Campanha nacional incentiva participação da sociedade no combate ao comércio ilegal de animais silvestres. Responsável por devastação da fauna, crime é dos mais rentáveisO veterinário Daniel Vilela cuida de tucano no espaço do Ibama destinado à recuperação de bichos apreendidos em estado precário de saúde
Com o objetivo de sensibilizar e conscientizar a população sobre os danos do comércio ilegal de animais silvestres em Minas Gerais e o impacto na biodiversidade, o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), em parceria com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e a Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero), inaugura nesta segunda, no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a exposição sobre o comércio ilegal da fauna silvestre: Humano e selvagem – o limite da distância.
Na mostra, fotografias de animais, equipamentos e objetos usados por caçadores e traficantes no transporte clandestino dos bichos, apreendidos pela Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) em operações de rotina. O público poderá assistir a vídeos ambientais, tirar dúvidas sobre espécies da fauna e da flora do estado e receber material educativo, como folhetos e folders.
A exposição faz parte da Campanha Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres nos aeroportos brasileiros e será montada no saguão principal do terminal de Confins, o quinto a receber a campanha, que fica em cartaz até 14 de outubro. Na seqüência, a mostra vai para Recife, Salvador e Curitiba.
De acordo com o gerente de Proteção à Fauna, Flora e Bioprospecção do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Miguel Ribon Júnior, Minas tem uma rica biodiversidade, cobiçada pelos traficantes de animais silvestres e, em muitos casos, os aeroportos são usados para esse tipo de atividade criminosa. “A exposição é uma ferramenta importante para o combate do comércio ilegal de animais silvestres, pois é um trabalho que envolve educação ambiental, participação e colaboração dos diversos segmentos da sociedade”, diz.
ROTAS
Em Minas Gerais, as principais rotas do tráfico de animais estão nas divisas com outros estados, principalmente no Triângulo Mineiro, nas regiões Nordeste e Noroeste e na Zona da Mata. De acordo com o Diagnóstico do tráfico de animais silvestres na mata atlântica – corredores central e Serra do Mar, elaborado pela Renctas, organização não-governamental sem fins lucrativos, que trabalha com esse tipo de levantamento, as espécies de mamíferos mais apreendidas em Minas são gambás (30,8%), sagüis-de-tufo-branco (15,7%), capivaras (12,8%) e tatus (10,1%). Entre as aves, o canário-da-terra representa 35,3% das espécies apreendidas, seguido pelos pássaros do gênero Sporophila e pelo trinca-ferro, com 22,5% e 15,3%, respectivamente. Os répteis mais cobiçados pelo tráfico são o jabuti-piranga (63%), seguido pela cascavel (14,5%) e jararaca (7,7%).
“A lógica do tráfico é cruel: quanto mais ameaçada de extinção for a espécie, maior é o valor que ela alcança no mercado ilegal”, afirma o coordenador-executivo da Renctas, Raulff Lima. Segundo ele, a captura de animais para comercialização ilegal é uma das maiores agressões à biodiversidade, colocando espécies brasileiras nativas sob risco de desaparecimento.
Das mais de 300 espécies de aves recebidas no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, em BH, a maioria é de canários-da-terra (Sicalis flaveola) com 19% dos espécimes. A porcentagem do trinca-ferro (Saltator similis) foi de 12% e papa-capim (Sporophila nigricollis), 7%. “As aves cantantes são as mais cobiçadas. Tanto o canário-da-terra quanto o trinca-ferro têm grande carisma e canto melodioso. Todos os anos, os dois estão em primeiro lugar em apreensões”, diz o veterinário do Ibama Daniel Vilela. O mico-estrela (Callithrix penicillata) é a espécie de mamífero mais recebida, com 42%, seguida do gambá (Didelphis albiventris), com 21% do total, e o macaco-prego (Cebus sp), com 7%. Dos répteis recebidos no Cetas, os jabutis (Geochelone sp) lideraram a lista, com 57% dos dos animais da espécie apreendidos ou levados voluntariamente, enquanto que os tigres-dágua (Trachemys sp) e iguanas (Iguana iguana) representaram 29% e 4%, respectivamente.
Por Cristiana Andrade,
Estado de Minas, 09/09/2007)