O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estuda o financiamento de projetos de expansão agropecuária na Amazônia. A liberação da verba pode indicar uma tendência de organismos multilaterais de fomentar atividades do setor na região Norte.
Novamente, o grupo Bertin seria o beneficiado: o BID liberaria US$ 250 milhões para a construção de duas novas plantas - em Campo Grande (MS) e Sorriso (MT) - e para efetuar a rolagem de dividas de curto prazo da empresa. Cerca de 40% desse montante seria utilizado para sanar débitos com credores.
Estimadas em US$ 457 milhões, as novas plantas dobrariam o potencial de produção de carne para exportação da empresa - detentora de 25% desse mercado. Estão previstos também investimentos na produção de biodiesel. A primeira planta a ser entregue - em Sorriso - deverá iniciar as operações no fim de 2008.
A Bertin confirma a avaliação de financiamento pelo BID. A intenção é a modernização e expansão das instalações da empresa, não contemplando uma região específica, segundo a assessoria de imprensa da empresa.
De acordo com Roberto Smeraldi, diretor da Oscip Amigos da Terra, o problema não é o financiamento, mas o que está sendo financiado: "Porque o BID não financia atividades de reconversão da pecuária, sem expandir a fronteira agrícola ou mesmo a saída da pecuária da Amazônia?", questiona.
"Poderia se financiar a Bertin para produzir a mesma quantidade de gado em pecuária confinada, usando uma área 30% menor. Desse modo, a área livre poderia ser alvo de reflorestamento", sugere Smeraldi.
Um dos principais atrativos para as empresas está no preço da terra, segundo o ambientalista: "Na Amazônia as terras chegam a ser 10 vezes mais baratas do que no Sul ou Sudeste do país", explica. "Além disso há muita facilidade em se apropriar de terras da União", complementa.
Segundo o BID há intenção de levar em conta os impactos ambientais e as atuais 18 plantas da Bertin obedecem aos limites nacionais de poluição do ar e uso de água. Em março, o IFC - braço privado do Banco Mundial (BM) - aprovou financiamento de US$ 90 milhões para a Bertin, detentora de 25% do mercado brasileiro de carne bovina para exportação.
ControvérsiasA liberação dos recursos pelo IFC foi marcada por controvérsias. Aparentemente, a diretoria do organismo foi ludibriada com informações diferentes do projeto original. Conforme denúncia do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (Fboms) o projeto previa seis instalações da Bertin em áreas críticas no Pará, Mato Grosso e Rondônia. Apenas em Marabá (PA) ocorreram estudos e consultas públicas.
O IFC se negou a afirmar publicamente se a informação enviada pela gerência do Banco a seu Conselho correspondia à realidade do projeto. Porém, o IFC admitiu fortes divergências entre as informações enviadas ao Conselho às divulgadas ao público. Ao confirmar a validade dessas últimas sinalizou, consequentemente, que as informações iniciais não retratavam a realidade do projeto.
Para uma empresa que exporta 80% de sua produção, a imagem no exterior é uma questão prioritária. A intenção da empresa ao pleitear dinheiro do IFC para suas ações na fronteira agrícola amazônica é obter da instituição uma espécie de "selo" de certificação de boas práticas.
Na época, o grupo Bertin declarou que o empréstimo da IFC atestava o comprometimento com a sustentabilidade porque "nenhum outro banco de investimentos é tão criterioso em suas análises econômicas e sócio-ambientais".
Com o argumento de que somente a unidade frigorífica de Marabá "foi identificada como particularmente sensível e merecedora de estudo de impacto completo", e que a unidade frigorífica de Água Boa não foi estudada por ter sido comprada depois do início das avaliações, a IFC tentou se defender das acusações.
(Por Charles Nisz,
Amazonia.org.br, 03/09/2007)