Uma cidade está sendo literalmente mudada de lugar na Suécia. Kiruna, cidade ártica famosa por abrigar o Hotel do Gelo e a maior mina de ferro do mundo, está ameaçada por rachaduras provocadas no solo por décadas de extração de minério de ferro. A solução para o problema é mudar a cidade para outro lugar, a quatro quilômetros de distância - casas, prédios, igreja, prefeitura, escolas, sistema de água e esgoto, estrada e ferrovia.
Todo o centro da cidade situada 145 quilômetros acima do Círculo Ártico será transferido. No total, mais da metade de Kiruna - o segundo maior município do mundo, em área - será desmontada ou demolida. São no total 20 mil quilômetros quadrados, para uma população de 24 mil habitantes. Na primeira fase da megaoperação de mudança, caminhões vão rebocar as primeiras 70 casas.
"Isso é muito triste. E talvez a nossa casa seja a próxima", disse a moradora Kerstin Josefsson à TV sueca. É uma mudança complicada, planejada há três anos, e que deve levar pelo menos 30 anos para ser concluída. Complicada e cara: a LKAB, a empresa estatal de mineração que emprega 1,8 mil habitantes, vai pagar a maior parte da conta, estimada em 30 bilhões de coroas suecas (equivalente a cerca de US$ 4,4 bilhões).
Kiruna nasceu com o início da mineração do ferro, em 1890. Mas a indústria que deu origem a cidade começou a consumir as próprias fundações de Kiruna. Durante mais de 50 anos, a LKAB extraiu o minério da superfície do solo e do topo de uma montanha. Mas a partir da década de 60 foram abertas minas subterrâneas no Monte Kiirunavaara, base deste maior depósito do mundo. Foi aí que começou o problema.
A extração do minério no subsolo de Kiruna provocou rachaduras, que se expandiram lentamente, ameaçando as fundações de casas e prédios. O centro da cidade, situado ao pé do monte Kiirunavaara, está em uma zona crítica de perigo de desabamento - razão pela qual toda a área central será deslocada para a base do monte Luossavaara, a quatro quilômetros de distância. A cidade depende da mina para sobreviver.
Especialmente agora, no momento de alta na demanda global por ferro, impulsionada em grande parte pelo crescimento da China. Parte das casas e prédios de Kiruna será demolida e reconstruída no novo local. Algumas casas serão simplesmente rebocadas. E outras construções vão ser desmontadas, pedaço por pedaço, e remontadas no novo centro da cidade - incluindo a histórica igreja da cidade, construída em 1913 em madeira e eleita, em 2001, como a mais bela construção da Suécia. Até a Prefeitura vai ser desmontada, em seis partes.
Entrevistado pela TV sueca, o vice-prefeito da cidade observou que a mudança de Kiruna pode se tornar um modelo para outras cidades - especialmente aquelas situadas em áreas litorâneas ameaçadas pela elevação do nível dos mares, que deve ser provocada nas próximas décadas pelas mudanças climáticas no mundo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
(Por Claudia Varejão,
BBC, 03/09/2007)