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seca e estiagem
2007-09-06
O mais severo período de estiagem já registrado em Rondônia preocupa a cada dia.  Grandes rios totalmente secos, falta de água potável e comida em diversas localidades e uma poluição jamais vista.  O mês de setembro caminha para o verdadeiro caos do clima em solo rondoniense, uma visão alertada há meses.

A atual situação em que se encontra o Estado de Rondônia causa medo da realidade e total suspense do dia de amanhã.  Nunca, em toda a história deste Estado foi registrado um período longo de estiagem tão severo e com impactos largamente vistos pela população local.

Ainda no mês de abril, a drástica redução no volume de chuvas na porção sul-amazônica dava uma breve indicação do que estaríamos por enfrentar meses adiante.  De maneira totalmente esporádica, as poucas chuvas que caíram no Estado não supriram à demanda hídrica do solo.  Com isso, os largos rios que todos os anos transbordam gerando enchentes, logo diminuíram sua capacidade atingindo patamares dignos de um período critico de seca, e isso ainda no mês de maio.

Os dias foram passando, as águas baixando e, o que em abril seria então uma breve sinalização feita por muitos, aos poucos foi se confirmando.  Começava então, uma grande estiagem em plena região amazônica.

Porto Velho
A imagem da densa bruma ocasionada pelas queimadas na capital Porto Velho e desastrosa.  A intensa camada de poluentes fecha o céu por completo, impedindo até mesmo o sol de aparecer por dias seguidos nessa época do ano.  Preocupação em dobro com os meios de transporte, aéreo, rodoviário e fluvial.  Na região do baixo Madeira, a visibilidade horizontal nas primeiras horas do dia registrada pela Capitania dos Portos está inferior a 1000 metros.Diante de tanta fumaça e agora o fator agravante da seca no rio Madeira, o risco de acidentes é eminente.  Diversos são os registros do passado, com acidentes fluviais no canal hidroviário do rio Madeira, decorrentes da falta de visibilidade nessa época do ano.

Ji-Paraná
A região central de Rondônia apresenta índices alarmantes de concentração de gases poluentes na atmosfera.  Neste inicio de semana, o sol não apareceu na região de Ji-Paraná, por conta de tanta fumaça de queimada concentrada na atmosfera.  O aeroporto José Coleto registrou às 06 horas desta terça-feira, apenas 300 metros de visibilidade horizontal, o que obrigou o mesmo redobrar as atenções para os vôos previstos logo ao amanhecer.

A sensação de sufocamento na área é insuportável.  As temperaturas máximas alcançam facilmente os 38°C, com umidade relativa do ar em torno de 30% e visibilidade reduzida a menos de 2000 metros no período da tarde.  Os resultados são longas filas em postos de saúde e hospitais, com gente sufocada por tantos malefícios que aparecem nessa época do ano.  Mais uma vez, a incumbência dos governantes prefere os lucros nas derrubadas das matas, a que minimizar o sofrimento da população local.

Vilhena
A região do Cone Sul até poderia ser privilegiada pela maior altitude do Estado, mas está muito a quem de se livrar da intensa poluição do ar.  No aeroporto Brigadeiro Camarão em Vilhena, os valores mínimos de visibilidade horizontal observados nas últimas horas da madrugada impressionam.  Desde o período de seca de 1989 não se registrava tanta fumaça no sul de Rondônia.  Os números dão à cota de apenas 200 metros de visão, o que obriga os motoristas a ligarem os faróis dos automóveis em plena luz do dia.  Luz que sai caro no bolso dos consumidores, pois a fumaça é tanta que por algumas horas a iluminação pública é acionada devido ao fechamento completo da luz solar.

Imagine um dia de forte nevoeiro ocasionado pela chuva e umidade em dias frios, com céu totalmente nublado pelas nuvens.  É essa situação que o rondoniense enfrenta agora, só que com apenas CO (Monóxido de Carbono) das queimadas pairando na atmosfera.

Rio Mamoré
Na divisa com a Bolívia, a mais intensa estiagem já avistada em Rondônia também deixa suas marcas.  O nível do rio Mamoré, afluente do Madeira preocupa a cada dia.  Na região entre Guajará-Mirim e Nova Mamoré, em Rondônia, e Guayaramerim, na Bolívia, as pedras e o montante de bancos de areia obriga a navegação a suspender o tráfego de embarcações maiores.  O turismo na região é o mais prejudicado, pois a expedição no encontro das águas do Mamoré com o rio Beni está proibida.

Além disso, milhares de famílias ribeirinhas que vivem mais abaixo de Guajará, próximo ao distrito de Surpresa, na divisa com o município de Costa Marques, estão sem comida há semanas, pois com a baixa do rio e a secura de tantos outros igarapés terra adentro, fica impedida a locomoção.  Na região da Serra da Cutia, ao sul de Guajará-Mirim, já na região do baixo Guaporé, o rio Pacaás Novos desapareceu, devido a intensa seca que desde abril castiga a região.

Rio Madeira
O colapso da seca em Rondônia começa pelo maior rio do Estado e um dos maiores do mundo, em extensão territorial, volume de águas e velocidade da correnteza.  Depois de ficar conhecido mundialmente a partir dos planos do governo federal para a construção de duas grandes usinas hidrelétricas nos próximos anos, o rio Madeira conta as horas para atingir o menor nível da história, não vencido apenas na seca de 2005, quando o nível chegou a 2,92 metros.  Na tarde desta segunda-feira, a régua marcava apenas 3,10 metros, estando, portanto, apenas 18 cm a mais que na seca de dois anos atrás.  Em apenas uma semana, o Madeira diminuiu cerca de 40 cm, proporção de vazante jamais registrada em tão pouco tempo.

