Reestatização da companhia, segundo o texto privatizada por FCH 'num leilão fraudulento', foi quase unânimeEm contradição com o próprio governo do PT, o 3º Congresso Nacional do partido aprovou neste sábado, 1º, sem que ninguém defendesse contra e quase por unanimidade, o apoio ao plebiscito sobre a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, por R$ 3 bilhões.
A consulta já começou: está programada para 1 a 7 de Setembro, Semana da Pátria, como parte do 13º Grito dos Excluídos, cujo tema será "Isto não vale: queremos participação nos destinos da nação". É promovida por organizações sindicais e sociais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Duas propostas de emenda em favor do plebiscito chegaram a ser apresentadas, mas os partidários de uma a retiraram em favor da outra. O presidente dos trabalhos, Valter Pomar, perguntou quem defenderia contra a proposição. Ninguém se apresentou. "Acho que está faltando, no Brasil hoje, fazer disputa política, disputa ideológica", afirmou, em defesa da emenda, o ex-presidente da CUT João Felício. Ele disse que os empresários "encurralam o governo".
Cauteloso, o sindicalista afirmou que o objetivo da emenda não era estabelecer uma "camisa de força" para o governo federal. "Não estamos fazendo o jogo do esquerdismo infantil, que formulou quatro questões. Estamos formulando apenas uma pergunta (sobre a Vale). Com o plebiscito, não vamos estimular o governo a reestatizar a Vale ou não. Estamos apenas dizendo à sociedade brasileira que o governo passado fez uma fraude, vendeu a Vale do Rio Doce por R$ 3 bilhões, e hoje a empresa vale mais de R$ 50 bilhões."
Antes de retirar a proposta que defendia, a delegada Misa Boito, do grupo trotskista O Trabalho, lembrou os processos políticos em curso na Venezuela e Bolívia, onde governos de esquerda de Hugo Chávez e Evo Morales, respectivamente, nacionalizam companhias privadas. Também destacou o governo de Rafael Corrêa no Equador e pregou a necessidade de enfrentar a reação "dos mercados" à proposta.
O texto aprovado afirma que a Vale foi privatizada "num leilão fraudulento" e diz que, em dezembro de 2005, foi reaberta uma ação popular que questiona a privatização da empresa, tendo sido "retomada luta pela recuperação da Vale através da campanha pela anulação". Também estabelece que o PT vai inclusive organizar a coleta de votos nos diretórios municipais e zonais em todo o Brasil, "somando-se à ampla organização social já em movimento. Apóiam a proposta, entre outros, a ex-deputada Luci Choinacki e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias.
A idéia de reestatização da Vale causa desconforto no governo federal. Além de ir contra a idéia de dar "segurança jurídica" aos negócios no País, protegendo os investimentos privados, atingiria o patrimônio, por exemplo, da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.
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Estadão, 01/09/2007)