A vontade de Pyongyang de obter armas nucleares começou na Guerra da Coréia (1950-53), quando os Estados Unidos ameaçaram em várias oportunidades lançar a bomba atômica contra o país comunista, e a paranóia se intensificou após a invasão do Iraque em março de 2003. Desde crianças, os norte-coreanos rodeados pela propaganda do regime, conviviam com a afirmação de que o imperialismo americano tinha como único objetivo aniquilar o paraíso operário da península coreana com um ataque nuclear.
Os sul-coreanos, por sua vez, aliados de Washington, temiam um ataque do vizinho do norte. Terminada a Guerra da Coréia, Pyongyang se dedicou a construir a bomba atômica, ao se ver cercada pelos mísseis de Washington localizados na Coréia do Sul e Japão. Com essa finalidade, o regime comunista assinou um acordo com Moscou nos anos 50 que permitiu formar na União Soviética centenas de cientistas.
Por volta de 1960, começou a construção de um complexo de pesquisa nuclear em Yongbyon, ao norte da capital norte-coreana. Os soviéticos ajudaram com a montagem de um reator que esteve em operação em 1965. Em 1974, a China aceitou formar cientistas norte-coreanos e cinco anos depois começavam as obras de um segundo reator, também em Yongbyon, com cinco megawatts de potência, que começou a ser operacional em 1987 com uma produção anual de cerca de sete quilos de plutônio.
No fim da década de 1980, os norte-coreanos começaram a tratar combustível radioativo e chegaram a extrair uma dezena de quilos de plutônio, suficientes para construir duas bombas nucleares. Em 1994, Pyongyang assinou um tratado com os Estados Unidos pelo qual se comprometia a congelar seu programa nuclear militar em troca da construção de reatores para seu programa civil. Mas em 2002 Washington denunciou que o acordo havia sido violado: a Coréia do Norte havia suspendido seu programa militar à base de plutônio, mas havia iniciado outro - secreto - de enriquecimento de urânio.
A invasão em 2003 do Iraque, outro país incluído como parte do "eixo do mal" pelo presidente dos EUA, George W. Bush, deu às autoridades norte-coreanas a certeza da "hostilidade" de Washington, argumento repetido exaustivamente para justificar a recusa do regime comunista a participar das novas negociações internacionais. Pyongyang assegura que Saddam Hussein foi derrotado por não possuir armas nucleares.
"A guerra no Iraque é uma lição que nos diz ser necessário possuir um importante poder de dissuasão", chegou a declarar um porta-voz da chancelaria norte-coreana um mês depois da invasão americana. Em maio de 2005, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, Mohamed ElBaradei, estimou que os norte-coreanos possuíam "cerca de seis bombas".
Segundo especialistas, esse desenvolvimento não teria sido possível sem a ajuda de Abdul Qadeer Khan, pai da bomba nuclear paquistanesa, que reconheceu ter vendido seus conhecimentos a vários países, incluindo a Coréia do Norte.
(
AFP, 01/09/2007)