A morte de uma égua sem nome, comprada recentemente por R$ 135, virou tema único ontem em Tavares - a 230 quilômetros da Capital - ao ser encontrada sem o couro, com três patas amputadas, um saco plástico na cabeça e uma estaca de um metro enfiada no ânus.
Testemunhas disseram que o animal já estava morto algumas horas antes de ser retalhado, mas a Brigada Militar afirma que quem retirou o couro é responsável pela morte.
- Se já havia morrido, por que o saco na cabeça? - questionou o sargento João Anchete da Silva, que passou a noite em claro e continuava em serviço ontem à tarde em função da agitação na cidade de 5,5 mil habitantes.
A égua pertencia ao agricultor João Ireno Machado Rodrigues, 50 anos. Foi comprada na segunda-feira, segundo ele. Estava fraca e ferida na pata direita - a única que não foi arrancada pelos retalhadores - , mas João pretendia recuperá-la para puxar uma carroça. No caminho para suas terras, viu que ela não agüentaria e deixou-a no local onde acabaria morrendo - uma estrada de chão alguns quilômetros distante do Centro. Apesar disso, garante ter sido zeloso até o fim.
- Levei remédio e comida para ela. Pensei que fosse ficar boa. Mas acho que morreu de frio - diz.
A égua foi enterrada pela prefeitura próxima ao local onde foi encontrada. João, que planta cebola, não ficou tão abalado com a perda porque tem oito cavalos e achava ter feito mal negócio. A morte e até a retirada do couro e das patas - que podem servir para rebenques, rédeas, botas e cabos de faca - não surpreenderam tanto os moradores quanto a empalação da égua.
- É chocante - resumiu o prefeito Gilson Terra, inclinado pela hipótese de que o animal já estava morto no momento.
- É uma crueldade, uma coisa horrível até de pensar - disse, em frente à prefeitura, a aposentada Alventira da Costa, que viu a égua "caída, mas não morta" um dia antes, ao passar de carro com o marido pelo local.
Do outro lado da rua, à mesa de um bar, o pescador Rui da Costa e o agricultor Luiz da Silva também repugnavam-se ao imaginar a cena.
- O cara tinha de estar emaconhado - dizia o primeiro.
- Tanta gente boa aqui, por que fariam uma coisa dessas? - indagava o segundo.
No mesmo bar, menos enojado, o dono do estabelecimento, Maurício Sinval, parecia ter a resposta:
- Foi um mal-entendido.
E então explicou, sob a atenção dos clientes:
- Como o animal estava morto, aproveitaram para fazer utensílios de gaúcho. A estaca no ânus serve para girar o animal enquanto se retira o couro. Foi isso.
E rapidamente emendou:
- Mas não fui eu.
Apesar do rebuliço, o caso demorou a sair do posto da BM e chegar à delegacia. À tarde, o investigador Ademir Eugênio sabia do assunto de ouvir falar, mas ainda aguardava o boletim para registrá-lo num livro como a 261ª ocorrência do ano na cidade, logo abaixo de alguns furtos e de um caso descrito como "canúlia".
(Por Marcelo Fleury,
Zero Hora, 30/08/2007)