Os prejuízos causados pela estiagem que começou há seis meses no Estado, já resultaram na morte de 500 bois, somente na região sul. A seca também afeta as lavouras e causa desemprego. Na região, poucas propriedades preservam 20% de vegetação nativa como exige a lei e, segundo os especialistas, a falta de áreas preservadas agrava ainda mais a situação.
Nos municípios afetados, a informação é que o governador Paulo Hartung (PMDB), em seus quatro anos e sete meses de governo, não vem exigindo o cumprimento da lei que exige a recuperação de 20% da área da propriedade. Na região, é raro encontrar propriedades que estão dentro da lei, principalmente no extremo sul do Estado, como já denunciou o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Segundo o MPA, o governo do Estado não cria condições para que os plantios de vegetação da mata atlântica sejam feitos, além de não exigir o cumprimento do Código Florestal, Lei n° 4771/95, que exige a manutenção de 20% da área da propriedade preservada com vegetação nativa.
O MPA ressalta ainda, que em municípios como Presidente Kennedy, onde há déficit hídrico e poucas áreas preservadas dentro das propriedades, o problema é ainda maior. Na localidade, os prejuízos da agricultura chegam a 90%. Até o abacaxi, mais resistente à seca, dá sinais de enfraquecimento.
Alguns proprietários calculam a morte de 12 cabeças de gado em apenas 15 dias devido à seca. Sem alimento o gado perde peso e a produção de leite fica comprometida. A maior cooperativa de laticínios do Estado registra queda de 40% na produção.
O problema, apesar do grande apelo econômico, é classificado por ambientalistas, principalmente, como um problema ambiental. No norte e noroeste do Estado, onde o equilíbrio entre as chuvas e as necessidades de consumo de água é precário, a situação também é grave.
Para tentar conter o problema, os pequenos produtores utilizam o reflorestamento por pousio. Isolam a área e deixam o reflorestamento acontecer naturalmente. O MPA informou que não há viveiros de mata nativas sustentados pelo governo e que, por isso, fica cada vez mais difícil recuperar áreas e fazer cumprir a lei.
Já no latifúndio, a política é diferente. Em geral, há pouca preocupação com o meio ambiente e muita com o espaço. Até a vegetação da beira dos córregos é retirada. Com o predomínio desta classe em grande parte do Estado, os problemas dos períodos secos estão agravados.
Atualmente, restam apenas 7% de mata atlântica original do Estado. Esta vegetação nativa permite que durante as chuvas haja intensa infiltração de água no solo. Essa água reservada no solo vai aos poucos e durante meses retornando ao leito dos córregos e rios. Sem vegetação nativa, as águas das chuvas vão de vez para os córregos que, assoreados, transbordam e provocam alagamentos.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 03/09/2007)