Toda vez que o calor dá as caras em Santa Maria é a mesma coisa: a população consome mais água, a barragem do DNOS reduz o volume e, em pouco tempo, o fenômeno "torneiras secas" se multiplica. Donas-de-casa ficam sem lavar roupa e louça, alunos não podem tomar banho antes de ir à escola, trabalhadoras têm de fazer a faxina de madrugada e garrafas plásticas cheias de água se acumulam nas casas.
Ontem, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) deu uma gota de esperança aos santa-marienses ao anunciar uma operação contra o desperdício, que pretende evitar as cenas descritas acima. A Zona Oeste é a primeira região a receber as equipes que vão detectar vazamentos, substituir hidrômetros e localizar ligações clandestinas. Essa medida deve evitar o racionamento e fazer com que o líquido chegue a todas as casas, mesmo as localizadas em lugares mais altos.
Somados, moradores dos bairros Boi Morto, Agro-Industrial, Jucelino Kubistchek, Pinheiro Machado, Nova Santa Marta, São João e Tancredo Neves, todos da Zona Oeste, representam cerca de 42 mil pessoas. São quase 500 milhões de litros consumidos a cada mês. A Corsan estima que cerca de 50% dessa água seja desperdiçada e espera reduzir essa marca.
A operação é parte do projeto Com + Água, do governo federal. Em 2005, a unidade de saneamento local participou de um concurso nacional e foi uma das 10 escolhidas para fazer um projeto contra o desperdício de água com o Ministério das Cidades. Apesar de o planejamento e treinamento de pessoal estar sendo feito nos últimos dois anos, é neste mês que ele vira prática.
Entre as ações estão o mapeamento e o combate de focos de vazamento. Por enquanto, já foram encontrados cem pontos que precisam de conserto. Equipes estão percorrendo todas as ruas. Nem os vazamentos que estão debaixo do solo escapam. Equipamentos metálicos são usados para identificar os locais onde os canos precisam de remendos ou têm de serem trocados.
O trabalho As equipes também vão visitar todas as casas que não têm hidrômetro. A expectativa é instalar cerca de 5 mil aparelhos e fazer com que os moradores se preocupem mais com a quantidade de água consumida (veja quadro ao lado). Para entrar nas casas, a Corsan precisa da autorização do dono. A intenção também é regularizar a situação das ligações clandestinas, conhecidas como gatos, e fazer com que as famílias comecem a pagar a conta.
Na casa da doceira Nara Graciolli, 54 anos, na Cohab Tancredo Neves, a troca do hidrômetro já ocorreu. Ela reclamou à Corsan que a conta andava "salgada" demais. Desconfiada de que o aparelho estava com problemas, fechou o registro da água e percebeu que o ponteiro continuava girando, o que é irregular. Como na região onde ela mora falta água sempre, o projeto a deixou animada:
- A iniciativa é boa.
ExemploOutro ponto do projeto será equilibrar a rede de abastecimento. Serão instaladas válvulas que devem acabar com o problema de falta em áreas mais altas da cidade por causa da baixa pressão nos canos. A previsão é que a pressão fique igual para toda a cidade, e a distribuição seja mais uniforme. Depois que a Corsan terminar a Zona Oeste - a previsão é abril de 2008 - , o projeto será levado para outras regiões. Quando tudo estiver pronto, Santa Maria deve servir de modelo para outras cidades gaúchas e ajudar a multiplicar a idéia de economia. Boa inciativa enquanto a sonhada adutora - promessa da Corsan para que a cidade não sofra mais com a falta de água - esteja funcionando. Por enquanto, a obra prevista para estar funcionando em partes no verão de 2008 ainda nem começou.
Tire suas dúvidasO que é e qual a função do hidrômetro? É Um aparelho que mede o consumo de água. Toda vez que um consumidor abre a torneira, o chuveiro etc, o equipamento é acionado para registrar a quantidade de água consumida. É ele que indica quantos litros a pessoa usou durante o mês, o que resulta no preço da conta cobrada pela Corsan.
Qual a vantagem de ter um hidrômetro em casa? Pagar somente pela quantidade de água consumida. As casas que não têm o aparelho pagam uma taxa fixa pelo serviço (R$ 42, categoria normal, e R$ 16, tarifa social). Segundo a Corsan, ele ajuda a reduzir os gastos porque ninguém quer ter a conta muito alta, o que faz com que diminua o desperdício
O hidrômetro pode registrar um gasto maior do que o consumido? Sim. Mas, nesses casos, o aparelho está com defeito. Para trocá-lo, é preciso ir à Corsan e pedir a troca. Uma equipe recolherá o aparelho, que passará por uma avaliação.
Como descobrir se há vazamento em casa? Feche o registro da casa. Depois, olhe se o ponteiro do hidrômetro continua girando. Se sim, é porque a água está indo para algum lugar. Como o hidrômetro só registra a água que entra nas casas, significa que o problema não é de rede e, sim, do pátio. Nesse caso, a responsabilidade de consertar é do dono da casa.
O consumidor paga pelo hidrômetro? Não. A Corsan não cobra pelo aparelho. O único custo é para quem ainda não é cadastrado na companhia é pagar a taxa de ligação de água (R$ 26,56).
O hidrômetro precisa ser trocado de tempo em tempo? A vida útil do aparelho é de oito anos. Depois, não há garantias de que ele funcionará adequadamente. Se seu aparelho estiver ultrapassado, chame a Corsan para trocá-lo.
O que ocorre se o hidrômetro for adulterado? Tem gente que usa truques como furar ou quebrar o hidrômetro para ele marque um consumo menor. Se a Corsan descobrir, a pessoa que tem a conta em seu nome pode pagar uma multa que varia de R$ 80,94 a R$ 407,86.
É possível recorrer da multa? Sim. A Corsan deixa os hidrômetros guardados. O usuário pode tentar comprovar que não foi ele quem fez o estrago. Para isso, é preciso ir à sede da companhia e entregar um documento com a defesa.
E quem tiver alguma reclamação sobre a operação desperdício ou qualquer outra coisa? A Associação de Defesa do Consumidor orienta quem tiver dúvidas sobre cobrança indevida. O serviço funciona das 8h30min às 11h30min. Informações pelo (55) 3027-3747.
Como contatar a Corsan- Endereço - Rua Coronel Niederauer, 1.355
- Telefone - (55) 3220-2200 e 3222-4670
FuturoDentro de 20 anos, cerca de dois terços da população mundial devem enfrentar escassez de água. Atualmente, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água potável
(Por Marilice Daronco,
Diário de Santa Maria, 31/08/2007)