A humanidade é culpada pela mudança climática, mas os governos ainda têm tempo de reduzir o ritmo dos danos a um custo razoável, desde que ajam rapidamente, segundo um relatório preliminar da ONU. Salientando a necessidade de rapidez, o texto diz que será praticamente impossível alcançar a meta da União Européia de um aquecimento global máximo de 2 graus em relação às médias da era pré-industrial.
O estudo de 21 páginas, a ser divulgado em novembro, esboça possíveis reações ao aquecimento global, mas alerta que alguns impactos já são inevitáveis, como o aumento gradual no nível do mar, que deve durar séculos. O relatório, ao qual a Reuters teve acesso com exclusividade, faz um resumo das 3.000 páginas de pesquisas divulgadas neste ano em três etapas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, tratando de ciência, dos possíveis impactos e dos custos para conter o aquecimento.
O novo relatório, destinado a orientar ações de governos, reitera que os humanos são os responsáveis pela mudança climática, mas diz que há tecnologias "limpas" que podem compensar as emissões nocivas de gases do efeito estufa. "A maior parte do aumento observado nas temperaturas médias globais desde meados do século 20 muito provavelmente se deve ao aumento observado nas concentrações antropogênicas (provocadas pelo homem) dos gases do efeito estufa", diz o texto.
Esse "muito provavelmente" significa uma probabilidade superior a 90 por cento. Em seu relatório anterior, de 2001, o Painel Intergovernamental da ONU considerava a hipótese apenas "provável", ou seja, com probabilidade de pelo menos 66 por cento. Os relatórios reúnem o trabalho de 2.500 cientistas do mundo todo.
O texto contém ainda uma tabela indicando danos que estão se agravando, como o branqueamento de corais, inundações costeiras, aumento nos gastos com tratamentos médicos, mortes provocadas por ondas de calor e aumento no risco de extinção de espécies animais e vegetais.
Mas o texto diz que "muitos impactos podem ser evitados, reduzidos ou adiados" com reduções nas emissões de gases do efeito estufa, resultantes especialmente da queima de combustíveis fósseis. Entre as opções propostas estão pesquisas por maior eficiência energética, uso mais amplo de energias renováveis, mercados de carbono ou técnicas para enterrar o dióxido de carbono produzido por usinas termoelétricas a carvão.
O relatório diz que o custo de tais iniciativas seria aceitável para a economia mundial. O PIB global em 2030 teria uma queda de até 3 por cento no cenário mais radical, no qual as emissões de carbono atingiram seu auge dentro de 15 anos. Outras metas menos difíceis de atingir cobrariam apenas uma pequena fração do PIB global até 2030.
O relatório será divulgado em 17 de novembro em Valência (Espanha), após ser revisto pelos governos. Haverá um outro sumário, ainda mais enxuto, de cinco páginas. O texto visto pela Reuters está datado de 15 de maio, mas uma versão atualizada foi escrita neste mês para incluir sugestões de governos, segundo cientistas. O relatório reitera que a temperatura média do planeta deve subir de 1,8 grau a 4 graus neste século, e que o nível dos mares aumentará de 18 a 59 centímetros.
Mas, mesmo que as emissões de gases do efeito estufa sejam contidas, os mares continuarão subindo nos próximos séculos, talvez até 3,7 metros sobre o nível atual, só por causa da expansão das águas, já que as profundezas continuariam, durante muito tempo, recebendo reflexos do calor da superfície. Essa estimativa não leva em conta o eventual acréscimo pelo degelo da Groenlândia e da Antártida, por exemplo.
(Por Alister Doyle,
Reuters, 29/08/2007)