Manifestação liderada pela Igreja Católica e que conta com o apoio de movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o Grito dos Excluídos vai ter como foco principal neste ano o apoio à campanha pela anulação do leilão que privatizou, em 1997, a Companhia Vale do Rio Doce, hoje a segunda maior mineradora do mundo.
Esta é a 13ª edição do Grito, que terá como lema "Isto não Vale: Queremos Participação no Destino da Nação". De acordo com a organização do movimento, os protestos deverão acontecer hoje em cerca de 3.000 pontos do país e reunir dezenas de milhares de pessoas. Em Aparecida (167 km de São Paulo), o mais tradicional local do protesto, são esperadas entre 50 mil e 80 mil pessoas.
"O grito é pela soberania da nação. Não estamos discutindo só a questão da Vale do Rio Doce. Trata-se de discutir o papel do Estado e do projeto de país que queremos. A nossa proposta é de construção de um projeto popular para o Brasil", disse um dos membros da coordenação nacional do movimento, Luiz Bassegio.
A exemplo do que aconteceu em 2000, quando movimentos populares organizaram o plebiscito informal sobre o pagamento da dívida externa brasileira, neste ano o Grito dos Excluídos também abrirá espaço para promover a consulta popular sobre quatro pontos: a reforma da previdência, a tarifa de energia elétrica, o uso pelo governo do superávit primário para pagamento da dívida e, o principal deles, a anulação do leilão da Vale do Rio Doce.
Bassegio diz que existem "motivações éticas, jurídicas e econômicas" para que os movimentos sociais e a população exija a reestatização da Vale, privatizada durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Segundo ele, a coordenação do Grito dos Excluídos avalia, entre outros pontos, que a empresa foi leiloada por um preço bastante inferior ao seu valor real e que a população deveria ter sido consultada antes sobre a venda da estatal.
"Não se trata de uma crítica direta ao governo Lula ou Fernando Henrique Cardoso. Nós estamos discutindo o papel que o Estado desenvolve. No caso da Vale, o Estado se prestou ao benefício do capital internacional e da burguesia brasileira, foi contrário ao interesse do povo. Trata-se, então, de uma crítica a um Estado que não atende aos interesses da grande maioria da população", disse.
Bassegio apontou ainda que, apesar de ser espaço para o plebiscito sobre a Vale, o Grito dos Excluídos fará, a exemplo de anos anteriores, críticas à política econômica do governo e a defesa de temas como a reforma agrária.
(Por Fábio Amato, Folha online, 07/09/2007)