Há intenso noticiário sobre o desmatamento da Mata Atlântica. Agora, surge no Rio de Janeiro um projeto-lei para implantação da atividade de silvicultura econômica no estado. Isto envolve interesses de transnacionais estrangeiras que têm controle sobre os meios de comunicação e sonegam informações produzindo intensa propaganda com frases retóricas que dão a indústria, no caso a de papel, uma imagem simpática muito distorcida da realidade. Defendem o “progresso econômico” para quem?
Usam uma estratégia sentimental “coitado do mico-leão dourado, macaquinho tão bonitinho, que vive na Mata Atlântica e está em extinção. Colocam os brasileiros numa situação de ”quase pecado“, estigmatizados como destruidores das florestas acabando com o habitat do mico-leão. O que acontece? Derrubada a mata nativa, em seu lugar plantam eucaliptos para atender à voracidade da indústria transnacional de papel. É o deserto verde. Criaram a maior área de cultura de eucalipto no mundo.
Eucalipto, árvore da família das Mirtáceas não é nativa do Brasil, tem origem principal na Austrália. Inicialmente foi introduzida com a idéia de ser plantada em áreas alagadas para secar o terreno. É uma árvore muito consumidora de água, 360 litros por dia. Os que defendem a planta, dizem que ela só consome muita água na fase de crescimento. Nas monoculturas sofre corte em 6 anos e nova árvore brota, portanto, elas sempre estão crescendo e consumindo muita água. Por isto, nas regiões das plantações os lençóis freáticos são afetados e a realimentação dos mananciais fica problemática.
A maior floresta cultivada no mundo, de eucaliptos, supera a área plantada com arroz, feijão e café.
Como monocultura é difícil o convívio com outras espécies vegetais graças aos efeitos tóxicos de substâncias emitidas pela árvore (alelopatia) Desaparecem pássaros, mamíferos, plantas. Florestas têm que ter biodiversidade, senão fica muda, sem os sons da natureza.
Olhe o desastre quanto aos empregos:Quinze hectares com plantação de café emprega 30 pessoas, de fruticultura, no Estado do Rio de Janeiro, dez. O cultivo de eucalipto, com a mecanização em andamento, só uma pessoa para 180 hectares. Há trator com uma garra que prende, arranca a árvore, coloca-a na horizontal, serrando-a em três pedaços que cabem no caminhão. Isto desmonta toda a falsa propaganda de criação de empregos.
O eucalipto toma 56 municípios do Espírito Santo, dezessete de Minas Gerais e treze da Bahia. No sul, especialmente Rio Grande do Sul, avança em passos largos. Quantos municípios teremos invadidos pela monocultura produtora de desertos no Estado do Rio, em função das leis “de facilidades” para as transnacionais?
A propaganda, entretanto, corre solta. Vai haver “desenvolvimento” econômico, desenvolvimento sustentável, oportunidade de empregos, tudo bem preparado por profissionais competentes mas enganosos.
Na vinda da plantação de eucalipto não há nenhuma preocupação com os moradores antigos nem com os tradicionais. Não há nenhuma produção de alimentos. A prioridade total é para atender aos acionistas da empresa (transnacional estrangeira) exploradora. Isto fica provado com o procedimento adotado pelas transnacionais denominado ebidta (sigla do inglês Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) ou seja, salário antes do interesse, dos impostos, da depreciação e da amortização. Um fluxo de dinheiro que a companhia opera baseado na indicação de renda da empresa.
A divulgação do seu resultado em 2004 (Aracruz/Veracruz) revela um lucro de dois bilhões e gaba ter conseguido, em ebidta, 491 milhões em lugar dos 450 milhões prometidos aos acionistas estrangeiros. Pior que tudo, noventa e cinco por cento da produção de pasta de celulose é exportada com isenção de impostos. Riqueza produzida no Brasil sem deixar nada para o governo e os brasileiros.
Se a monocultura, em especial do eucalipto tem conseqüências sérias para o meio ambiente o que esperar com as sementes transgênicas e as árvores geneticamente modificadas?
Da redação de Tatiana Merlino, Brasil de Fato, temos o alerta de Anne Petermann co-diretora do Global Justice Ecology Project presente num seminário sobre impactos de monocultura do eucalipto realizado de 19 a 20 de abril na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema, SP, que relata os planos da Arbogen de introdução de árvores geneticamente modificadas (GM) nas plantações de monocultura. A pesquisadora denuncia que “essas árvores têm o potencial de mudar radicalmente e permanentemente as florestas do mundo”
“Análise das principais pesquisas sobre árvores geneticamente modificadas que estão sendo desenvolvidas atualmente mostra que elas têm os seguintes objetivos: resistência a herbicidas, insetos, esterilidade de árvores, menor conteúdo de lignina, maior conteúdo de celulose, resistência ao frio. No entanto, nenhuma destas características pode ser vista como benéfica para a diversidade biológica global das florestas, que necessita de espécies de flora, insetos, flores e sementes, madeira resistente a fortes ventos, árvores e plantas adaptadas a ambientes locais, solos intactos e água suficiente.”
