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pensamento de esquerda sustentabilidade e capitalismo circulação de automóveis
2007-09-11
Dois encantos atraem a educadora Ísis de Palma para o Nossa São Paulo. Lançadora de ONGs e inciativas como o Insituto Ágora, o capítulo brasileiro da Aliança Internacional de Jornalistas, a difusão da Carta das Responsabilidades Humanas e os Tambores da Paz, ela está estimulada, antes de tudo, pelo “espírito de Fórum Social Mundial”, que sente revivido no movimento. “Percebo que a horizontalidade, a ausência de hierarquias, a valorização da diversidade e o estímulo às ações autônomas – tudo o que me entusiasmou em Porto Alegre – pode ser reproduzido em nossas lutas. São princípios que nos fazem mais competentes e menos competitivos”, diz ela.

O centro de gravidade de Nossa São Paulo são os Grupos de Trabalho. Já há onze em funcionamento, sete dos quais temáticos (Acompanhamento do Orçamento, Acompanhamento da Câmara Municipal, Cultura, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Segurança Cidadã) e quatro transversais, ligados aos objetivos gerais do movimento (Comunicação, Construção de Indicadores, Educação Cidadã, Mobilização). Abertos tanto a entidades quanto a voluntários, os Grupos têm ampla autonomia para definir seu plano de trabalho, prioridades, forma de organização. Um importante seminário sobre Qualidade do Ar, promovido em 23 de julho, pelo grupo de Meio Ambiente, na ONG Ação Educativa, lançou subsídios fundamentais para o Dia Mundial sem Carros. Em 15 de agosto, o grupo de Orçamento promoveu curso de acompanhamento cidadão das finanças públicas. Educação começou a promover, em escolas da periferia, reuniões com diretores, professores e pais de alunos, para debater a qualidade do ensino.

Ninguém, nos Grupos, tem cargos ou postos. A animação dos trabalhos é redefinida a cada reunião. Uma vez a cada 30 dias, em média, há uma plenária geral para compartilhar informações e planejar iniciativas comuns. É, em geral, nesses momentos que surgem novos Grupos. Sua criação é livre — desde que haja gente interessada e disposta a trabalhar respeitando princípios não-hierárquicos. Em julho, surgiram Cultura, Segurança Cidadã e Saúde. O ritmo tem crescido. Neste momento, estão em formação Esportes, Economia, Gestão Pública, Habitação/Urbanização/Espaços Públicos e Mobilidade Urbana.

Dois coletivos de ligação
Como nos Fóruns Sociais, a impressão de caos é superficial. Dois coletivos, concebidos por Oded Grajew na época em que Nossa São Paulo estava se formando, exercem um papel permanente de ligação e contato entre os Grupos de Trabalho. Um Colegiado de Apoio, que se encontra a cada 15 dias, procura sistematizar experiências e lançar idéias para todo o movimento. Reúne 25 pessoas, identificadas por ampla história de participação em iniciativas de mobilização social na cidade, mas de origens sociais e sensibilidades políticas diversas. São figuras como o Padre Jaime Crowe, criador do Fórum de Defesa da Vida, que reúne 200 entidades populares na periferia Sul da cidade; a psicóloga Maria Alice Setúbal, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec); Eduardo Ferreira de Paula, presidente da Coopamare, a primeira cooperativa de catadores do Brasil; José Vicente, presidente da Afrobrás e da UniPalmares; o economista Odilon Guedes.

Ligada tanto aos Grupos de Trabalho quanto ao Colegiado de Apoio, há uma Secretaria, composta de quatro pessoas que trabalham profissionalmente em período integral. Estão encarregadas das atividades que garantem visibilidade e articulação ao Nossa São Paulo: manter o sítio web do movimento, produzir boletins semanais, organizar a agenda de reuniões, viabilizar locais e logística para elas. São contratadas pelo Instituto São Paulo Sustentável, que empresta personalidade jurídica ao Nossa São Paulo e se mantém por meio de doações.

Informação e capacidade de contato são formas de poder. Ao assumir a responsabilidade de facilitar a ação e articulação dos Grupos de Trabalho, o Colegiado de Apoio do Nossa São Paulo adquire, é claro, condições de dialogar com mais facilidade com o conjunto do movimento. Partiu de lá, por exemplo, a idéia de fazer do Dia Mundial sem Carros a atividade que, na prática, apresentará a nova iniciativa à cidade.

Facilitadores ou dirigentes?
Como evitar que o papel indispensável de facilitador se converta no poder não-desejado de dirigente? A questão foi debatida de forma explícita, no período de gestação do Nossa São Paulo. Algumas respostas inovadoras, claramente inspiradas nos Fóruns Sociais, foram adotadas como salvaguardas. Primeira: ao contrário de uma direção de partido, sindicato ou organização tradicional, o Colegiado de Apoio não tem poderes para tomar nenhuma decisão em nome do movimento. Seus membros levam sugestões às plenárias gerais — algo que pode ser feito, aliás, por qualquer pessoa presente a elas. Segunda: a adesão a iniciativas do Nossa São Paulo se dá por convencimento e sedução – nunca por aferição de maiorias. As ações do movimento não comprometem automaticamente nem as organizações, nem as pessoas que dele participam. Cada uma escolhe livremente as iniciativas com as quais deseja se envolver. Terceira: nenhum integrante do Nossa São Paulo atua como seu porta-voz, nem tem o direito, por mais atuante que seja, de capitalizar pessoalmente o trabalho coletivo. Vale a pena observar: a página internet do movimento é a antítese do culto à personalidade. Foram banidos os menus do tipo “quem somos” e qualquer referência destacada a participantes do Nossa São Paulo.

