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atlas ambiental poa
2007-09-06
Uma abordagem local. Essa foi a idéia da professora Cleonice Silva, da Escola Municipal Judith Macedo de Araújo, ao criar o projeto “Construindo conceitos e valor a partir do Atlas Ambiental de Porto Alegre”. No caso da escola, que está situada no Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre, foi feito um detalhado estudo do relevo e da vegetação da área. “Porto Alegre é estudada dentro da imensa paisagem natural do planeta Terra; ressaltamos a fauna e a flora exclusivas da cidade, valorizando o bioma local, para que o aluno aprenda a valorizar o espaço onde vive e, a partir disso, ser um agente multiplicador”, explica Cleonice.

Outro exemplo é a Escola Municipal Chapéu do Sol, que desde 2000 desenvolve o projeto “O meio ambiente é o meu ambiente”. O projeto se estrutura no tripé holístico: o cuidado de si, do outro e do meio. A diretora da escola, profª Rosane Pereira, explica que o diferencial da Chapéu do Sol é a dimensão da educação ambiental para além da preservação ecológica, a partir da perspectiva da natureza como uma extensão do ser humano. “Não podemos falar de preservação quando os alunos apresentam situações de agressividade e maus tratos em casa. Por isso, partimos do pressuposto de que, se não há auto valorização, auto estima elevada e respeito pelo próximo, também não há cuidado com o entorno”, salienta.

A abordagem tem dado resultados dentro da própria escola, com a conservação do espaço físico limpo e sem depredações. “Eu acredito que a preservação da nossa escola está relacionada à noção de responsabilidade que o aluno adquire pelo bem público, com o uso cuidadoso e não exploratório daquilo que é de domínio coletivo”, expõe a diretora.

Apesar dos bons resultados, nem todas as 93 escolas da rede municipal de ensino aderiram à educação ambiental. Para o professor de Ciências da Escola Chapéu do Sol, Vinícius Machado, o “carro-chefe” deste trabalho foi o curso de Extensão sobre o Atlas Ambiental de Porto Alegre, promovido pela Secretaria Municipal de Educação (SMED) e o Instituto de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Mesmo assim vejo que não conseguimos explorar nem 30% da potencialidade do Atlas para o uso na escola”, comenta.

Pelo curso, que teve apenas quatro edições, passaram mais de 200 professores da rede municipal. Questões como os impactos ambientais da especulação imobiliária, a ocupação urbana na capital e a preservação dos morros são debatidas, mas fundamentalmente, a cidade é apresentada como uma região rural e urbana, com micro climas diferentes, espécies próprias, caminhos rurais e população indígena particular.

Segundo a assessora de Educação Ambiental da SMED, Teresinha Sá Oliveira, que fez o elo entre a Prefeitura e a Universidade no projeto, a formação através do Atlas, que em 2006 teve lançada sua 3ª edição, já está esgotada. O novo plano agora é a criação de um curso de pós-graduação em Educação Ambiental. “Para isso estamos conversando com o Instituto de Geologia da UFRGS, mas ainda não temos nenhuma previsão de quando abriremos turmas”, diz.

Integração educativa
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM) também desenvolve trabalhos de educação ambiental. Entre eles o Projeto Extremo-Sul, que integra escolas da rede municipal e estadual do extremo sul da capital, com cursos de capacitação de monitores ambientais para alunos e professores. Ainda assim, segundo a funcionária do Centro de Educação e Informação Ambiental da SMAM, Jaqueline Lessa Maciel, a disseminação de uma cultura ecológica não atinge a todos os educadores, porque faltam recursos públicos para promover cursos de formação. “Apesar do apoio do governo, esbarramos na falta de verbas do município. Para pagar os lanches dos professores durante um curso, por exemplo, muitas vezes é a nossa equipe que se mobiliza e tira do próprio bolso o dinheiro necessário”, conta.

