A Organização das Nações Unidas convocou uma reunião de cúpula extraordinária para debater a mudança climática, em meio a uma crescente preocupação mundial pelo ritmo lento das negociações internacionais sobre essa questão. Considerando que a mudança climática tem enormes implicações para a economia mundial e o desenvolvimento internacional, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convidou todos os chefes de Estado a examinarem o assunto em Nova Yorque. A reunião, que, provavelmente, terá a participação de mais de cem representantes de alto nível, entre eles presidentes e primeiros-ministros, acontecerá um dia antes da abertura da sessão anual da Assembléia Geral, no próximo dia 25.
“Não é apenas um problema ambiental. A mudança climática também é um problema de desenvolvimento e um problema político”, disse à imprensa Richard Kinley, subsecretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Kinley explicou que, ao convocar a reunião, Ban demonstra “preocupação” com a possibilidade de a próxima conferência das partes da Convenção, marcada para dezembro, na ilha de Bali (Indonésia) “não tenha resultados positivos”, porque as negociações não avançaram “com a rapidez necessária”.
O objetivo da reunião em Nova Yorque é incentivar a conferência em Bali a atingir um acordo sobre reduções nas emissões de gases causadores do efeito estufa para depois de 2012, ano em que expira o Protocolo de Kyoto. Este documento da Convenção Marco, assinado em 1997 e em vigor desde 2005, determina aos países industrializados signatários reduzir suas emissões desses gases em 5%, em média, até 2012, com relação aos valores de 1990. Entre 27 e 31 de agosto foi realizada em Viena uma nova rodada de conversações entre representantes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que não chegou a um acordo concreto.
A maioria das nações industrializadas rejeita o estabelecimento de pautas rígidas para 2020 em matéria de redução das emissões. Um texto que circulou na reunião de Viena exortava as nações industrializadas a se “guiarem” pela necessidade de reduzir as emissões entre 25% e 40% abaixo dos níveis de 1990, em um esforço de longo prazo contra o aquecimento do planeta. Muitos países em desenvolvimento, como China e Índia, querem que as nações industrializadas usem o ambicioso espectro de 35% a 40% para orientar as futuras negociações que levem a uma dependência menor dos combustíveis fósseis, responsabilizados pelo aquecimento global.
Consultado sobre o fracasso de Viena, Kinley disse sentir-se “animado com o resultado da reunião”, acrescentando que parecia “haver um acordo geral sobre os componentes que algum futuro processo climático conteria. O fato de se olhar um espectro de redução entre 25% e 40% é animador. Foi uma corrente de ar fresco”, disse o subsecretário. Entretanto, os ambientalistas que acompanharam as conversações de Viena têm um ponto de vista muito diferente. Para eles, o contínuo fracasso na hora de alcançar um acordo é desastroso para o futuro da humanidade.
“O espectro de 25% a 40% é necessário para ajudar a evitar a perigosa mudança climática, o aumento dos níveis domar, o derretimento de geleiras e termpestades devastadoras”, disse Stephanie Tunmore, da organização Greenpeace Internacional. Em junho, um informe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) considerou provável que o futuro de “centenas de milhões de pessoas” seja afetado pela graduaç redução das camadas de neve e gelo.
De acordo como estudo “Global Outlooik for Ice and Snow” (Perspectiva Global para Gelo e Neve), o derretimento de geleiras e corpos de água gelada em todo o mundo faz com que a terra e os oceanos polares absorvam mais calor solar, o que, por sua vez, acelera a mudança climática. Este ano. O Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), rede vinculada à ONU e com mais de mil cientistas, divulgou três volumosos informes. Neles adverte sobre o aumento do nível do mar e as inundações devastadoras, uma generalizada escassez de alimentos e a extinção de muitas espécies de animais e plantas, se não se agir de maneira drástica.
Ban Ki-moon, que disse reiteradamente que a mudança climática é uma de suas prioridades, também convidou representantes da sociedade civil internacional e empresas privadas a participarem da conferência de um dia em Nova Yorque. Segundo funcionários da ONU, mais de dois mil representantes de organizações não-governamentais de mais de 80 países participaram na semana passada, na sede das Nações Unidas, do encontro “Mudança climática: Como afeta a todos nós”.
Enquanto isso, os Estados Unidos, que retiraram sua assinatura do Protocolo de Kyoto, convocaram representantes de 126 importantes economias do mundo para uma conferência à parte sobre mudança climática que acontecerá nos próximos dias 27 e 28 em Washington. Sobre os vínculos entre a conferência da ONU e a realizada pelo governo norte-americano, Kinley disse que ambas “seguem na mesma direção, para uma reconhecida necessidade de um acordo mais exaustivo sobre mudança climática em 2009 e 2010”.
Para Kinley, as duas reuniões “são complementares”, apoiando-se mutuamente nos esforços para enfrentar a mudança climática. Há pouco tempo o governo de George W. Bush propôs incorporar os Estados Unidos a um processo pós-Kyoto em 2012, com planos visando abordar a mudança climática. Mas, como destacaram muitos críticos, isso só se concretizará depois que o presidente Bush deixar a Casa Branca.
(Por Haider Rizvi,
IPS, 10/09/2007)