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educação e sustentabilidade onu
2007-09-10
“O clima é domesticável”? Esta foi uma das perguntas que encerraram a exposição muito aplaudida "Educação para a sustentabilidade", apresentada pelo professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do projeto Atlas Ambiental de Porto Alegre, Rualdo Menegat, durante o Simpósio "A universidade frente aos desafios da sustentabilidade", na quarta-feira (05/09), no teatro do prédio 40 da Puc/RS.

“Nós, os urbanos, estranhamos cada vez mais a natureza. As cidades crescem num ritmo assombroso, invadindo as áreas verdes, rios e lagos, e os moradores que ali chegam perdem a identidade cultural que os une no grande labirinto, num imenso tabuleiro sem fim que ela (cidade) se transformou. Ela deixa de ser uma máquina de culturalização, para se tornar uma máquina de barbárie”, diagnostica o professor.

Protocolo de compromisso
Reunindo professores e especialistas em meio ambiente, o evento, em sua quarta edição, discutiu questões como gestão de resíduos, mudanças climáticas, produção e consumo sustentável, além de debater as pesquisas, o ensino e as atividades de extensão oferecidas pelas universidades brasileiras nestas áreas. Durante o encontro foi assinado um protocolo de compromisso para a promoção de ações educativas em desenvolvimento sustentável. O documento foi firmado pelos reitores de nove instituições de ensino superior do Rio Grande do Sul e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Além da Puc/RS, assinaram o documento de cooperação as Universidades Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Vale do Rio do Sinos (Unisinos), de Caxias do Sul (UCS), Federal de Santa Maria (UFSM), de Santa Cruz do Sul (Unisc), do Vale do Taquari (Univates) e o Centro Universitário Feevale.

Pelo protocolo, as instituições de ensino e a Unesco devem divulgar e promover os compromissos da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005/2014) das Nações Unidas. Eles visam estimular e apoiar as iniciativas educacionais que estimulem o equilíbrio entre desenvolvimento econômico, justiça social e sustetabilidade ecológica, promovendo uma nova ética global. Como exemplo concreto neste sentido, a Puc/RS criou neste ano a disciplina eletiva de Ética Ambiental, disponível a todos os cursos e que já conta com uma boa procura.

O doutor em Economia e Ciências Sociais e prof. da Ufrgs, Luis Felipe Nascimento, salientou a importância do ato e alertou os representantes das instituições para que não se acomodem diante do que foi conquistado. “Precisamos aumentar a nossa interação entre um simpósio e outro e agregar outras Universidades neste compromisso, para juntos termos mais força e, com isso, podermos realizar uma ação mais eficaz”.

Ainda durante o simpósio, os participantes realizaram atividades em grupos de trabalho sobre "Produção e consumo sustentável"; "Educação para a sustentabilidade"; "Gestão de Resíduos" e "Pegada ecológica das Universidades", que debateu e trocou experiências em cada umas dessas áreas, a fim de que as instituições de ensino superior tenham um melhor desempenho em prol da sustentabilidade. O resultado dos grupos de trabalho culminou com a elaboração de um documento final que indica possíveis soluções sobre educação ambiental a serem tomadas pelas Universidades. O material estará disponível no site do evento a partir da próxima semana. Do simpósio participaram em torno de 400 pessoas, entre estudantes, professores, comunidade acadêmica, ONG´s e interessados em geral.

Papel público
Segundo o diretor do Departamento de Licenciamento e Avaliação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Volney Zanardi Júnior, que representou o ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, é grande a demanda por profissionais com qualificação em gestão ambiental. “A academia tem um papel central na formação de profissionais capazes de gerir questões complexas. A destinação dos resíduos sólidos da empresa, por exemplo, a partir de políticas transversais e estratégicas articulando os seus diferentes setores. O mesmo se dá entre os Ministérios”, compara. “Precisamos atuar de tal modo que todos os Ministérios incorporem nossas ações; é quase impossível trabalhar sem o apoio dos outros órgãos e entidades”, enfatiza.

Durante sua intervenção, "O papel do poder público na promoção da sustentabilidade", Volney abordou os paradoxos do desenvolvimento sustentável. Entre eles tecnologia x culturas locais; crescimento econômico x limites ecológicos; interesses individuais x interesses coletivos; democracia x objetivos (ou interesses locais x benefícios nacionais); adaptabilidade x resistência e otimização x capacidade. “Não se trata de um processo pacífico. Faz-se necessária a demanda da sociedade (quando ela é madura e capaz) e uma legislação mais rigorosa”, salienta.

O representante do Ministério do Meio Ambiente trouxe dados importantes extraídos do último diagnóstico do IBGE em 2005. 60% dos municípios não têm Conselhos de Meio Ambiente, outros 82% não têm fontes de recursos financeiros específicos e 52% não tem legislação ambiental específica. “Há, de fato, uma baixa capacidade de implementação das políticas de sustentabilidade nas 3 esferas do governo (federal, estadual e municipal), principalmente num país como o Brasil que não tem tradição de planejamento,” completa.

Lentidão das instituições
Para o prof. Rualdo Menegat apesar do esforço das Universidades em promover políticas no ensino para capacitar cidadãos ecologicamente responsáveis, elas sofrem com a lentidão que caracteriza as grandes instituições. “As instituições são naturalmente lentas, porque são tradicionais, e muitas vezes não despertam para o uso de novas mídias, que são mais ágeis no avanço e na propagação de práticas de educação ambiental. Elas devem se aliar à comunicação para disseminar conhecimento e informação”, sugere.

Para o diretor do Instituto de Meio Ambiente da Pucrs (IMA) e coordenador da Comissão Organizadora do Simpósio, prof. Jorge Alberto Villwock, os principais desafios dos gestores de ensino superior para a total implantação da educação ambiental continuam sendo aqueles ligados às mais singelas mudanças de postura da comunidade acadêmica. “Ainda há muito a ser feito com relação à economia de energia, de água, de papel e com o uso de transportes coletivos, neste caso, o projeto do aeromóvel, veículo para a circulação dentro do campus, que não queima combustível fóssil, e por isso, é sustentável (ainda em fase de estudo e implementação)”.

Ele também admite que o tema costuma ser debatido com boa aceitação entre os cursos de Geociências, Engenharia e Arquitetura, por exemplo, mas não atinge a todas as áreas do saber. “Ainda precisamos avançar mais e extrapolar essas limitações, mas aí, realmente, a Universidade é mais lenta, porque ela precisa reeducar professores e alunos e isso leva tempo”, pondera.

(Adriana Agüero, especial para o Ambiente JÁ, 06/09/2007)

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