Os biocombustíveis permearão a visita de pouco mais de 24 horas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará a Estocolmo, capital da Suécia, nos próximos dias 11 e 12. Além da assinatura de acordo bilateral na área, referente à troca de experiências e à formação de um mercado internacional de biocombustíveis, será realizado seminário sobre o tema.
“Eles já importam etanol do Brasil, mas precisam aumentar consideravelmente. Eles produzem muito pouco e a partir de trigo e cevada, o nosso é economicamente muito mais rentável em todos os sentidos”, avalia a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, chefe do Departamento da Europa do Ministério das Relações Exteriores.
A consciência ambiental faz da Suécia o país com a maior frota de veículos bicombustíveis da Europa – em 2006, eram 43 mil veículos. O governo sueco determinou que até 2020 todos os automóveis em circulação no país utilizem combustíveis renováveis. Como estímulo, eliminou o imposto sobre combustíveis renováveis e cortou impostos de venda de veículos de biocombustível. “Estão ampliando muito essa frota, vão precisar de volumes crescentes de biocombustíveis e não têm condições de produzir em larga escala”, reitera a embaixadora em entrevista exclusiva à Agência Brasil.
Os biocombustíveis serão debatidos também por empresários. Em outro encontro empresarial, o foco serão as oportunidades comerciais no Brasil. “Vamos apresentar o PAC, estes R$ 250 bilhões alocados até 2010 para os nossos projetos na área de infra-estrutura”, antecipa a diplomata, reconhecendo que na última década a Suécia teve outras prioridades para investimento. “Durante a década de 90, a prioridade deles foi muito mais o entorno regional europeu, os novos países que surgiram com dissolução do bloco soviético. Depois, também tivemos uma certa competição com os mercados asiáticos”, pondera.
Ainda assim, o estoque de investimentos suecos no Brasil é de U$ 2 bilhões e, segundo Maria Edileuza, deve crescer com a atuação da empresa sueca-finlandesa do ramo de papel e celulose Stora Enso. Há mais de 100 empresas suecas instaladas aqui, atuando nas mais diferentes áreas – entre elas Volvo, Ericsson, Scania, Electrolux e Veracel. “Elas empregam quase 40 mil pessoas no Brasil, é uma presença muito importante para nós”, avalia a embaixadora. “As relações comerciais são muito densas. São Paulo é considerado, pelos suecos, seu primeiro pólo industrial, superando Gotemburgo”, acrescenta.
A Suécia não está entre os principais parceiros comerciais brasileiros, mas o intercâmbio comercial cresceu 90% desde 2002 e alcançou US$ 1,44 bilhão em 2006, com saldo negativo para o Brasil de US$ 453 milhões. Café não-torrado em grão, sulfetos de minérios de cobre, álcool etílico e carne bovina desossada foram os principais produtos exportados pelo Brasil. As autopeças dominaram a pauta de importações brasileiras da Suécia. A expectativa do governo brasileiro é impulsionar as trocas bilaterais e os investimentos a partir da visita do presidente Lula. “Durante essa visita, vamos trabalhar para elevar essas cifras consideravelmente”, ressalta a diplomata.
No âmbito da agenda multilateral, será enfocada a parceria estratégica firmada em julho entre Brasil e União Européia. Outro tema em debate será a atual rodada da Organização Mundial de Comércio (OMC) - a Suécia é considerada grande aliada do Brasil nas negociações da Rodada Doha. “A Suécia tem posições muito interessantes para nós, no que diz respeito à eliminação de subsídios agrícolas. No caso do etanol, defendem a adoção, pela União Européia, de tarifa zero para importação”, relata Maria Edileuza.
Brasil e Suécia também devem tratar da reforma das Nações Unidas e Comissão de Consolidação da Paz da ONU, da qual o Brasil faz parte. A agenda do presidente Lula em Estocolmo prevê encontro com o primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt, e com o casal real – a rainha Sílvia e o rei Carlos XVI Gustavo, além de visita ao Parlamento e participação nos eventos empresariais.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 05/09/2007)