A ausência de vagas formais de emprego no mercado de Sant’Ana do Livramento, da mesma forma que em ouras cidades do Estado e do país, acaba impulsionando os brasileiros a mergulhar em alternativas viáveis e capazes de garantir o seu sustento. Estima-se que Livramento tenha atualmente cerca de 200 catadores de lixo que percorrem diuturnamente as ruas centrais e da periferia da cidade atrás de plástico, papel, papelão, alumínio, ferro, enfim, tudo o que possa ser comercializado e enviado para a reciclagem.
Além destes que percorrem fazendo as vezes de verdadeira tração humana pelo centro, a reportagem de A Platéia encontrou um grupo que vai buscar o sustento direto na fonte mais carregada de possibilidades de um bom ganho financeiro: o depósito de lixo da cidade. No Aterro Controlado, localizado nas cercanias do Rincão da Bolsa, homens de várias idades vasculham todos os dias as toneladas de lixo que é recolhido por toda a cidade.
Garrafas plásticas, papelão e latas se misturam à presença constante de ratos, baratas, cachorros e um universo de bactérias capazes de causar danos irreversíveis à saúde. Conscientes do risco que correm, eles se aventuram e mergulham nas montanhas de lixo atrás de algo que possa ser comercializado tendo o quilo contabilizado por centavos. Sem equipamento de proteção, as histórias de ferimentos provocados por material enferrujado, agulhas e seringas encontradas nos sacos de lixo são intermináveis.
“Há poucos dias um companheiro nosso aqui do lixão espetou um arame no dedo, não conseguimos retirar na hora, apenas cortamos e ele voi levado ao hospital, mas a vida é assim mesmo, precisamos trabalhar e se corremos risco é para sustentar as nossas famílias”, salientou o catador Lúcio da Silva Gonçalves, 27 anos, casado, pai de dois filhos e que há dez anos vasculha todos os dias no Aterro Controlado.
Os riscosEm contato direto com todo o tipo de lixo e sem os equipamentos de segurança adequados, os catadores são vetores potenciais de doenças que podem ser extremamente danosas além de ter seqüelas irreversíveis. Organizados apenas pela vontade de trabalhar, os catadores receberam a reportagem de A Platéia com desconfiança, por não saber ao certo do que se tratava a visita. “Precisamos trabalhar, somos conscientes dos riscos que corremos aqui todos os dias, mas a necessidade fala mais alto e aqui no Aterro é possível garantir um salário igual ou superior ao que é pago por muitas lojas no centro da cidade. É verdade que para obter esses valores precisamos trabalhar de oito a dez horas por dia sem parar, mas no final acaba compensando”, frisou Luciano.
No local, os catadores estão em contato com fezes e urina de ratos além dos cachorros que foram vistos circulando pelo local em grande número. Com isso, o risco de adquirir leptospirose - (também chamada de Mal de Weil ou Síndrome de Weil em seu quadro mais severo, é uma doença bacteriana que afeta seres humanos e animais e que pode ser fatal) ou Hidatidose - ( doença parasitária que acomete o homem e outros animais. O cão é o hospedeiro definitivo, albergando o verme adulto que libera as proglotes grávidas contendo os ovos que chegam ao ambiente junto com suas fezes. Esses ovos contaminam a água, o solo) - aumenta significativamente.
(
A Platéia, 03/09/2007)