Todas essas características estão produzindo um fenômeno raro no universo brasileiro de movimentos, ONGs e associações — caracterizado por enorme profusão de iniciativas mas também por pulverização, baixa sinergia, freqüente redundância de esforços e certa concorrência. Um número cada vez maior de organizações já empenhadas em ações transformadoras sente-se confortável para se somar ao Nossa São Paulo. Eram cerca de duzentas até 15 de agosto. Parecem avaliar que, ao fazê-lo não diluem sua identidade, nem perdem a capacidade de agir autonomamente.

Ganham, ao contrário, capacidade de falar para novos públicos e de multiplicar a potência de suas ações. Há exemplos reveladores. O Grupo de Trabalho sobre Segurança Cidadã permitiu que quatro inciativas [3] que agiam em favor da cultura de paz — porém de distintas maneiras, em diferentes partes da cidade e sem contato — se conhecessem, e passassem a atuar conjuntamente.

O Instituto Ágora e o Voto Consciente batalharam durante anos para criar uma cultura de acompanhamento cidadão sobre o Legislativo em São Paulo. Enfrentaram sempre o desinteresse da mídia, e raramente puderam dialogar com audiências à altura da importância do tema. Tal panorama começou a mudar muito rapidamente nos últimos meses. O Grupo de Trabalho sobre Acompanhamento da Câmara assegurou duas vitórias pouco comuns. O Legislativo comprometeu-se oficialmente a realizar, até o final do ano, três reuniões de trabalho para definir espaços e mecanismos para controle de seu trabalho pelos eleitores. Participarão dos encontros movimentos e organizações sociais, universidades e imprensa. Além disso, Nossa São Paulo lançará em alguns dias, como se verá adiante, mobilização para mudar a Constituição (Lei Orgânica) do município, estabelecendo importantes mecanismos de controle cidadão sobre as ações do próprio prefeito.

Nova perspectiva para esquerda
Quando dezenas de organizações que atuavam de forma descoordenada passam a estabelecer sinergias e colaborações, produz-se um fenômeno ainda mais importante. Surge uma sensação de empoderamento social que pode ser decisiva, no período político muito complexo e contraditório que o país vive há algum tempo. É o segundo fator – e talvez o mais importante – que liga Ísis de Palma ao Nossa São Paulo.

“Estamos propondo uma alternativa à dualidade infértil que marcou a esquerda brasileira nos últimos dois anos”, diz Ísis. Ela explica: a quebra de muitas das expectativas de mudança suscitadas pelo governo Lula e a constatação de que o PT estava pouco disposto a sacudir as práticas viciadas da política institucional levaram muita gente à depressão. Em sentido oposto, parte da militância histórica destaca, em suas análises, a resistência visceral das elites até mesmo aos tímidos avanços registrados no primeiro mandato do presidente. As duas visões são insuficientes. Não enxergam a sociedade civil como um sujeito autônomo, capaz de propor e provocar o Estado. Acreditam que sua única capacidade é reagir, de modo binário — a favor ou contra – às iniciativas do poder.

Nossa São Paulo oferece uma nova perspectiva. Não estimula seus membros a esperar, do poder, nem a redenção, nem a traição. Sugere que sejam, eles mesmos, o centro das mudanças. Propõe que vejam a democracia muito além do voto e da representação. Convida-os a imaginar coletivamente as mudanças e a se mobilizar por elas. Essa virada, reporta Ísis, é responsável por uma mudança radical no ambiente das reuniões. “É uma volta por cima no descrédito com a política. As pessoas vão dos encontros com um sentimento de autonomia e empoderamento. Ao invés da queixa – sempre uma postura subalterna – passam a perguntar, a si mesmas, como mobilizar seu conhecimento e capacidade em favor de uma nova cidade”.

Em setembro de 2006, ao pensar Nossa São Paulo, Oded tinha em mente a pobreza do debate político brasileiro. Às vésperas das eleições presidenciais, a mídia transmitia a sensação de que estava esgotada a possibilidade de debater projetos para o país. As opções reduziam-se a votar no candidato supostamente menos corrupto. Um ano depois, é estimulante pensar que pode estar despontando, nesse mesmo país, o embrião de um espaço público extra-institucional. No momento em que ressurge pelo mundo a sombra das crises financeiras – e dos danos que elas sempre ameaçam causar aos direitos sociais – parece tentador perguntar: por que não um movimento “Nosso Brasil - Outro País”?

[3] Sou da Paz, São Paulo contra a Violência, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) e Ilanud.

(UOL / Le Monde Diplomatique, 30/08/2007)

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