A navegação em Rondônia está comprometida.  Grande parte dos produtos que chegam de Manaus, através da hidrovia do Madeira, já falta em muitas cidades de Rondônia.  O cimento de argamassa é um deles.  Grandes obras da construção civil estão paralisadas, pois não há mais cimento nas lojas de materiais de construção.

O grande risco agora nos próximos dias, é com relação à falta de combustível no Estado.  Se a navegação no Madeira for interrompida por completo, assim como sugere a baixa espontânea do nível das águas, mais um produto de suma importância estará ausente em todos os municípios.  A última saída seria a aquisição de combustível vindo por terra, de refinarias e distribuidoras da Região Sudeste, e isso largamente seria repassado ao bolso do consumidor em um aumento considerável no preço.

Fazendo o mesmo trajeto, só que do lado oposto, a baixa do Madeira atrapalha o escoamento da produção de soja de Mato Grosso.  As carretas estão paradas no Porto Granelero, a espera da liberação das balsas que transportam um maior número de toneladas do produto.  Mais uma deficiência enfrentada por quem depende do nível do rio em levar o desenvolvimento do Estado as demais regiões do Brasil e outros paises, por onde a soja é exportada.

A quantidade de pedras e bancos de areia no Madeira, já resultou em diversos acidentes com embarcações.  Por isso, a navegação noturna continua proibida em todo o canal hidroviário.

Rio Machado
Quem passa por Ji-Paraná e vê a atual situação do rio Machado fica estarrecido.  O grande rio do interior de Rondônia, famoso pela sua grande quantidade de peixes e um volume assustador de águas mingua a cada dia entre as pedras.  Os barcos não conseguem mais atravessar o Machado.  Desde que as medições começaram a ser realizadas na região, isso ainda em 1978, nunca o nível chegou a tal marca de 2,38 metros.  É possível atravessar o Machado andando a pé entre as pedras.

Os mais antigos da região, relatam que, se medidas de prevenção e monitoramento fossem tomadas logo quando a estiagem começou, ainda em abril, hoje talvez tantas famílias não estariam passando por necessidade.  O Machado possui desde a sua nascente em Vilhena, até o encontro com as águas do rio Madeira em Porto Velho, na divisa com o Amazonas, cerca de 1000 km de extensão.  É o maior rio do interior do Estado e alimenta centenas de famílias por onde passa.  Na atual situação, mais de 80% da população ribeirinha não tem o que tirar de sustento devido a grande seca.

Medidas simples de monitoramento e precaução do centro de pesquisas aqui enfiado SIPAM, talvez pudessem ter alguma valia, caso la dentro existissem pessoas competentes honrando trabalho a que lhes foi concedido.  É nessa hora que temos de pensar, não tão somente no caos, na visão nítida e verdadeira.  Temos que prestar muita atenção também, nessas siglas criadas única e exclusivamente pelo governo federal em destinar repasse de verba pública.  Porque dinheiro para pesquisa e monitoramento vem, mas onde encontrar em benfeitorias?  Talvez sejam gastos no montante de ofícios repassados à imprensa de Rondônia quase que diariamente, ditando dados que não condizem jamais com a realidade.  É o preço da ciência brasileira na Amazônia!

Rio Jaru
Esta é uma visão jamais pensada em ver no Estado de Rondônia.  Contrariando todos os boletins, prognósticos do SIPAM, que enfocava para a não-possibilidade de seca intensa esse ano no Estado, hoje o rio Jaru, um dos afluentes do Machado, com quase 500 km de extensão está seco nas partes mais altas.  Isso mesmo, não há uma gota d’ água sequer brotando nas minas, consideradas as mais férteis da Região Norte, com água de qualidade mineral.

Mais uma prova das marcas de uma estiagem que vai ficar para a história de Rondônia e da Amazônia como um todo.  As comunidades de Cajueiro, Tarilândia e Canarana, no interior do município de Jaru estão sem água potável para consumo.  A seca nas pastagens reflete na imagem do gado magro, típico dos vistos no sertão nordestino.  Imagens que retratam a pobreza, a miséria e veja só, em plena floresta amazônica.

Outros rios
Diversos rios, igarapés, nascentes e corredeiras de Rondônia estão secando, outros completamente sem água.  A situação é critica também nos rios Candeias, Jamarí, na região de Ariquemes, rio São Miguel, em São Miguel do Oeste, rio Ouro Preto, na serra dos Pacaás Novos, em Guajará-Mirim e rio São Domingos em Costa Marques.  Grandes rios, fundamentais para o abastecimento de milhares de localidades, hoje transformados em fios d’ água secando a cada dia.

Mesmo que a chuva retorne agora na primeira semana de outubro, período normal para o inicio da estação chuvosa no sul da Amazônia, a recuperação dos rios e das áreas que agora amargam prejuízos com a longa estiagem será lento, pois o déficit hídrico no solo é muito grande.

Medidas preventivas, estudos mais concretos, boa vontade humana.  Tudo isso influi no pesar da balança diante as adversidades do tempo e clima.  Mas como sempre, pela ignorância de alguns do poder, a população é quem sempre acaba pagando as conseqüências da falta de administração de pulso firme.

(24 Horas News, 05/09/2007)


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