Que o ser humano anatomicamente moderno surgiu na África cerca de 180 mil anos atrás, ninguém discute. E que a grande "conquista" do resto do mundo só começou para valer por volta de 70 mil a 50 mil anos atrás também não gera grandes debates. Agora, por que o homem esperou tanto tempo e, naquele ponto do tempo, resolveu dominar o mundo? Segundo um novo estudo, foi por causa da água.
Uma mudança radical no clima da África tropical pode ter sido o responsável pelo empurrãozinho que a humanidade recebeu para se espalhar pelo mundo. Ao que parece, entre 135 mil anos e 75 mil anos atrás, o continente africano passou por uma série de secas violentíssimas -- fase mais seca no último milhão de anos. Mas, há 70 mil anos, o clima mudou e ficou mais estável, com muito mais água do que antes. Isso teria ajudado o homem a se espalhar.
Para fazer essa identificação precisa do clima africano, os pesquisadores liderados por Christopher Scholz, da Universidade de Siracusa, nos EUA, analisaram amostras profundas retiradas do lago Malawi, que faz fronteira com três países africanos: Malawi, Tanzânia e Moçambique.
Eles obtiveram evidências de que, durante as fases mais agudas de seca, o lago Malawi chegou a ter apenas 100 metros de profundidade, contra os 700 atuais. Outros lagos africanos chegaram a secar por completo. Mas, quando as coisas melhoraram, há 70 mil anos, as populações humanas ampliaram enormemente sua ocupação e seu ritmo de migração.
Em estudo publicado na edição desta semana da "PNAS", revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a equipe sugerem que a expansão populacional e o famoso espalhamento "Out of Africa" ("para fora da África") pode ter sido ajudado pela estabilização do clima em uma condição mais úmida.
(
G1, 03/09/2007)