O memorando de entendimento assinado na segunda-feira entre o Brasil e a Finlândia pode elevar as chances de o país abocanhar parte dos cerca de 200 milhões de euros que os finlandeses devem investir em projetos de desenvolvimento limpo nos países emergentes nos próximos anos. Ainda um “escopo” do que pode ser a cooperação brasileiro-finlandesa nessa área, o documento firmado pelo chanceler Celso Amorim e o ministro finlandês de Comércio Exterior e Desenvolvimento, Paavo Väyrynen, estabelece que os países troquem informações sobre os chamados mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL), previstos no Protocolo de Kyoto.
Pelas regras dos MDL, países desenvolvidos com metas de redução das emissões de gás carbônico podem investir em projetos que reduzam as emissões em qualquer outra parte do globo, e contabilizarem as emissões não realizadas em sua cota. O memorando assinado pelo Brasil e a Finlândia é uma aposta no futuro, mas de poucos resultados concretos hoje.
E esse deve ser o padrão dessa viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Escandinávia. Na Dinamarca, o presidente assina memorando de entendimento para pesquisa na área de biocombustível a partir de sobras da colheita. Já na Noruega, a visita é protocolar e não há acordo a ser assinado. Mais ambiciosa, a visita à Suécia deve resultar num acordo conjunto para investimentos na produção de etanol em terceiros países.
Toneladas de carbono
Até 2012, a Finlândia pretende comprar 10 milhões de toneladas de carbono, afirmou à BBC Brasil o Ministério do Meio Ambiente da Finlândia. A preços atuais, com a tonelada de carbono sendo negociada entre 16 e 20 euros, isto significaria que os finlandeses esperam gastar entre 160 milhões de euros e 200 milhões de euros até 2012.
“Mas é claro que procuraremos manter os preços no nível mais baixo possível”, afirmou a conselheira de Política Ambiental do Ministério, Karoliina Anttonen. No âmbito dos MDL, a Finlândia investe hoje em apenas um projeto de energia hidrelétrica em Honduras. Mas Anttonen afirmou que o país busca alternativas também na Nicarágua e El Salvador.
É aqui que estaria a oportunidade do Brasil, país que junto com China e Índia lidera em termos de quantidade de projetos em MDL. No fim de setembro, por exemplo, a Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F) vai leiloar nada menos que 800 mil toneladas de crédito de carbono referentes a um projeto de produção de energia realizados a partir dos restos de um aterro em São Paulo.
A prefeitura paulistana, que coordena o projeto, espera receber cerca de R$ 30 milhões. Segundo o Ministério do Meio Ambiente finlandês, cerca de 37% dos projetos registrados no âmbito dos MDL se localizam hoje na América Latina.
(Pablo Uchôa,
BBC, 11/09/2007)