Os golfinhos do estuário do Sado não estão a resistir à poluição ambiental, nem ao stress provocado pelas embarcações de recreio, agravando a sua incapacidade de reprodução e de sobrevivência das crias. Nos últimos 20 anos, a única comunidade de golfinhos existente em Portugal baixou de 40 para os actuais 26, ameaçando--a de extinção.
A Quercus dirigiu já uma queixa ao comissário do Ambiente da União Europeia onde reclama fiscalização apertada para aquela zona. O presidente da associação ambientalista, Hélder Spínola, acusa o Estado de nunca ter tomado medidas com vista à conservação da comunidade "ao não regular e fiscalizar a área". A poluição do rio explica parte do fenómeno, porque os animais comem os alimentos contaminados.
A poluição acaba por passar para o leite das fêmeas em cerca de 80% dos animais. "No período da amamentação as crias são contaminadas e isso explica a fraca taxa de sobrevivência", explica Hélder Spínola. O cenário agrava-se durante os meses de Verão - a principal época de reprodução e acasalamento - com o elevado tráfego de embarcações de recreio que navegam na zona da península de Tróia.
"A velocidade, as acrobacias, o ruído das lanchas e das motas de água provocam stress nos golfinhos, o que perturba o seu bem--estar e altera o seu comportamento", acrescenta Maria João Fonseca, da Vertigem Azul, uma empresa que realiza passeios no Sado com observação de golfinhos. Maria João Fonseca entende que o Estado deveria "monitorizar os animais, o que já não é feito há quatro anos", além de "regulamentar a velocidade máxima permitida às embarcações nas áreas mais sensíveis do estuário."
Uma tarefa que compete à Reserva Natural do Estuário do Sado, cuja directora garante "estar tudo pensado". Contactada pelo DN, Maria João Burnay diz que o Plano de Ordenamento do Estuário entrou já em discussão pública, até 17 de Outubro, e vai limitar o acesso à navegação e regular as várias actividades náuticas, avançando ainda com um programa de monitorização dos golfinhos. "Vamos envolver neste trabalho o sector privado, associações e a Câmara de Setúbal."
Quanto à poluição, refere que vai ser necessário criar um plano para controlar a poluição no rio. Hélder Spínola receia ainda que a localização do novo cais onde os ferries vão atracar, previsto para as imediações da Soltróia, possa agravar o cenário, porque os barcos vão atravessar uma zona "ainda mais sensível" para os golfinhos, mas, por terem uma rota constante, "nem são a maior ameaça para os animais".
(Por ROBERTO DORES,
DN.Sapo, 09/09/2007)