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onu emissões de co2
2007-09-11
O diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, defende maior participação do Banco Mundial no financiamento de ações contra o aquecimento global. Ele está há pouco mais de um ano à frente da instituição da ONU que tem a missão de ajudar os países a lidar com o problema.
Steiner também opina que as atividades econômicas devem visar ao desenvolvimento sustentável, e lembra que participam do debate público pessoas que ganham dinheiro com as tecnologias que vão contra esse objetivo. Ele participou, na semana passada, da Reunião Ministerial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que reuniu representantes de 22 países na capital fluminense. Um dos principais assuntos foi como encontrar fontes de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas.
Formado em economia, Achim Steiner conhece bem o Brasil e fala português, pois é alemão e brasileiro. Nasceu em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul, e foi para a Alemanha aos 10 de idade.
 
Agência Brasil: A grande questão sempre foi como angariar recursos para investir no meio ambiente. Desta vez, por causa da ameaça do aquecimento global, há mais chances de se conseguir mais dinheiro com os países?
Achim Steiner: Sim. Eu creio que sim. Duas coisas são diferentes hoje. A consciência do problema do clima e da degradação ambiental é maior do que em 1992, na conferência do Rio [Rio-92]. E hoje as empresas têm interesse de investir em uma outra produção, mais sustentável. Se não temos uma solução neste momento é porque os países mais industrializados não têm demonstrado vontade de financiar políticas diferentes nos países como Brasil, Índia ou China. Mas têm interesse em cooperar.
 
ABr: Dados da Convenção sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas divulgados em agosto apontam que serão necessários investimentos de cerca de US$ 200 bilhões por ano até 2030 para garantir que a temperatura do planeta permaneça nos níveis atuais. Como conseguir esse montante?
Steiner: Para o cidadão comum, US$ 200 bilhões parece muito dinheiro. Mas o furacão Katrina [que atingiu Nova Orleans, nos Estados Unidos, em 2005], em apenas dez horas, deu um prejuízo de US$ 81 bilhões. Para a comunidade global, sinceramente, conseguir US$ 200 bilhões não é um grande problema. A guerra do Iraque custa isso por ano. Nós precisamos de 0,1% do nosso PIB global para nos tornarmos uma economia de baixa emissão de carbono. Então o custo não é tão alto, principalmente se observarmos os benefícios: menos consumo de energia e menos poluição. E nós temos que tomar cuidado nos debates públicos sobre a questão, pois há interesses políticos e econômicos contra as mudanças – são as pessoas que estão ganhando dinheiro com as tecnologias atuais e do passado.
 
ABr: Os países deveriam criar um imposto ou um fundo específico para o meio ambiente?
Steiner: Não é apenas o caso de ter financiamento estrangeiro ou de criar impostos. A economia tem que ser ambientalmente mais eficiente. Você deve tentar atingir objetivos ambientais usando a economia como aliada. Em Cuba, por exemplo, o governo trocou todas as lâmpadas incandescentes por outras mais eficientes. É claro que isto é ambientalmente saudável, mas a razão principal foi economizar eletricidade, pois o país depende de energia de geradores a óleo. Se cada consumidor pagar 3 centavos mais por quilowatt-hora ou comprar lâmpadas mais eficientes ou tiver um carro menor, é possível chegarmos a um grande resultado. O custo de não se fazer um gerenciamento ambiental eficiente acaba gerando um impacto econômico para os países.
 
ABr: O Banco Mundial pode ser um ator importante para levantar recursos?
Steiner: O Banco Mundial é uma das instituições-chave que a comunidade mundial possui para colaborar no financiamento de questões relacionadas ao desenvolvimento. Mas o banco tem sido lento em responder aos desafios das transformações energéticas para uma economia de baixa emissão de carbono. Até porque ele depende das demandas dos governos por este tipo de investimento.
 
