Esta entrevista foi feita no Rio de Janeiro, com o advogado Carlos Cleto, do Sindicato de trabalhadores da Vale do Rio Doce, Itabira, MG, em 21.8.07.
Fale-nos sobre o comportamento da Vale em relação aos trabalhadores e trabalhadoras.Cleto - As condições de trabalho na Vale, no caso de trabalhadores de minas, é má. Eles são superexplorados, ao ponto de estarem reduzidos a uma debilidade organizativa crônica. A Vale reduziu drasticamente seus quadros, desde a privatização. Hoje, em Itabira e Congonhas, trabalham para a Vale empregados terceirizados de umas 50 pequenas empresas, em muito más condições. São uma espécie de lumpen proletariado. Há casos de trabalhadores que há 15-20 anos não tiram férias. Têm contratos temporários com a empreiteira, no fim de um ano são demitidos, recebem as férias mas imediatamente são recontratados e continuam trabalhando! Quando o sindicato processa a empresa por um ou dois casos, ele ganha. Mas a maioria são trabalhadores não sindicalizados, que sonham em voltar para a área, ou botar um filho na empresa, e não querem contrariá-la.
Você pode dar um exemplo?Cleto - É o caso do Sr. Eliseu. Foi o único trabalhador em Congonhas que teve a coragem de se apresentar para um processo na Justiça. No caso dele nós conseguimos ganhar! No começo dos anos 90 ele saiu da prestadora Santana e no dia seguinte estava noutra, sempre trabalhando para a Vale. Nesta lista de contratações do Sr. Eliseu, você vê que ele só esteve quatro dias fora da Vale, pois sua demissão coincidiu com uma virada de ano. E assim ele foi passando de firma em firma, sem férias, até agosto de 2005, quando estava doente com silicose, virou um bagaço velho, mais morto do que vivo, e foi jogado fora. A Vale tem estratégias de terror psicológico para fazer o trabalhador não buscar os seus direitos. Ao todo ele ficou 16 anos dentro da Vale do Rio Doce, ganhando salário mínimo, sem nunca ter reconhecidos os seus direitos.
Aos que, como o Sr. Eliseu, buscam apoio do sindicato, há então chance de vitória?Cleto - Quando o sindicato abre processos assim, ele geralmente ganha. São de difícil contestação! Neste caso o juiz deu como sentença a terceirização ilícita, com formação de vínculo à tomadora dos serviços. Ele foi reconhecido como servindo à Vale nesses anos todos! No mesmo caso do Sr. Eliseu há mais de 1000 em Congonhas!
E não dá para fazer um processo coletivo?Cleto - Não, pois o sindicato Metabase é de mineradores e os trabalhadores terceirizados são metalúrgicos. E este é como um balcão de negócios... É o caso da maioria dos sindicatos de metalúrgicos de uma maioria terceirizadada, trabalhando em pequenas firmas. Então, o Eliseu vai ganhar indenização da empresa e vai ter uma velhice menos angustiada. Mas os outros 1000 não vão ter nada, só doença e esquecimento. Uma mina da Vale é uma usina de destruição da saúde humana, ainda mais com as empreiteiras. E com a crueldade de que, quando o trabalhador vai fichar de novo, trazendo uma deficiência auditiva ou uma silicose, ele é jogado fora como bagaço imprestável. A Vale, quando vê que o homem já está com a saúde debilitada, quer carne nova pra moer. E o trabalhador terceirizado, agora portador de uma deficiência qualquer, vai para a mendicância, vai morrer na miséria.
(Por Marcos Arruda*,
Adital, 03/09/2007)
* Socioeconomista e educador do PACS - Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Rio de Janeiro, e sócio do Instituto Transnacional