A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, não recebeu a bancada federal capixaba nesta quarta-feira (29). Os parlamentares que seriam recebidos em audiência são contrários à criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Santa Cruz e da Área de Preservação Ambiental (APA) Costa das Algas, no litoral norte. Impossibilitada de atender os parlamentares, a ministra delegou a missão a um assessor.
Irritados por esperar mais de uma hora, os parlamentares debandaram. A bancada federal capixaba é contra a preservação do litoral norte apenas para defender o interesse de alguns setores do empresariado. E mantém acirrada campanha contra a criação das duas unidades de conservação em Brasília, onde contabilizam o apoio do ministro de Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, que chegou a anunciar que pediria o veto à criação do Revis e da APA.
Listados contra a defesa do litoral capixaba por serem contra o Revis e a APA estão os deputados Neucimar Fraga (PR), Rita Camata (PMDB), Camilo Cola (PMDB), Jurandy Loureiro (PTB), Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), Lelo Coimbra (PMDB). E ainda os senadores Gerson Camata (PMDB) e Renato Casagrande (PSB).
O governador Paulo Hartung também é contra as unidades de conservação. Na esfera política, também não aceitam o Revis de Santa Cruz e a APA Costa das Algas os prefeitos Ademar Devens, de Aracruz, e Guerino Balestrassi (PSB), de Colatina, esse também presidente da associação dos prefeitos, a Amunes, entre outros. Somam forças aos empresários ligados ao Movimento Espírito Santo em Ação.
Os políticos e os empresários fazem campanha contra a criação das unidades de conservação usando dados falsos, como a perda de empregos no litoral norte. As mentiras estão sendo contestadas pelas entidades que propuseram a proteção ambiental da região, que recorreram à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e ao presidente Lula.
A campanha dos parlamentares encontrou resistência na ministra Marina Silva. No último dia 22 a ministra assegurou que o projeto continuará tramitando. Informou que responderá ponto por ponto os questionamentos dos parlamentares capixabas, segundo divulgou em site a deputada federal Iriny Lopes (PT-ES), única parlamentar capixaba que apóia a criação das unidades de conservação.
A deputada Iriny Lopes entende que posição da bancada "será uma porta aberta para a deterioração do meio ambiente, facilitando a exploração da reserva de calcário em Santa Cruz. A posição da ministra reflete essa preocupação com os recursos naturais". No seu site informou ainda que a ministra Marina Silva assegurou que também responderá a todos os itens questionados pela ONG Espírito Santo em Ação.
As entidades que defendem a preservação do litoral capixaba denunciam que o "Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação forja argumentos infundados e protelatórios tais como a alegação de que haverá impactos aos negócios futuros, que destruirá a pesca, e até prejuízos à área agricultável. Tais alegações de todo se configuram desprovidos de razão frente aos cuidados técnicos e jurídicos conferidos ao projeto das Unidades de Conservação de Santa Cruz".
E, entre outros pontos, afirma que "dessa forma, negando-se à responsabilidade socioambiental que deve nortear os grupos empresariais modernos, este lobby visa também favorecer a mineração de calcário do fundo marinho local, o que induzirá a um colapso total e irreversível da pesca e da biodiversidade dos manguezais e do mar a curto prazo".
No seu apelo ao presidente da República, depois de apresentar outros argumentos sobre a necessidade de criar o Revis de Santa Cruz e a APA Costa as Algas, as entidades finalizam: "Afinal, as áreas protegidas no mar do Espírito Santo beneficiarão as gerações do presente e do futuro e conservarão os dons que Deus reservou ao Brasil!".
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 31/08/2007)