A desertificação afeta atualmente 200 milhões de pessoas, mas até um terço da população - ou 2 bilhões de pessoas - vive em zonas de risco, segundo um estudo das Nações Unidas.Para estudar este problema e elaborar uma estratégia de 10 anos para conter a seca que ameaça a população mundial, dois mil delegados estarão na capital espanhola a partir desta segunda-feira (03/09) e nas próximas duas semanas participando da VIII Conferência da ONU sobre a luta contra a desertificação.
Políticos e especialistas de quase 200 países, além de representantes de 800 organizações não-governamentais participam do evento.
"A maioria das pessoas não se dá conta da magnitude do problema, que está crescendo muito rapidamente", declarou à AFP Zafaar Adeel, chefe da rede internacional da água da Universidade da ONU, que coordenou o estudo das Nações Unidas.
Ele destaca que "há uma concepção errônea segundo a qual a desertificação só acontece em zonas remotas da África", mas na verdade "afeta amplas áreas da Ásia, América Latina e algumas partes do sul da Europa".
"Sabemos porque os solos se degradam e o que fazer para evitar que isso aconteça. Agora devemos passar do conhecimento para a ação", declarou a ministra espanhola do Meio Ambiente, Cristina Narbona, durante uma coletiva de imprensa para apresentar a conferência.
A África Subsaariana e a Ásia Central são as regiões mais vulneráveis à desertificação, mas o problema atinge todos os continentes, adverte o estudo, elaborado por cerca de 200 especialistas de 25 países.
Os prejuízos resultantes da degradação da terra são estimados em 65 bilhões de dólares (47,6 bilhões de euros), segundo o estudo.
O processo também afeta zonas não desérticas com tempestades de areia que prejudicam a qualidade do ar, como as do deserto de Gobi, na China, e do sul da Mongólia, que poluem o ar no Japão, na Coréia do Sul e até na costa oeste da América do Norte.
O fenômeno também leva alguns povos a emigrar para zonas mais verdes, como é o caso dos emigrantes subsaarianos, que partem em direção ao norte da África e à Europa, explica Adeel.
Caso não se tome nenhum tipo de medida, a ONU alerta que 50 milhões de pessoas podem imigrar na próxima década.
Outras causas da desertificação são o cultivo intensivo, o desmatamento, as práticas de irrigação não-sustentáveis, a superpopulação e as mudanças climáticas.
A reunião de Madri será a oitava conferência realizada entre os 191 países signatários da Convenção para a Luta contra a Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), adotada em Paris em junho de 1994.
A conferência acontece a cada dois anos, a última delas em Nairóbi, em outubro de 2005.
A Espanha é um dos países mais vulneráveis da Europa. Mais de um terço da superfície do país está sob "risco significativo" de desertificação, segundo o ministério espanhol do Meio Ambiente, que colabora na organização do evento.
O sudeste do país e as ilhas Canárias, que ficam em frente à costa marroquina, são as zonas mais atingidas.
A ministra do Meio Ambiente anunciou nesta sexta-feira que irá propor a seus pares da União Européia (UE) durante uma reunião em Lisboa, no sábado, a criação de um Centro Europeu para a Seca e a Desertificação, com sede na Espanha.
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G1, 02/09/2007)