Os EUA elogiaram na quarta-feira (29/08) os esforços feitos pelos países em desenvolvimento para limitar as emissões de gases do efeito estufa, adotando uma postura diferente da costumeira, pela qual exigem que grandes poluidores como a China e a Índia intensifiquem suas ações de combate ao aquecimento global.
O principal negociador norte-americano para as questões climáticas, Harlan Watson, menosprezou as desavenças existentes com a União Européia (UE) em torno do Protocolo de Kyoto, afirmando que há mais áreas de concordância que de discordância a respeito das políticas de combate às alterações climáticas.
Segundo ambientalistas, os EUA, no encontro sobre o clima realizado atualmente em Viena, pareciam ansiosos para melhorar o ambiente das negociações antes de uma reunião convocada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, prevista para acontecer nos dias 27 e 28 de setembro, em Washington, e que deve discutir novos limites para a emissão de gases.
"Há uma idéia disseminada de que os países em desenvolvimento não estão fazendo nada. Essa idéia não possui nenhum fundo de verdade", disse Watson em uma entrevista coletiva concedida durante o encontro que acontece de 27 a 31 de agosto na capital austríaca e do qual participam mil autoridades de 158 países.
"Os países em desenvolvimento estão adotando medidas. Suas emissões estão aumentando, mas eles estão adotando medidas que terão um impacto bastante significativo", afirmou. Segundo Bush, países em desenvolvimento como a China e a Índia precisam investir mais na luta contra o aquecimento global se desejam ver os EUA participando de um novo acordo global de combate ao aquecimento quando o Protocolo de Kyoto deixar de vigorar, em 2012.
O presidente norte-americano decidiu em 2001 não ingressar no Protocolo, do qual participa a maioria dos países industrializados do mundo. Para Bush, o pacto seria custoso demais e havia errado ao excluir das metas compulsórias de emissão países em desenvolvimento como a China e a Índia.
TOM CONCILIADORA UE e outros simpatizantes do Protocolo vêem nele um primeiro passo efetivo na luta contra o aquecimento, fenômeno que pode tornar mais numerosas e violentas as ondas de calor e as enchentes, além da possibilidade de disseminar doenças, destruir safras e elevar o nível dos mares. "Não era algo de se esperar o que ele (Watson) disse, que os países em desenvolvimento estão agindo", afirmou Gustavo Silva-Chavez, do grupo Defesa Ambiental.
"O tom adotado foi bastante conciliador", disse Hans Verolme, especialista em questões climáticas para o grupo ambientalista WWF. Segundo Verolme, os países em desenvolvimento, com destaque para a China e a Índia, desejam ver sinais de que seus esforços vêm sendo reconhecidos antes de participarem das negociações em Washington, que pretendem dar início a um processo capaz de fixar novas metas climáticas até o final de 2008.
A China, por exemplo, diz estar contribuindo com a adoção de planos para aumentar em 20 por cento sua eficiência no consumo de energia nos próximos cinco anos. Também alega que vem intensificando as ações de reciclagem enquanto continua inaugurando termelétricas a uma velocidade média de duas novas usinas por semana.
Bush diz que as negociações em Washington, das quais devem participar grandes emissores como a China, a UE, a Rússia, a Índia e o Japão, terão por objetivo discutir a fixação de metas para além de 2012 e, em um segundo momento, dar apoio a um plano global a ser firmado em 2009. "Entre os EUA e a UE, há muito mais áreas de concordância do que de discordância", afirmou Watson.
O negociador norte-americano reconheceu haver desavenças com a UE a respeito de Kyoto, pacto no qual 35 países comprometeram-se, até 2008-2012, em diminuir suas emissões para cinco por cento abaixo dos níveis registrados em 1990, mas observou que os dois cooperavam em áreas como a tecnológica, a da pesquisa ambiental e a dos reatores nucleares.
(Por Alister Doyle,
Reuters, 29/08/2007)