ou queimadas nas florestas e demais formas de vegetação natural. A multa prevista é de R$ 1 mil por hectare queimado. Para denunciar a prática, basta contatar a Polícia Ambiental no telefone (54) 3217.8941.

Solo não é afetado, diz estudo
Após dois anos de pesquisas em cinco municípios dos Campos de Cima da Serra, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a Emater-RS apresentaram no último dia 16 de agosto, na Assembléia Legislativa, os resultados. Conforme o estudo, o solo se recupera em 30 dias e poucos animais de pequeno porte morrem com a queima do pasto seco, derrubando parte dos argumentos defendidos pelas autoridades ambientais para a proibição das queimadas.

- A ponta da chama pode chegar a 600ºC, mas, na base do fogo, a temperatura é de 50ºC a 58ºC. Não há muito problema, tanto é que, em oito dias, o capim já está brotando de novo - defende o coordenador do estudo, o biólogo Alindo Butzke, acrescentando que o impacto da prática na fauna silvestre e na emissão de poluição à atmosfera não foram pesquisados.

- Produzir fumaça não é bom, mas quem deixaria de usar seu carro? A lei proíbe a queimada, mas pode ser mudada - comenta Butzke.

Mesmo assim, a Emater não defende a prática e preconiza o melhoramento da pastagem, por meio da roçada dos campos ou do plantio de pastos de inverno, o que aumentaria em cerca de 13 vezes produtividade de carne no rebanho.

- O problema é que plantar pasto novo chega a custar R$ 1 mil por hectare e o pasto roçado demora cerca de dois meses para crescer, o dobro do tempo daquele que é queimado - contabiliza o agrônomo Luiz Gonzaga Pereira Messias, que é técnico da Emater.

Tanto Messias quanto Butzke acreditam que a proibição das queimadas é um dos fatores responsáveis pela queima acidental de florestas e morte de animais silvestres. Eles afirmam que antes de a prática ser vedada, o produtor controlava a extensão da área atingida, o que não ocorre agora que ele ateia fogo e foge para não ser multado.

- Eu acho que as queimadas têm de acabar, mas é preciso dar um tempo para se adequar e recursos econômicos para os pecuaristas usarem as novas técnicas - explica Messias.

(Pioneiro, 11/09/2007)


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