Já se passaram cinco anos desde a realização da Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável em Johannesburgo, África do Sul. Nela, as nações do mundo se comprometeram a realizar todos os esforços necessários para conseguir a implantação de modelos de desenvolvimento sustentáveis.
Estes paradigmas não são objetivos em si mesmos, senão ferramentas para se alcançar, em um prazo não distante, condições sociais, políticas, econômicas e ambientais justas e equilibradas. Para se ter uma idéia aproximada de qual é a gigantesca tarefa que temos pela frente, é um bom exercício lembrar quais são os grandes problemas que devemos resolver.
A Declaração de Johannesburgo identifica tais problemas em vários grupos, começando pelo que classifica como o mais importante e urgente: a erradicação da pobreza, a modificação de modos insustentáveis de produção e consumo, e a proteção e ordenação da base de recursos naturais para o desenvolvimento social e econômico.
E segue-se um assunto intimamente relacionado: a cada vez maior fissura que divide a sociedade humana entre ricos e pobres, de alguma maneira refletida também no constante distanciamento entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento, algo que ameaça gravemente a prosperidade, segurança e estabilidade mundial.
No entorno disso, a crise global é inquestionável. Continua a perda de diversidade biológica, algo que ameaça a própria sobrevivência dos seres humanos. Cada vez são mais evidentes os efeitos adversos das mudanças climáticas, especialmente a potencialização dos desastres naturais em todas as partes do mundo, deixando um rastro de morte, dor, devastação e miséria. Aumentam os níveis de contaminação da água, do ar, da terra e dos mares, o que priva milhões de seres humanos de uma vida digna.
Na declaração também se dá uma expressiva atenção à globalização, assinalando-se que o atual processo agregou uma nova dimensão aos problemas da humanidade assinalados. De que maneira? Mediante os díspares resultados da rápida integração dos mercados, a mobilidade de capital e os aumentos nos fluxos de investimentos em todo o mundo. Os benefícios e custos da globalização não se distribuem de forma parelha. Para nossos países é ainda mais difícil enfrentar as conseqüências.
Mas esta situação geradora de importantes problemas, por outro lado oferece novas oportunidades para a implementação do desenvolvimento sustentável. Nossa região conta com a maior concentração de recursos naturais do planeta, e com um capital humano capaz de reverter a sua crônica situação de subdesenvolvimento, falta de eqüidade e gestão insustentável da biodiversidade. O que estamos esperando?
Se não conseguirmos reverter tantas assimetrias e injustiças, é provável que a sociedade perca a fé e a confiança no sistema democrático. Quantos destes grandes problemas a resolver, apontados na Declaração de Johannesburgo, estão caminhando para uma solução? Nenhum!
A Cúpula elaborou um extenso e detalhado Plano de Aplicação das decisões tomadas na reunião das Nações Unidas. Mas, mais uma vez, tratam-se de belas palavras e excelentes intenções que não mobilizam os grandes tomadores de decisões.
(Por Hernán Sorhuet*, El País /
EcoAgencia, 30/08/2007)
*O autor é jornalista e articulista do El País, de Montevidéo, com publicação no Brasil autorizada para a EcoAgência. Tradução de Ulisses A. Nenê.