O Diretório Acadêmico Estudantil (DCE) e o Núcleo de Economia Alternativa, entre outras entidades ligadas à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tentam barrar pela segunda vez uma tentativa de aproximação da Aracruz Celulose com a universidade. Em março deste ano alunos e professores contrários aos plantios de eucalipto no Pampa, conseguiram barrar junto ao Conselho Universitário da UFRGS, um protocolo de intenções firmado entre a empresa e o Curso de Agronomia. Na ocasião elaboraram um parecer contrário à parceria e, após
protesto no prédio da reitoria, negociaram com o reitor a retirada do assunto da pauta do conselho. “Ampliamos o debate formando uma frente contrária com o apoio de movimentos sociais como a Via Campesina”, lembra Eduardo Luís Ruppenthal, do DCE e Instinto Coletivo.
O front de batalha agora é o Centro de Biotecnologia, que faz parte do Instituto de Biociências, justamente onde se concentra o maior grupo de opositores das papeleiras. Ruppenthal conta que a proposta de convênio com o centro foi descoberta na sexta-feira (31/08) quando um dos membros do DCE teve acesso a pauta da próxima reunião do conselho. Depois de pedir vistas ao processo, o grupo tem agora, 10 dias a contar de sexta-feira para apresentar seus argumentos. “Vamos levantar argumentos científicos para barrar a Aracruz na universidade novamente”, declara o estudante de Licenciatura em Biologia.
De acordo com ele, trata-se de uma tentativa da empresa de utilizar os recursos humanos e físicos da universidade pública para benefício do setor privado. “Além disso, fica claro o sentido do uso do conhecimento produzido para a destruição e homogeneização dos nossos ecossistemas”, afirma.
O ambientalista Caio Lustosa vê na intenção da Aracruz, “uma tentativa de aumentar a escalada de cooptação”. Segundo ele, essa estratégia incluiria não apenas as universidades, mas também a mídia e órgãos públicos como a Fepam. “Essa entrada da Aracruz é muito ruim porque a universidade não pode ser um balcão de negócios”, critica. Lustosa argumenta ainda que espera uma reação do movimento estudantil e da sociedade em geral para impedir o avanço dessa proposta dentro da UFRGS.
Uma voz mais moderada na discussão é a do professor do Instituto de Biociências da UFRGS e membro da CTNBio na área de Meio Ambiente, Paulo Brack. Ele destaca a falta de estrutura e condições financeiras da universidade e defende a necessidade de, pelo menos, debater a proposta da Aracruz. “Há excelentes trabalhos e pesquisadores lá (no instituto), porém vejo que a universidade tem que pensar em sua sustentabilidade”, ressalta. Para aceitar discutir o projeto da empresa, Brack faz uma exigência. “Ela teria de fazer um mea-culpa no episódio do Zoneamento da Silvicultura”. O pesquisador recorda que as papeleiras foram as culpadas pela demissão da então secretária Vera Calegaro. “Levou muito tempo para termos alguém verdadeiramente identificado com o movimento ambientalista”, lamenta. Ainda sobre o zoneamento, Brack lembra que as empresas de celulose desacreditaram o documento produzido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e que teve a participação de vários pesquisadores da UFRGS, além da sua própria. “E como agora eles querem apoiar nossos projetos?”, questiona.
O convênio
O convênio a ser celebrado entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) com a co-financiadora Aracruz Celulose S.A., tem como executora a Universidade Católica de Brasília, e como co-executores a Universidade Federal de Viçosa e a UFRGS, através do Centro de Biotecnologia, com o objetivo da transferência de recursos financeiros da Finep à Funarbe para a execução de um projeto intitulado "Uso da biotecnologia para a seleção e avaliação de genes de eucalipto envolvidos na qualidade da madeira e produção de biomassa". O convênio prevê ainda um Termo de Compromisso para regulamentar as condições de sigilo quanto às informações tecnológicas aportadas pelos participantes geradas pelos mesmos no projeto e estabelecer os seus direitos quanto à titularidade, a comercialização e o uso da propriedade intelectual resultando do projeto.
(Por Carlos Matsubara, Ambiente JÁ, 10/09/2007)