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impactos mudança climática ipcc
2007-09-05
O Rio Grande do Sul está começando atrasado em relação a outros estados brasileiros uma mobilização para fazer frente aos efeitos das mudanças climáticas. E mais: precisa se organizar rapidamente para recuperar dados e fatos sobre o clima em um período anterior a 1911, ano em que formalmente passaram a ser feitos os primeiros registros meteorológicos no Estado. Estas foram algumas das constatações preliminares da reunião do Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas (FGMC) realizada na tarde de segunda-feira (03/09) na sede da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema-RS).

"É uma reunião de esclarecimento, de tomada de posição e de provocação da sociedade", definiu o secretário Carlos Otaviano Brenner de Moraes, titular da Sema-RS. A secretária-executiva do Fórum, Ana Maria Cruzat, afirmou que o Decreto 45.098, de 15 de junho último, que cria o fórum, foi publicado "pela necessidade urgente deste trabalho". Segundo ela, "o objetivo é acelerar o intercâmbio" com instituições de esferas federal e estaduais que já possuem trabalhos na área da mudança climática e unir o setor científico nas áreas de climatologia, glaciologia, agronegócios, indústrias e outras, "para que não se percam mais oportunidades". No encontro, compareceram representantes de universidades gaúchas, instituições de pesquisa, como Embrapa, Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Fundação Zoobotânica, Emater, 8º Distrito de Meteorologia do Ministério da Agricultura, entre outras, e diversas secretarias de Estado, além da ONG Ingé- Amigos da Água, que reúne pesquisadores da UFRGS.

Não há mais dúvidas
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e PhD em Glaciologia Jefferson Cardia Simões, ao apresentar um quadro da situação mundial, brasileira e gaúcha, apontou para os dados e conclusões do último (4º) relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o qual não deixa mais dúvidas: o fenômeno é, sim, resultado da ação humana sobre o planeta, ou seja, se em 1992/93 havia 60% de certeza sobre as causas das mudanças climáticas serem antrópicas, pelo relatório de então, hoje tal certeza é de 90% - "o que é muito significativo em Ciência", assinalou.

Falácias
Contudo, existe um tratamento bastante precário do assunto, especialmente por parte da grande mídia. "Mudanças climáticas não são o mesmo que aquecimento global nem o mesmo que efeito estufa. Uma das conseqüências do efeito estufa pode ser o aquecimento global", explicou o professor, apontando claramente um equívoco causal presente nos meios de comunicação de massa, que costumam tratar o tema sem compreender que o fenômeno mudança climática – um termo genérico para designar diversos eventos climáticos extremos – pode inclusive levar ao resfriamento em certas regiões do globo, ou seja, não necessariamente ao aquecimento em todas elas. "Mudança climática é algo mais amplo, é qualquer mudança na dinâmica da atmosfera", complementou. Nessa dinâmica entram, por exemplo, variações de temperatura e precipitações. Um termo ainda mais genérico é "mudanças globais", que inclui não apenas o clima, mas as variabilidades de condições do solo , dos recursos hídricos, a química da atmosfera, os sistemas ecológicos e os ciclos biogeoquímicos.

Outra falácia, disse Simões, é considerar um espectro de tempo anterior ao aparecimento do homem no planeta para contabilizar os efeitos das mudanças climáticas. Este viés, recentemente divulgado em revista semanal de grande circulação brasileira, tende a descaracterizar o foco dado pelos cientistas ao problema, o qual apresenta um agravo acentuado sobretudo a partir das revoluções industriais, quando a concentração de gases de efeito estufa (dióxido de carbono – CO2 – e metano –CH4, principalmente), passou a se acelerar. "Temos 780 mil anos de dados", atesta o pesquisador. Somente nos últimos dez anos, conforme dados do IPCC, a concentração de CO2 subiu de 280 ppmv (partes por milhão volumétrica) para 390 ppmv. Estima-se que, em 2010, essa concentração atinja 560 ppmv. O volume de CO2 na atmosfera global é hoje 36% maior que há 200 anos, e o de metano, 130% superior. "Nosso maior problema, no Brasil , não é o parque industrial, mas as queimadas", lembra Simões, observando que o gás metano tem sua principal fonte na criação de gado. O professor da UFRGS e integrante da ONG Ingé Ludwig Buckup, presente ao encontro, ressaltou que há estudos na própria Universidade Federal gaúcha mostrando que as emissões totais derivadas do sistema gado-pasto, sendo o gado criado em regime de pastoreio, aberto, são menores do que as emissões do gado criado em confinamento. Isto dá uma dimensão da necessidade de se pensar sistemicamente para equacionar o problema do aquecimento global.

RS mais quente e chuvoso
Enquanto as temperaturas médias do planeta aumentaram 0,8ºC nos últimos 140 anos, ainda pouco se sabe sobre a realidade do Rio Grande do Sul nesta área. "Houve um salto nas temperaturas médias a partir de 1890, e essa tendência é melhor definida no Hemisfério Sul", afirmou o professor Simões, citando dados de 11 modelos matemáticos que apontam essa tendência. "Sem dúvida, os últimos dez anos foram os mais quentes", disse.

