Embora a biodiversidade seja uma das maiores riquezas e o desenvolvimento sustentável o maior alvo das políticas públicas na Amazônia, os conteúdos ministrados sobre esses dois assuntos em escolas do ensino médio de Belém (PA) têm características universais, desvinculadas das questões ambientais regionais.
Essa é a principal conclusão do estudo "A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas do ensino médio de Belém", de autoria de Maria de Jesus da Conceição Ferreira Fonseca, professora do Programa de Mestrado em Educação do Centro de Ciências Sociais e Educação e coordenadora do Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais, ambos da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Segundo a autora, sem foco nos estudos científicos produzidos na região amazônica sobre esses temas, os livros didáticos e as propostas curriculares não favorecem o estabelecimento de uma consciência de valorização dos ecossistemas amazônicos.
O trabalho, publicado na revista Educação e Pesquisa, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, analisou dez livros didáticos e oito propostas curriculares referentes à disciplina de biologia. A pesquisadora entrevistou ainda 24 professores e 719 alunos do 3º ano do ensino médio, etapa final da educação básica.
A pesquisadora aplicou dois questionários, um dirigido aos professores, que investigou as práticas pedagógicas relacionadas aos temas biodiversidade e desenvolvimento sustentável, e o outro dirigido aos alunos, no qual foram levantadas informações sobre escolarização e conhecimentos sobre esses assuntos.
“A idéia do estudo não foi quantificar o grau de conhecimento de alunos e de professores frente a esses conceitos, uma vez que foram analisadas escolas públicas e particulares com modalidades distintas de ensino”, disse Maria de Jesus à Agência Fapesp.
“Mas, com base nas informações coletadas, de modo geral as discussões sobre biodiversidade e desenvolvimento sustentável não estão inseridas nas propostas pedagógicas como uma estratégia de conhecimento dos problemas regionais da Amazônia”, explica.
Segundo ela, o conceito de biodiversidade, por exemplo, apresenta limitações entre alunos e professores por estar mais voltado ao número de espécies vegetais e de animais da floresta, enquanto o trabalho da pesquisadora aponta que, além de se referir à variedade de formas de vida presente na terra (diversidade de espécies), a definição de biodiversidade também deve levar em consideração os genes que constituem as espécies (diversidade genética) e os ecossistemas dos quais elas fazem parte (diversidade ecológica).
Plano secundário
Com relação ao desenvolvimento sustentável, o estudo teve como base o conceito presente no Relatório de Brundtland, lançado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, que o define como “aquele que atende às necessidades das gerações presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.
“Apesar de não haver uma definição única para essas expressões, menos de 5% dos alunos conseguiram descrever com clareza o conceito de desenvolvimento sustentável na perspectiva do relatório, que é o conceito mais aceito e difundido pelos pesquisadores da área. Isso mostra que esses assuntos ainda estão muito distantes das abordagens de ensino na cidade de Belém”, lamentou Maria de Jesus.
O estudo revelou ainda que esses temas, mesmo difundidos nos livros didáticos, não ganham destaque por serem apresentados em planos secundários, como em boxes informativos. Nas publicações analisadas, os conceitos adotados sobre a importância da biodiversidade e as causas de seu declínio não contemplaram uma abordagem mais abrangente sobre o tema, relacionada a aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos.
“Isso se torna evidente quando os livros centram a discussão no argumento ecológico, em vez de tratar da sua importância como estratégia para o desenvolvimento sustentado. Por outro lado, a maioria dos estudantes disse ter tido o primeiro contato com esses dois conceitos no âmbito escolar, e não na mídia, mostrando que a escola, assim como as instituições de ensino e pesquisa, é o espaço mais apropriado para a elaboração de estratégias para a conservação da natureza”, concluiu.
(Por Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 06/09/2007)