O clima de tensão instaurado na cidade de Juína (MT) em razão do processo de reavaliação das terras dos índios enawene-nawe é “bastante preocupante”. A constatação é do chefe da Fundação Nacional do Índio (Funai), na cidade, Antônio Ferreira de Aquino. Ele conta que a sede da fundação no município foi invadida por fazendeiros contrários à ampliação das terras indígenas um dia depois de um grupo de ativistas e jornalistas estrangeiros terem sido forçados a deixar a cidade, sob escolta policial.
Na ocasião, Aquino, que estava em reunião com o engenheiro florestal Fabrício Estephanio, diz que foi ameaçado. “Eles [os fazendeiros] deixaram a mensagem de que, se a terra indígena for demarcada, nós [os servidores e os indígenas] teremos problemas”, relata.
Estephanio, que trabalha desde 1998 com os Enawene-Nawe, é um dos postulantes a uma vaga no grupo que fará o estudo antropológico e ambiental na área em disputa, que tem aproximadamente 200 mil hectares e fica na região noroeste do Estado, sendo conhecida como Gleba do Rio Preto.
Após as ameaças, o engenheiro se diz temeroso caso venha a ser chamado para preparar o laudo: “Acho interessante que fosse alguém de fora. Moro numa cidade ao lado de Juína e realmente se corre esse risco de retaliações no decorrer do processo ou mesmo após”. Apesar do receio, Estephanio diz que vai aguardar a resposta final da Funai quanto à formação do grupo para tomar alguma decisão.
O temor de algum incidente é compartilhado com Aquino, que sugere que os integrantes do futuro grupo de estudo realizem a análise acompanhados da polícia: “Sugiro que os técnicos que irão fazer a revisão de área dos índios em Juína venham escoltados. Não recomendo que venha só”.
Segundo o funcionário da Funai, também há grande preocupação com a generalização da violência contra os indígenas: “Muitos fazendeiros não distinguem uma etnia da outra, por isso pode ocorrer problemas com os outros índios”.
Os possíveis problemas relatados por Aquino foram vivenciados na segunda-feira pelo presidente do Conselho de Saúde Indígena de Juína, Jaime Zehmay, da etnia Rikbatsa. “Recebi uma ligação dizendo que era para eu tomar cuidado com a minha mão e com a minha língua”, relata. “Por estar à frente da saúde indígena na região, os fazendeiros acham que sou eu que estou fazendo os documentos e divulgando-os.”
O prefeito de Juína, Hilton Campos, nega que exista um "ambiente de tensão" na cidade. “A cidade de Juína não é terra sem lei, nunca existiu esse clima e nem vai existir” afirma. “Ninguém vai mexer com ninguém”, acrescenta. Indagado sobre a possibilidade de o grupo de técnicos da Funai ser proibido de ter acesso à área em disputa, como aconteceu com a equipe de jornalistas e ativistas, ele respondeu: “Primeiramente é preciso que seja feita uma audiência pública para debater o assunto”.
Segundo a assessoria do Greenpeace, outros ativistas e lideranças indígenas também estão sofrendo ameaças de morte, por isso a entidade tomou a iniciativa de pedir apoio do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, para tentar solucionar os conflitos.
(
24 Horas News, 05/09/2007)