Hoje as discussões ambientais estão na agenda do dia em razão da repercussão mundial dos violentos fenômenos naturais que têm dizimado populações inteiras, cujas causas os especialistas atribuem à mudança climática provocada pelo aquecimento do planeta. Mas nem sempre foi assim. Até bem pouco tempo atrás, falar de meio ambiente remetia apenas a um grupo que se dedicava a defender as florestas e algumas espécies de animais em extinção.
A sociedade via com muita simpatia a luta dos ambientalistas, mas mantinha-se à parte por considerar que estes assuntos eram distantes de seu dia-a-dia, afinal, questões como florestas, mico-leão dourado e macaco-prego não pertenciam ao seu cotidiano. Mais recentemente, quando o meio ambiente passou a ganhar cadernos especiais nos grandes jornais do país e quando o mundo corporativo começou a se preocupar em manter sua imagem ligada à responsabilidade socioambiental, registramos consideráveis avanços nesta área.
Entretanto, ainda é muito pouco. A discussão não conseguiu atingir a todas as camadas sociais como deveria pois o discurso ainda é genérico e mantém a responsabilidade nas mãos de uma coisa chamada “humanidade” que acaba ficando sem identificação pois não é traduzida para “você, eu, nós...”.
Isto porque o grande desafio dos defensores do meio ambiente ainda não foi vencido: a inserção do assunto no dia-a-dia do povão (sem qualquer teor preconceituoso ou caricato, que fique bem claro), ou seja, aquele que acorda às 5 da manhã, pega ônibus, trem, metrô, leva marmita, trabalha 8 horas por dia (quando não tem um segundo emprego ou um bico) e ganha salário mínimo ou um pouquinho a mais. Estes representam a maior parte da população brasileira e apesar de reconhecerem a importância de preservar o planeta, o máximo que conseguem contribuir é separando o lixo para a reciclagem porque isso muitas vezes representa uma segunda fonte de renda.
O que falta é falar a linguagem do cidadão comum e estabelecer a relação direta entre o banho um pouco mais demorado com o desperdício de recursos naturais; entre jogar óleo de cozinha na pia e a contaminação dos lençóis freáticos; entre o cigarro que é jogado na rua e os entupimentos de bueiros que causarão as enchentes que continuam castingando a população, sobretudo a mais pobre.
Apesar da lenta caminhada para se conseguir a capilaridade de ações que tanto defendemos, já há indícios de que o assunto Aquecimento Global começa a se integrar às ocupar espaço, ainda que tímido, nas camadas mais simples da popução, como é o caso, por exemplo, das escolas de samba, cujos enredos são verdadeiros retratos da historia contemporânea e do comportamento humano.
É o caso da X-9 Paulistana, uma escola de samba do primeiro grupo, localizada na zona norte de São Paulo, que levará para a avenida, no ano que vem, o tema O Povo da Terra Está Abusando. O Aquecimento Global Vem Aí.... A Vida Boa e Sustentável Pede Passagem., assinado pelo carnavalesco Raul Diniz.
Se a escola conseguir traduzir na avenida a complexidade do tema de forma simples, positiva e animada, certamente irá estimular a discussão do assunto em seus mais diversos aspectos e, principalmente, poderá motivar mudança de comportamento, primeiramente de seu público interno, pois nada mais apropriado do que dar o exemplo. Depois, com a escola na avenida, o desafio é atingir o público e incentivá-lo a mudar de atitudes em favor da preservação da vida e do planeta.
Levar o Aquecimento Global para a avenida é uma excelente chance de inserir a questão na sociedade. O meio ambiente tem que estar na boca do povo, no samba no pé e nas atividades mais simples do dia-a-dia, como tomar banho e lavar a louça. Agora é torcer para que, no ano que vem, a X-9 Paulistana transforme o Anhembi no palco de um verdadeiro show de cidadania e educação ambiental.
(Por Laércio Benko, PV /
Envolverde, 04/09/2007)
Laércio Benko é advogado e dirigente do Partido Verde