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2007-09-03
Desde o lançamento do documentário An Inconvenient Truth, Al Gore se tornou o queridinho dos ambientalistas, mas o filme não reforçou sua fama entre os defensores dos direitos dos animais. De acordo com eles, a mais inconveniente das verdades é que criar animais para fornecer carne contribui mais para o aquecimento global do que todos os utilitários esportivos do planeta somados.

Os maiores grupos de defesa dos direitos dos animais nem sempre têm sobreposição de missões, mas agora decidiram se unir em torno da mensagem de que comer carne faz mais mal ao meio ambiente do que se deslocar de automóvel. Reforçados por grupos menores, eles começaram a veicular campanhas publicitárias que tentam vincular vegetarianismo e a redução dos gases causadores do efeito-estufa.

Reações adversas a essa posição são inevitáveis, reconhecem os grupos, mas eles dispõem de munição científica. No final de novembro a Organização de Agricultura e Alimentos (FAO) das Nações Unidas divulgou um relatório segundo o qual a criação de gado gera mais emissões de gases do efeito-estufa do que todas as formas de transporte combinadas.

Quando o relatório surgiu, a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) e outros grupos esperavam que as organizações ecológicas aderissem ao tema vegetariano, mas isso não aconteceu. "Os ambientalistas continuam apontando para os jipes e utilitários como culpados pela poluição, quando deveriam estar apontando para as cozinhas", disse Matt Prescott, diretor de campanhas vegan da PETA.

Assim, os grupos de defesa dos direitos animais estão se mobilizando por conta própria. A PETA comprou um Hummer, que será dirigido por um motorista vestido de galinha e exibirá uma faixa de vinil na qual a carne será apontada como principal causa do aquecimento global. A organização enviará o veículo à cerimônia de abertura do fórum sobre o clima que a Casa Branca promoverá em Washington em 27 de setembro, "e às sedes dos grupos ambientais, se eles não tomarem jeito", advertiu Prescott.

Ele disse que a PETA havia escrito a mais de 700 grupos ambientais, pedindo que promovam o vegetarianismo, e que em breve começaria a distribuir panfletos que destacam o impacto do consumo de carne sobre o aquecimento global.

"Não se pode ser ambientalista e comer carne", diz Prescott, cujo grupo também planeja enviar caminhões publicitários ao Centro de Convenções do Colorado, em 2 de outubro, durante uma palestra de Al Gore. Os cartazes mostrarão um desenho de Gore começando uma coxa de galinha, com a assinatura: "Medo de ser vegetariano? A carne é a maior causa do aquecimento global".

A Sociedade de Proteção aos Animais dos Estados Unidos encampou a causa, publicando anúncios em revistas ambientais nos quais uma chave de carro e um garfo são exibidos lado a lado. "Qual desses objetos contribui mais para o aquecimento global?", pergunta o texto. A resposta afirma que "não é aquele que dá a partida em um carro", e menciona como prova o relatório da ONU.

Em sua página da Web e em suas publicações, a sociedade também vem destacando outros estudos científicos, entre os quais relatório publicado recentemente pela Universidade de Chicago, os quais em resumo demonstram que "a adoção de uma dieta de base vegetal faria mais por reduzir o aquecimento global do que a troca de um utilitário esportivo por um Camry", disse Paul Shapiro, diretor geral da campanha vegetariana da organização.

A sociedade, segundo Shapiro, não está preocupada apenas com o que acontece com os animais domesticados, mas também com impedir a carnificina que o aquecimento global poderia causar entre os ursos polares, focas e outras formas de fauna. "Nossa missão é proteger os animais, e o aquecimento global se tornou uma questão de bem-estar animal", disse.

Até mesmo as menores operações vegetarianas estão começando a utilizar parte de seus orçamentos minúsculos para alardear a conexão entre o consumo de carne e o aquecimento global. A Vegan Outreach, organização criada 14 anos atrás em Tucson, Arizona, com apenas três funcionários em tempo integral e orçamento anual de US$ 5 milhões, está gastando cerca de US$ 800 este mês para veicular anúncios e links para seu site em 10 blogs. E passará a dar mais destaque ao aspecto de aquecimento global da doutrina vegetariana, em sua próxima leva de panfletos.

"Sabemos que as organizações vegetarianas ocasionalmente fazem alegações de saúde e ambientais exageradas, mas o relatório da ONU é uma fonte imparcial e incontestável de informações que podemos citar", disse Matt Ball, diretor executivo da Vegan Outreach. Como Prescott, Ball está irritado com o fato de que pessoas conhecidas, como Gore, ou grupos ambientais dotados de mais recursos do que o seu, não tenham aderido ao esforço.

"Al Gore classifica o aquecimento global como risco à existência da humanidade, mas isso não o levou a mudar o que come ou até mesmo a mencionar o vegetarianismo", ele se queixou. "E creio que os ambientalistas calculem que é muito mais fácil pedir que as pessoas usem lâmpadas fluorescentes em lugar de pedir que usem tofu em sua dieta".

Os especialistas em publicidade advertem que essa nova atenção ao aquecimento global pode resultar em inimigos para a causa, e não só em novas adesões. "Usa o aquecimento global como tática para promover a causa vegetariana parece um tanto oportunista", disse Hank Stewart, redator sênior da Green Team Advertising, uma agência de publicidade especializada em peças com temas ecológicos.

Stewart questiona igualmente o aspecto logístico: "O anúncio deve ser visto o mais próximo possível do momento da compra, mas não imagino que supermercados permitam campanhas contra carnívoros destruidores da Terra em suas prateleiras ou sistemas de som".
(NYT/Iparaiba, 01/09/2007)


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