O grande problema: “a tendência das plantações de monocultura que têm substituído florestas nativas no mundo inteiro”. “Árvores geneticamente modificadas não são benéficas”.
Um fator preocupante: “As pesquisas fazem projeções para 10, 15 anos no máximo, nós não temos como saber como essas árvores estarão em 20,30,50 ou 100 anos”. “As modificações genéticas estão sendo desenvolvidas por motivos industriais e não ambientais” - e acrescento, nenhuma preocupação com o futuro e o bem estar das populações.
Porque acontecem estas “facilidades” para todos os pleitos, demandas, das transnacionais? Seria o desconhecimento do assunto que não é divulgado pela grande imprensa, ou teria algo relacionado ao financiamento de campanha política?
A indignação e a preocupação sobem a níveis altíssimos quando se lê o artigo de Nagib Nassar, professor titular de genética da UnB, enviado ao jornal da Ciência: Intitulado “Transgênicos Bt, o caminho para a catástrofe”. “Estamos destruindo o nosso meio ambiente e ecossistemas, e andando cegos a uma catástrofe que não tem fim, ao ceder à pressão das transnacionais produtoras de transgênicos Bt”
Por que esta afirmação tão patética, trágica?As abelhas estão sumindo. As abelhas estão acabando, desaparecendo! Estamos com as colméias vazias! Reclamam os apicultores americanos em todos os estados agrícolas do pais; são 24 estados onde se concentram atividades agrícolas e se plantam as culturas transgênicas Bt”. “Os cientistas chamam o caso de Colapso Desordenado das Colméias (CCD) atribuindo, principalmente, à intoxicação oriunda da toxina de plantas Bt”. (milho, algodão, mostarda e alguma horticultura).
“Grande parte das culturas são alogamas, que dependem da polinização por insetos para formar seus frutos” Nos Estados Unidos algumas plantações alugam colméias com este fim. “Os insetos polinizadores mais ativos são as abelhas. Mas outros também correm perigo de se contaminarem” durante suas visitas às flores de plantas modificadas (Bt)”
O eucalipto não produz fruto comestível, mas é rico em pólen, portanto, abelha é dos poucos insetos que podem sobreviver na monocultura (não se observa preocupação neste sentido pelos industriais do papel).
Querem facilitar as plantações de eucalipto provavelmente com árvores modificadas geneticamente. Haverá um risco enorme no aumento do sumiço das abelhas.
Como fizeram com a soja, as transnacionais “exploradoras” estão contrabandeando, pelo sul, sementes de milho transgênico que são oferecidas de graça aos agricultores do Paraná com a mesma postura enganosa do lucro sem pensar no futuro.
Os apicultores americanos reclamam que o principal causador do sumiço das abelhas é o milho transgênico. Nós, no Brasil além de, irresponsavelmente, termos o governo brasileiro autorizando o transgênico do milho e algodão, abrimos caminhos facilitadores para a monocultura do eucalipto o que, potencialmente, tem a possibilidade de aumentar o “sumiço das abelhas”.
Einstein, em certa época, afirmou que se as abelhas sumirem a humanidade acaba em quatro anos. (como serão produzidos os alimentos?). É o surrealismo em grau máximo! Seguidas decisões com total desprezo por construções refletidas e total perda de encadeamento lógico.
Não há absolutamente nenhuma vantagem em facilitar e permitir a introdução em larga escala dos organismos modificados (têm que ser estudados por mais tempo) e as monoculturas nas mãos das transnacionais voltadas para o lucro a qualquer preço, indiferentes ao meio ambiente, à humanidade e ao futuro.
Vejam a seqüência do que acontece!As transnacionais têm facilidades, incentivos, vias de acesso feitas pelo governo, energia subsidiada.
Destroem a natureza.
Não produzem alimentos.
Deslocam os moradores.
Acabam com o seu sistema de sobrevivência.
Criam muito pouco emprego.
Garantem lucros antecipados para os acionistas.
Sai riqueza sob a forma de dinheiro (lucros) para nós fica deserto verde, empobrecimento e miséria.
O nosso Brasil tem que ser a Nação do século XXI, lugar para se viver bem e criar os filhos com dignidade.
Alerta. Não plantem transgênicos
Não plantem eucaliptos
Plantem Alimentos.
(Por Rui Nogueira (*),
Ambiente Brasil, 05/09/2007)
* É médico, pesquisador e escritor.
Rui.sol@ambr.com.br
Portal: www.nacaodosol.com.br