A Organização das Nações Unidas (ONU) já começou a articulação para definir novas estratégias globais de enfrentamento do aquecimento global, antecipando as discussões sobre a nova etapa do Tratado de Quioto, que deverá estabelecer regras para emissão de gases de efeito estufa para o período após 2012. Um dos principais desafios diz respeito ao cumprimento de metas de redução pelos países desenvolvidos – 35 ratificaram o protocolo – e a possibilidade de estender o compromisso a nações em desenvolvimento.
Para o pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre e para o diretor do Departamento de Meio Ambiente e Políticas Especiais do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), o ministro Luiz Alberto Figueiredo, a questão deve ser avaliada com cuidado, porque os países desenvolvidos e em desenvolvimento têm responsabilidades diferentes sobre o problema do aquecimento global.
Embora se manifeste favoravelmente à adoção de metas também pelas nações em desenvolvimento, Nobre faz uma ressalva: “Os países desenvolvidos emitiram cerca de 65% de todos os gases que já foram emitidos, eles têm uma enorme responsabilidade histórica”. Ele afirma que, nesses países, a emissão – principalmente pela queima de combustíveis fósseis – está muito associada ao crescimento econômico, porque “desenvolvimento e utilização de energia são coisas que andam juntas”.
Para Figueiredo, “quem poluiu tem a obrigação de despoluir”, e por isso o grau de responsabilidade e comprometimento dos países desenvolvidos deve ser maior. “A convenção [da ONU] reconhece que nos países em desenvolvimento a prioridade tem de ser o combate à miséria e à pobreza, portanto, quem ainda têm de crescer de forma mais rápida para resolver esses problemas têm obrigações diferentes, o que não quer dizer que isso seja uma licença para poluir”.
Segundo ele, o Brasil – que não possui metas de redução de emissão – tem uma atuação dinâmica no enfrentamento do aquecimento global por causa da utilização de matriz energética limpa, com a utilização de hidrelétricas para geração de energia e o estímulo aos biocombustíveis.
O pesquisador Carlos Nobre destaca que a redução do desflorestamento também é uma forma de o Brasil contribuir com os esforços mundiais pela redução de emissões de gases do efeito estufa. Dados do Inpe mostram que o desmatamento na Amazônia foi reduzido 25,9% de agosto de 2006 a agosto de 2007 e que a tendência para o próximo ano também é de queda.
O país confirmou participação, no fim do mês, de dois eventos com foco nas mudanças climáticas: uma reunião de alto nível da Organização das Nações Unidas (ONU) e um encontro convocado pelo presidente dos Estados Unidos.
Na avaliação do professor Paulo Artaxo, também do IPCC, os países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, deveriam adotar metas para redução de emissões. Ele também sugere que as pessoas usem menos carros e comprem menos, para colaborar no combate ao aquecimento global.
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Agência Brasil, 10/09/2007)