Os furacões Dean, Felix e Henriette deixara, em 15 dias, dezenas de mortos e prejuízos econômicos milionários na faixa tropical da América, que podem se multiplicar com os cinco grandes ciclones que se formariam no que resta da temporada. Os cientistas dizem que este período, que começa em junho e termina em novembro, rompe parâmetros ao registrar com intervalo muito pequeno dois furacões de categoria máxima: Dean, que atingiu o México no final de agosto, e Félix, que na semana passada destruiu a parte norte da Nicarágua.
A Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, havia previsto que em todo o período seriam produzidos no oceano Atlântico cinco furacões de categoria superior a 3 na escala de Saffir-Simpson, que classifica as tempestades tropicais de acordo com a intensidade de seus ventos, enquanto a média histórica é de 2,4 por temporada. O que os pesquisadores não puderam nem mesmo suspeitar foi que na metade do período seriam registrados dois consecutivos, Dean e Félix, de categoria cinco, a máxima, e que tocariam a terra com essa potência. Esses furacões já estão entre os cinco mais intensos desde que se começou a registrar os ciclones, em 1851.
Em uma atualização de seus prognósticos, os pesquisadores da Universidade do Colorado indicaram que até novembro outros cinco furacões podem ser formados no Atlântico, e três deles seriam de categoria três ou superior. Os doutores René Lobato e Ricardo Prieto, especialistas em furacões do estatal Instituto Mexicano de Tecnologia da Água, disseram à IPS que esses números deveriam ser considerados “com reserva’. As previsões desta universidade se baseiam em estatísticas que consideram as características médias do oceano e da atmosfera, mas perdem sustentação se comparados com “temporadas anômalas” com a dos anos de 1997 e 2005, explicaram. Estamos na metade da temporada atual, e pode-se esperar a formação de vários outros furacões, que podem ser cinco, mais ou menos, acrescentaram.
William Gray, professor de ciências atmosféricas na Universidade do Colarado, aventurou-se a definir que a temporada 2007 mostra, definitivamente, uma atividade “superior ao normal”, mas que não chegará a ser “hiperativa” como as de 1995, 2004 e 2005. Neste último ano, formaram-se 28 tempestades tropicais e 15 delas atingiram o status de furacões, como os devastadores Stan e Katrina. Em 2006, a situação foi diferente, com apenas cinco furacões, de baixa periculosidade. A temporada de tempestades este ano começou de forma incomum no dia 9 de maio, um mês antes do estabelecido pelos cientistas, com a formação da tempestade subtropical Andréa no Atlântico.
Os prejuízos maiores foram sofridos pela Nicarágua, onde Félix deixou, pelo menos, cem mortos. O México ficou em segundo lugar, com 11 mortes causadas pelo Henriette, no oceano Pacifico, e pelo Dean, que também deixou nove mortos no Haiti, dois em Dominica, seis na República Dominicana, um em Santa Lucía e três na Jamaica. A formação de furacões obedece a uma conjunção de fatores: temperatura dos oceanos em latitudes próximas aos trópicos superior aos 27/28 graus, que gera evaporação e condensação, e um centro de baixa pressão, além da contribuição de ar mais frio em camadas superiores da atmosfera.
Segundo o cientista mexicano Mario Molina, prêmio Nobel de Química de 1995, a intensidade e a freqüência dos furacões estão relacionadas com a mudança climática provocada pelo aquecimento global, que a maioria dos especialistas vinculam à excessiva emissão de gases causadores do efeito estufa, entre outras atividades humanas. O número e a potência dos furacões continuarão aumentando nas próximas décadas, a menos que “todo o planeta adote ações” para enfrentar a mudança climática, advertiu Molina. Lobato e Prieto não estão totalmente de acordo com essa afirmação.
Em um texto elaborado para a IPS, ambos afirmam que as tempestades e seus irmãos maiores, os furacões, “existem no planeta desde épocas pré-industriais, por isso não são gerados pela atividade humana, mas pelos processos térmicos e dinâmicos da atmosfera, do continente e dos oceanos”. Acrescentam que “estes processos não registram um comportamento constante, o que tem como conseqüência uma variação natural no número e na intensidade dos ciclones tropicais de ano para ano”. “Ainda não é possível determinar o efeito preciso da mudança climática na temporada de ciclones, e são necessários estudos mais detalhados antes de fazer afirmações categóricas”, ressaltaram.
Os dois especialistas mexicanos lamentaram que até agora todas as tentativas para enfraquecer os ciclones de forma artificial tenham fracassado. Nos últimos 40 anos se testou em diferentes laboratórios do mundo métodos que incluem o uso de um liquido para evitar evaporação da água marinha que alimenta a formação da tempestade, a liberação em seu entorno e o uso de iodeto de prata, único procedimento testado em um cenário real. Mas, nada funcionou.
“Devido a este fracasso, a tendência atual é para melhorar as medidas de prevenção, que incluem os sistemas de alerta, as evacuações em massa, compra de seguros para a recuperação das perdas, verbas orçamentárias pré-definidas para a ajuda e reconstrução de comunidades afetadas”, recordaram os especialistas mexicanos. Além das possibilidades de atacar os furacões com algum método, as medidas em estudo “tiveram êxito e esperamos que continuem melhorando no curto prazo”, afirmaram Lobato e Prieto.
(Por Diego Cevallos,
IPS, 10/09/2007)