No Estado gaúcho, porém, não existe uma retrospectiva de dados – pelo menos não disponível de forma organizada – que cubra 200 ou mesmo 140 anos, que seria um período cientificamente razoável para se ter uma série histórica capaz de permitir a formação de cenários e tendências. O que se sabe é que as temperaturas máximas, assim como as mínimas, vêm, em média, aumentando – fato observável a partir de 1911, obviamente com variações entre os anos, a partir de então. Isto quer dizer que a diferença média entre as temperaturas máximas e mínimas estão ficando cada vez menores. "Há diversas hipóteses para tentar explicar isto, mas nenhuma certeza", advertiu o glaciologista. Outro fato observado é o número de dias chuvosos, que tem aumentado: "O IPCC, em 2007, prevê um aumento da umidade para a Região Sul – com elevação de 8% na precipitação". O problema, afirma Simões, é que há necessidade de pesquisa e consolidação de mais dados e fontes de informações históricas sobre o clima gaúcho a fim de que "decisões não sejam tomadas apenas com base na memória". Ele explicou que, ao lado dessas tendências observáveis ainda existem ciclos e anomalias climáticos que precisam ser considerados.

Além de abrir dados de arquivos históricos no Estado – sabe-se que Porto Alegre tinha uma estação meteorológica onde hoje fica a Praça da Matriz –, é importante estabelecer relações entre o clima do Rio Grande do Sul e os de outras áreas do Brasil e do mundo. De acordo com o professor, existem teleconexões entre o clima gaúcho e o de dois mares da Antártida – Weddell e Bellingshausen.

O futuro depende do passado
As respostas que a população gaúcha precisa ter a fim de melhor se preparar climaticamente para os próximos cem anos ainda não existem. "O que vai ocorrer no próximo século e como vamos nos adaptar?" Para encontrar pistas de solução a esta pergunta, é importante ter bem registada a seqüência de eventos extremos ocorridos no Estado, como cheias, secas, precipitações de neve, vendavais e outros. É preciso saber, por exemplo, se já houve estiagem semelhante à de 2004, bem como precipitações como a que ocorreu na década de 50 nos Campos de Cima da Serra, chegando a formar uma capa de 50 centímetros de neve sobre o solo.

Seja o que vier, o IPCC tem algumas certezas. De acordo com Simões, os impactos dos gases estufa serão maiores sobre as pessoas de menor poder aquisitivo – as que não têm como fugir do calor utilizando aparelhos de condicionamento do ar. E é exatamente aí que se apresenta o efeito perverso, injusto, da mudança climática: sua geração está fortemente relacionada a padrões de consumo exacerbados, acessíveis aos ricos, mas seus efeitos voltam-se impiedosamente aos mais pobres, mais facilmente vítimas de secas, enchentes, perda de casas e bens e doenças.

O IPCC adverte: anciãos e crianças vão sofrer mais com ondas de calor; precipitações fortes vão ser mais freqüentes, causando deslizamentos e prejuízos especialmente para quem tem moradias em locais irregulares; ciclones tropicais deverão mostrar sua fúria com maior periodicidade, "algo que o IPCC falava antes mesmo da chegada do Catarina à costa de catarinense", observou Simões.

PAC do clima?
O glaciologista informou que o governo federal, por meio da Comissão Interministerial para Mudanças do Clima, criada em 1999, tem compromissos com educação e com a realização de inventários de emissões. Para que o Rio Grande do Sul se integre aos objetivos desta comissão, terá que repensar o seu sistema de disponibilização e acesso a dados sobre o clima, bem como integrar a comunidade técnico-científica nessa área. Além disto, será necessário implantar um programa de avaliação e monitoramento do impacto das mudanças globais no Estado, com ênfase na apresentação de estudos de caso e melhores práticas. Em nível nacional, "foi demandada a montagem de uma rede nacional para atender a Convenção do Clima e o Protocolo de Kyoto, havendo recursos de 140 milhões a serem aplicados em quatro anos", informou Simões. Ele comparou a iniciativa a um "PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] do Clima". "O Ministério da Ciência e Tecnologia está trabalhando para esta ser uma área de prioridade de investimentos nos próximos seis anos", revelou o pesquisador.

Lançamento oficial
O Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas deverá ser lançado oficialmente em 15 de outubro, com a assinatura de portaria pela governadora Yeda Crusius. Antes, porém, dois eventos importantes estão agendados: em 25 de setembro, às 14h, será realizada nova reunião no auditório da Sema-RS, entre os integrantes do fórum, para a apresentação e discussão de idéias sobre o melhor modelo de regulamento interno para a instituição. A secretária-executiva Ana Cruzati acredita que uma boa fonte de inspiração é o modelo de regimento do Fórum Gaúcho de Produção Mais Limpa, lançado em junho deste ano. Segundo ela, regimentos de outros Estados podem ser interessantes como inspiração, "mas é preciso levar em conta que está havendo mudanças nesses mesmos regimentos". Assim, foi proposta a realização de um workshop para 25 de novembro, sendo convidado também o Ibama-RS para os trabalhos. Além desta oficina, em 13 de novembro haverá na Sema-RS um encontro dos fóruns de mudança climática do Codesul, reunindo representantes do Paraná, de Santa Catarina e ainda da Argentina e do Uruguai.

(Por Cláudia Viegas, AmbienteJÁ, 05/09/2007)

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