(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
amazônia
2007-09-11
Crescimento regional ainda não encontrou o modelo sustentável de que tanto precisa

O avanço da fronteira na Amazônia tem sido marcado por degradação dos recursos naturais, violência e por um crescimento econômico rápido, porém não-sustentável na maioria dos municípios da região.  De fato, nesse modelo de ocupação, a economia segue o padrão 'boom-colapso'.  Ou seja, nos primeiros anos da atividade econômica ocorre um rápido e efêmero crescimento na renda e emprego (boom), seguido muitas vezes de um colapso social,econômico e ambiental.  Os conflitos no campo e os assassinatos rurais pela disputa de terra se mantêm elevados e estão espacialmente relacionados ao desmatamento e à abertura da fronteira agropecuária e madeireira.

Por sua vez, o IDH da região (0,705) aumentou nos últimos anos, especialmente pela melhora de indicadores de acesso à educação.  Mesmo assim, este índice manteve-se inferior à média brasileira.  Os municípios com maior contingente de população imigrante do Sul e Sudeste do Brasil apresentam melhor IDH quando comparados a outros, o que evidencia o processo de importação de IDH.

Embora o PIB tenha crescido acima da média nacional nos últimos anos, ainda representa apenas 8% da economia brasileira.  O PIB per capita (US$ 2,32 mil) cresceu apenas 1% ao ano nos últimos anos na Amazônia, mantendo-se 40% inferior à média brasileira.  Além disso, apenas 21% da população economicamente ativa tinha um emprego formal em 2004; sendo a maioria no setor público.

A análise da violência e da socioeconomia nas diferentes fronteiras de ocupação e desmatamento da Amazônia (não-florestal, desmatada, sob pressão e florestal) fortalece a tese de que o desenvolvimento econômico segue o padrão boom-colapso como proposto por Schneider etal.  (2000).  Ou seja, no curto prazo, os indicadores econômicos (PIB e emprego) crescem e o IDH é favorecido pela geração de renda e atração de imigrantes.  Mas os custos são altos: violência,degradação das florestas e desmatamento.

No longo prazo, as regiões muito desmatadas apresentam redução nas taxas de violência e indicadores socioeconômicos inferiores às regiões onde o desmatamento está acontecendo.

Voracidade
O avanço da fronteira na Amazônia é um processo dinâmico, voraz e heterogêneo.  Esse processo é relativamente recente e foi impulsionado nas décadas de 1960 e 1970 pelo governo por meio de incentivos para a ocupação e integração da Amazônia ao mercado doméstico.  Nas décadas de 1980 e 1990 houve redução dos investimentos públicos em infra-estrutura e em outros projetos na região.  Porém, a ocupação da fronteira se intensificou com o boom da atividade madeireira associado ao crescimento da pecuária, do agronegócio e da especulação de terras públicas.

No início do século XXI, as forças que atuam na Amazônia são mais complexas e incluem, por um lado, os investimentos com potencial de ampliar o desmatamento, tais como os gastos públicos (principalmente infra-estrutura e crédito), a expansão de assentamentos de reforma agrária e o aporte de capital privado para atender o mercado global nas áreas de mineração, agropecuária e exploração madeireira.  Por outro lado, há iniciativas de conservação e uso sustentável dos recursos naturais, tais como a criação de unidades de conservação, o combate à grilagem de terras públicas e o aprimoramento do sistema de licenciamento, monitoramento e fiscalização ambiental.

O avanço da fronteira é marcado pelo desmatamento, pela degradação dos recursos naturais e pela violência rural.  Em pouco mais de três décadas, o desmatamento passou de 0,5% do território da floresta original para quase 17%, atingindo cerca de 700 mil quilômetros quadrados em 2006.  Pelo menos 14% dessas áreas desmatadas encontram-se degradadas e abandonadas (Arima et al.  2005).  Além disso, áreas extensas de florestas sofreram degradação pela atividade madeireira predatória e incêndios florestais.

O modelo de ocupação predominante na região (exploração madeireira predatória e conversão de terras para agropecuária) tende a resultar em uma economia local que segue o padrão 'boom-colapso'.

