O governador Jaques Wagner (PT) se comprometeu ontem a interceder junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido da retomada do diálogo sobre o projeto de transposição no Velho Chico. O gestor baiano recebeu durante duas horas a comitiva de contrários à proposta da Caravana Nacional em Defesa do Rio São Francisco e do Semi-Árido: contra a Transposição. Jaques Wagner permanece favorável à obra, realizada pelo Ministério da Integração Nacional. A polêmica sobre a transposição será tema de um pronunciamento em rede de nacional do ministro da Integração Nacional, o baiano Geddel Veira Lima, amanhã, à noite, ele mesmo contrário à obra antes de assumir o cargo no governo Lula.
“Eu vou levar ao presidente esse pedido da caravana, de reabertura do diálogo”, observou o governador. Ex-ministro em três pastas do primeiro governo Lula, Wagner foi o negociador da União durante a greve de fome do bispo de Barra, dom Luiz Cappio, em 2005. Em seguida, um fórum de conversação com a sociedade foi constituído. Interrompido durante o período eleitoral de 2006, o diálogo nunca mais foi retomado.
O governador reconheceu, na entrevista coletiva após a audiência com a caravana, que a transposição em si não trará benefícios, porém garantiu que “todo o programa de revitalização é um ganho para a Bahia”, destacando que esse trabalho começou até mesmo antes das obras iniciarem, atualmente praticamente paradas devido a pendências judiciais. O gestor aproveitou para divulgar o programa Água para Todos, que lança hoje de manhã – um investimento previsto de R$1,2 bilhão em ações de recursos hídricos e saneamento.
O coordenador da caravana e do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer, classificou como positivo o encontro com o gestor da Bahia, ocorrido na Governadoria, das 12h às 14h. “Ele nos recebeu muito bem, ouviu, deu sua opinião, não fugiu do debate. Fez um exercício democrático muito positivo”, avaliou. Depois de visitar sete estados e o Distrito Federal, a caravana só havia sido recebida por um governador – Aécio Neves (PSDB), de Minas Gerais e também teve encontro com o vice-presidente da República, José Alencar.
Apolo Heringer disse que depois desse périplo, os conhecedores do Rio São Francisco que integram a Caravana – professores universitários, promotores, integrantes de ONGs e membros de comunidades tradicionais – têm melhor consciência da realidade do semi-árido e da bacia, podendo contribuir mais para o debate. Segundo ele, a conversa com Lula servirá para que um lado ouça a posição do outro. A intenção do grupo, afirmou, “não é mudar completamente o projeto, mas diminuir suas conseqüências na forma atual”.
A postura de Jaques Wagner favorável à obra foi criticada numa passeata que membros da caravana promoveram da Reitoria da Ufba à Praça da Piedade em paralelo ao encontro na Governadoria. Para a secretária regional da Cáritas Brasileira, Cleusa Alves, a posição do gestor sempre foi negativa. “Nós, dos movimentos sociais, sempre tivemos uma postura clara e sabemos que os caminhos não são as megaobras”. Segundo ela, iniciativas como a da Agência Nacional de Águas (ANA) – responsável pelo Atlas Nordeste, centenas de obras de menor porte consideradas mais adequadas à convivência com o semi-árido – são válidas e importantes. “São R$3 bilhões em ações de menor porte e mais eficazes, contra R$6,6 bilhões para a transposição. A grande obra não faz sentido”, avalia.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), Jonas Duarte, o governador apenas segue as diretrizes do governo federal, por isso apóia o projeto. “Jaques Wagner era o interlocutor do assunto no governo Lula, mas desde as eleições presidenciais, ele fechou o canal de comunicação para debater o tema”, emendou.
(Correio da Bahia, 31/08/2007)