Todo mundo fala sobre as vastas reservas de petróleo e gás natural ocultas sob o Oceano Ártico. Mas ninguém sabe que dimensões elas podem realmente atingir. O Levantamento Geológico dos Estados Unidos (USGS), no entanto, decidiu dedicar os anos de 2007 e 2008 a pesquisas que podem resultar em pelo menos um palpite bem informado.
A bandeira russa plantada no fundo do Oceano Ártico no começo de agosto talvez tenha conquistado todas as manchetes. Mas enquanto os países que circundam o Oceano Ártico se preparam para o que promete ser uma prolongada disputa diplomática sobre quem exatamente controla o que por sob a camada de gelo polar, o USGS se ocupa com um programa de avaliação do potencial de reservas de petróleo e gás natural localizadas por sob a camada de gelo polar. Por meio de análises de tipos e formações de rochas e do estudo da história geológica da região, a equipe de pesquisadores espera ser capaz de oferecer estimativas precisas quanto à possível localização de depósitos e quanto a determinar se eles contêm petróleo, gás natural - ou nenhuma das duas coisas.
"Trata-se da primeira análise sistemática e abrangente dos recursos de petróleo ainda não prospectados no Círculo Ártico, pelo menos em domínio público", afirmou Mark Myers, diretor do USGS, em comunicado sobre o projeto divulgado no final de agosto. "Conhecer o potencial de recursos do Ártico... é essencial para a nossa compreensão das futuras possibilidades de abastecimento de energia dos Estados Unidos, e do mundo".
Na semana passada, o projeto - conhecido como Avaliação de Recursos Petroleiros e de Gás do Círculo Ártico - divulgou os primeiros resultados de seu trabalho, referentes a uma área de cerca de 500 mil quilômetros quadrados ao largo da costa da Groenlândia. De acordo com as melhores estimativas do USGS, as chamadas bacias da fenda leste da Groenlândia podem conter cerca de 31,4 bilhões de barris de petróleo e/ou gás natural; caso confirmadas, reservas dessa ordem fariam do nordeste da Groenlândia a localização da 19% maior reserva mundial de petróleo e gás natural.
Determinar quando e esses "recursos" poderão de fato ser comprovados, no entanto, continua a ser uma questão em aberto. A estimativa levou em conta as formações rochosas e estudou a semelhança entre a composição geológica entre o leste da Groenlândia e a das áreas ricas em petróleo e gás natural na Noruega. Além disso, como aponta o relatório, mesmo que a riqueza da área em termos de combustíveis fósseis pudesse ser confirmada, no momento não existe maneira lucrativa de extrair reservas enterradas por sob uma armadura espessa de gelo flutuante.
Mas isso ainda assim não está impedindo que Canadá, Dinamarca, Rússia e Estados Unidos acelerem seus esforços para formalizar as solicitações de direitos territoriais que todas essas nações têm sobre a região ártica. Afinal, caso a camada de gelo venha a desaparecer como resultado das alterações no clima mundial, o Ártico promete se transformar em alvo de uma corrida do ouro geopolítica. Pelo terceiro trimestre do ano que vem, o estudo do USGS pode oferecer aos competidores pelos recursos da área uma idéia razoável quanto ao objeto de sua corrida.
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Der Spiegel/Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME, 04/09/2007)