Empolgada com a formação adquirida no curso sobre o Atlas Ambiental, a professora de Geografia, Cleonice Silva, da 1ª turma, elaborou planos para serem aplicados na Escola onde leciona. “No início eu batalhei muito sozinha para provar que o projeto traria resultados positivos. Tive de convencer a direção da escola e meus colegas para que apoiassem a idéia e a tornassem interdisciplinar. Somente depois de ter ganhado muito prêmios, até no exterior, obtive reconhecimento. Hoje eu tenho 20 horas semanais para trabalhar com os alunos do turno inverso ao que eu leciono”, explica. Entre os prêmios destacam-se o de Professora Nota 10, da Editora Abril; o Prêmio Atitude Social, da Rádio Farroupilha; e o Prêmio Direitos Humanos do RS, por votação popular, promovido pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, Unesco e Assembléia Legislativa do RS.

Em 2000 a professora formou o Grupo de Educação Ambiental Amigos do Verde. Ali os alunos recebem formação para serem agentes multiplicadores tanto na escola quanto na família e na comunidade. A aluna do Ensino Fundamental e presidente do Grupo, Natália da Silva Raythz, de 14 anos, explica que com as trilhas ecológicas e saídas de campo os alunos enxergam os problemas locais e podem intervir. “O Grupo descobriu em 2001 um lixão a céu aberto numa das nascentes do Arroio Moinho no Morro Pelado. Intervimos muito ante a Prefeitura até conseguir interditar a área. Fizemos um trabalho de espionagem, anotando as placas dos caminhões que depositavam lixo para poder identificar os criminosos. Depois, organizamos um mutirão de limpeza no local e extraímos dali 10 caminhões de lixo”, conta. Depois que o espaço foi todo aterrado, famílias começaram a estabelecer casas no local.

Preocupada com o problema, a estudante e integrante do Grupo, Ana Miriã Goulart, de 13 anos, avisou aquela comunidade dos perigos de construir moradias num local que corre o risco de explosão, devido ao gás metano que se encontra embaixo da terra. “Eu conversei com algumas pessoas, mas eles disseram que não vai explodir, que eu era louca. Então, quando eu passo por ali tem um homem que grita: Olha a bomba! Aí vem a bomba!”, relata Ana.

Mobilização estudantil
Entre outras ações, os jovens implantaram a separação do lixo na escola, com reuniões de esclarecimentos aos funcionários e à comunidade quanto à importância da reciclagem. Construíram também uma horta comunitária; confeccionaram uma mapoteca do bairro; construíram maquetes de cidades ambientalmente corretas e replicas de prédios históricos na disciplina de Artes e coletaram rochas, fotos, gravuras antigas da cidade, documentários e textos de jornais e revistas para formar o Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (Liau) numa das salas de aula. “Nosso objetivo é tornar a escola um centro de saber local que faz a diferença na comunidade. Já que aqui não temos espaços verdes como outras escolas, construímos o Laboratório para que seja um espaço de estudos e exposição permanente, porque queremos construir, acima de tudo, um conhecimento que seja perene”, observa Cleonice.

Além disso, os alunos realizam oficinas de sabonetes, fotografia, papel reciclado e confecção de lixeiras. Com a produção e a venda destes produtos, eles financiam suas saídas de campo a cidades próximas, como Gramado e Canela, visitas a reservas ambientais e ao centro histórico da cidade. “Fazemos todo esse trabalho sem verba nenhuma. Eu busco materiais por conta própria para atualizar os alunos. Os painéis expostos no Liau foram doados pela UFRGS, mas todos eles estão escritos em inglês. Estamos lutando por materiais em português agora”, revela a professora.

Também são promovidos intercâmbios sobre questões ambientais com outras escolas. Até do exterior. A professora Cleonice recebeu em 2000 um convite para apresentar seu projeto na Feira de Hannover, na Alemanha. “Para ir até Hannover eu contei com o apoio financeiro de um colégio particular em que eu também lecionava na época, senão teria sido impossível”. Agora intercâmbistas da Alemanha e da Itália também vão até a Escola para escutar dos próprios alunos explicações sobre a fauna e flora de Porto Alegre dentro do Liau.
 
(Adriana Agüero, Ambiente JÁ, 30/08/2007)

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