ABr: A pressão dos países ricos sobre os mais pobres pode gerar resultados?
Steiner: Os países ricos não podem pressionar muito, pois a maior responsabilidade nas mudanças climáticas é deles próprios. Eles inclusive reconhecem que têm de mudar seus padrões de consumo energético e a quantidade de CO2 [dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito estufa] lançado na atmosfera. E esta é uma grande mudança de atitude. Quatro anos atrás, a primeira rodada do Tratado de Quioto previa cortes muito pequenos. Hoje, em países como Grã-Bretanha, Alemanha e Japão, já se fala em reduções de até 50% em emissões de CO2 nos próximos 20 ou 30 anos. Isto é quase uma terceira revolução industrial. Nós estamos mudando os fundamentos energéticos da nossa economia moderna. Mas para que isso aconteça estes países precisam da cooperação das economias em desenvolvimento. Sem China, Índia e os países em desenvolvimento, para haver redução de emissões de CO2, não há solução para as mudanças climáticas. Isso significa que nós dependemos um do outro, muito mais hoje, para resolver este problema ambiental global, do que qualquer outra questão na história da humanidade. Por isso é que o meio ambiente alcançou o topo das agendas internacionais, porque sem consenso, não há solução, seja você um norte-americano ou europeu rico, ou um indiano ou brasileiro pobre. As mudanças climáticas já estão gerando impacto sobre as populações e as economias em toda parte.

Solução para melhorar área ambiental da ONU não é clara, diz Steiner
 
 Nesta segunda parte da entrevista à Agência Brasil, o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, comenta outro assunto que se destacou na Reunião Ministerial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável: a criação de um novo organismo internacional para tratar das questões ambientais na Organização das Nações Unidas (ONU).
Há países que pedem a substituição do Pnuma por outro organismo, e outros que sugerem seu fortalecimento. No evento da semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apresentou a proposta brasileira, que, segundo o ministério, é intermediária. Para o diretor do programa da ONU, a necessidade de mudança é clara, mas a solução não.
Achim Steiner elogia o trabalho brasileiro para reduzir o desmatamento da Amazônia, mas alerta: nenhum país está fazendo o suficiente, pois muitas espécies e ecossistemas estão sendo perdidos. No Brasil, o Pnuma atua em pelo menos 30 projetos.
 
Agência Brasil: É melhor criar um novo organismo junto à ONU para a proteção ao meio ambiente ou simplesmente reforçar o Pnuma?
Achim Steiner: Praticamente todos os países concordam que a arquitetura atual nas Nações Unidas para a existência de uma governança ambiental global não é mais eficiente para lidar com os grandes problemas ambientais. Mas o que ainda não está claro é qual a melhor maneira de reformar o sistema. Não basta simplesmente fazer uma nova organização, se ela não tiver dinheiro ou autoridade política. Mas se essa organização for o resultado de mais recursos financeiros, maior autoridade em questões ambientais e maior vontade dos governos em colaborar, então poderá ser um veículo mais eficiente.
 
Agência Brasil: Qual é o orçamento atual do programa da ONU?
Steiner: O orçamento do Pnuma é de US$ 60 milhões por ano, para as funções básicas, e mais US$ 55 milhões para investir em pequenos projetos ao redor do mundo. Isto significa que nós temos um orçamento muito limitado para todas as tarefas globais ligadas ao meio ambiente, para ajudar 190 nações a lidar com negociações internacionais em tratados ambientais, questões de mudança climática, biodiversidade e degradação de terras. Esse orçamento significa que os governos ainda não estão encarando seriamente o papel do Pnuma.
 
Agência Brasil: Como o Pnuma avalia os esforços do Brasil em lidar com os problemas ambientais?
Steiner: Se você olhar pela perspectiva ecológica, nenhum país do mundo está fazendo o suficiente. Nós estamos perdendo espécies e destruindo ecossistemas que não podem ser trazidos de volta. Mas o que eu sinto no Brasil, nos últimos anos, é que há uma consciência pública maior do que o país está perdendo por não proteger o seu meio ambiente mais ativamente. No caso da Amazônia, o governo desenvolveu um plano interministerial que se traduziu na redução do desmatamento, em uma demonstração clara do que os governos podem fazer se tiverem vontade política. A habilidade brasileira em lidar com problemas ambientais é hoje maior do que no passado, institucionalmente e profissionalmente. Mas o debate público ainda deve ser impulsionado mais, pois se as pessoas nas ruas se interessarem pelo assunto, os políticos também o farão. E todos os progressos sociais vêm da pressão, do interesse e do debate públicos.

 (Por Vladimir Platonow, Agência Brasil, 10/09/2007)

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