Ou seja, nos primeiros anos da atividade econômica ocorre um rápido e efêmero crescimento (boom) seguido de um declínio significativo em renda, emprego e arrecadação de tributos (colapso) (Schneider et al.  2000)1.  A renda cairia pelo colapso da exploração de madeira e pela conversão econômica da terra para a agropecuária, atividade que não mantém a mesma geração de renda e empregos.  A baixa rentabilidade da agropecuária ocorreria principalmente nas regiões com maiores índices de chuvas, onde a baixa vertilidade dos solos e a proliferação de pragas e doenças são mais freqüentes, em especial nas culturas de grãos (Schneider et al.  2000).

Por outro lado, nas áreas relativamente mais secas da Amazônia (em geral, correspondendo aos cerrados), onde a pluviosidade é inferior a 1.800 mm/ano (em torno de 17% do território) e as condições para agricultura são relativamente mais favoráveis, a tese do 'boom-colapso' não se aplica necessariamente (Schneider et al.2000). Por exemplo, a região produtora de grãos no centro-norte do Mato Grosso, situada em área intermediária entre o cerrado e a floresta densa, até agora tem conseguido manter um bom desempenho econômico, mesmo tendo perdido a grande maioria da cobertura florestal.

Mineração
Além disso, é provável que os municípios cuja economia está baseada na mineração possam evitar o colapso econômico mesmo após a exaustão dos recursos florestais, pois a renda gerada pela atividade minerária é expressiva e pode potencialmente ser usada para estabelecer uma economia mais diversificada e competitiva.

A tese do 'boom-colapso' em escala regional pode ser testada comparando-se os indicadores econômicos e sociais das zonas da Amazônia que já perderam grande parte de suas florestas com aquelas que ainda são ricas em florestas.  Se o 'boom-colapso' está ocorrendo como previsto no modelo de Schneider et al.  (2002): as novas fronteiras de ocupação terão melhores indicadores de crescimento econômicos do que as velhas.  Para testar essa hipótese, foram comparados onze indicadores relacionados aos temas de violência, economia e IDH entre as diferentes zonas de ocupação da Amazônia.  Antes da comparação por zonas, foram analisados a evolução desses indicadores na escala dos estados e municípios.

População cresce e incha as cidades da região
A Amazônia evoluiu de um relativo vazio demográfico em 1960 (apenas 5,4 milhões de habitantes) para 11,2 milhões em 1980 até atingir 22,5 milhões em 2004 (12% da população brasileira).  A maioria (73%) dessa população está nas cidades e apenas 27% no campo (Ipea 2006 a 2007).  Em 1970, a situação era inversa: 64% da população era rural e apenas 36% era urbana.

O maior crescimento populacional ocorreu entre as décadas de 1970-1980 quando a população cresceu 5,4% ao ano.  Esse crescimento foi provocado por políticas públicas que incentivavam a migração por meio de projetos de colonização, incentivos fiscais para a agropecuária, grandes projetos de mineração e de infra-estrutura.

Entre 1991 e 2004, a população da Amazônia aumentou em uma taxa anual (2,8%) superior à brasileira (1,8%).  Em 2000, a população amazônica era majoritariamente jovem (69% com 25 anos ou menos) e tinha expectativa de vida (66 anos) inferior à média brasileira (69 anos) daquele ano (Pnud 2003).

A migração exerce forte influência no crescimento demográfico regional.  Entre 1991 e 2000, a região recebeu cerca de 700 mil migrantes.  Em 2000, 4,3 milhões de habitantes (21%) da população residente na Amazônia eram migrantes.  Desse total, cerca de dois terços era originário das outras regiões do País, enquanto um terço veio da própria região (migração intra-regional).

A densidade demográfica na região em 2000 (3,8habitantes/km²) era bastante inferior à média brasileira (20 habitantes/km²).  A densidade demográfica dos municípios da Amazônia varia de acordo com sua proximidade aos eixos fluviais e rodoviários.  Em 2000, 52% dos municípios da Amazônia tinham densidade demográfica igual ou inferior a 5 habitantes/km².

(O Liberal, 09/09/2007)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -