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cerrado bunge soja
2007-08-29
ONGs acusam a multinacional de provocar uma devastação sem precedentes no Cerrado, o segundo maior bioma do país, e de perseguir e tentar intimidar ambientalistas piauienses. Eles afirmam que o agronegócio e a monocultura da soja, estimulados pela Bunge e outras grandes empresas, estão causando graves problemas sociais, econômicos e ambientais na região, com o apoio e incentivos fiscais do governo daquele Estado. (com vídeo, ver link no final do texto)

Porto Alegre, RS - A multinacional Bunge Alimentos é uma das grandes responsáveis pela expansão desordenada da monocultura de soja ao sul do Piauí, afirma o ambientalista Judson Barros, presidente da Fundação Águas do Piauí (Funaguas). Ele diz que está sendo alvo de perseguições da empresa e ameaças de produtores por defender o meio ambiente da região.

Segundo Judson, desde 2003 a multinacional adotou um comportamento de intimidação em relação a ele e a Funaguas, através de processos judiciais. A empresa move contra Judson cinco processos alegando danos morais e pede uma indenização de R$ 2 milhões. Move também um processo criminal pedindo a sua prisão.

O ambientalista mora em Teresina, onde trabalha e estuda, e conta que a empresa abriu os processos em Gaspar, Santa Catarina, onde fica a sede da Bunge Alimentos, e Uruçuí-PI, com o intuito de dificultar a sua defesa.  Ele tem sido um crítico veemente do projeto implementado pela Bunge no Estado, desde 2001, com o aval do Governo do Piauí, que concedeu à empresa 15 anos de isenções fiscais – somariam cerca de R$ 200 milhões ao ano.

“Olhos Cerrados”
Para tornar pública essa situação, a Funaguas produziu o documentário “Olhos Cerrados”, vídeo de 14 minutos no qual acusa a empresa - com sede nos Estados Unidos e 12 fábricas no Brasil - de promover uma destruição sem precedentes no Cerrado. Segundo o vídeo, 80% do bioma já estão degradados e apenas 0,85% de sua área, com dois milhões de quilômetros quadrados, se encontram em Unidades de Conservação.

A existência de quatro bacias hidrográficas – Tocantins, Araguaia, Prata e São Francisco – produziu uma grande biodiversidade de fauna e flora na área. Existem 10 mil espécies de vegetais, 837 de aves, 212 de mamíferos, 180 diferentes répteis, 1.200 espécies de peixes e 67 mil invertebrados. No Piauí ficam 37% da extensão do Cerrado, de Sul a Norte, ao longo do rio Parnaíba.

No entanto, são enormes os impactos sociais, econômicos e ambientais que se abateram sobre a região a partir da implantação da unidade da Bunge, que opera com soja transgênica, e o crescimento do agronegócio no Estado. Judson Barros cita, como efeitos perversos disso, a grilagem de terras, trabalho escravo, favelização dos centros urbanos, assoreamento de rios e riachos, utilização de agrotóxicos em larga escala, inviabilização da agricultura familiar, expulsão dos pequenos produtores, desertificação e extinção da flora e fauna nativas.

“Dados de pesquisas e depoimentos de especialistas revelam que é impossível se pensar em desenvolvimento sustentável se não se barrar a expansão da monocultura da soja no Cerrado do Piauí”, afirma o ambientalista. O agronegócio precisa de grandes áreas para se expandir, invade áreas nativas, e só beneficia aos grandes produtores, afirmam os entrevistados do documentário, como o bispo Francisco Masserdotti.

Além disso, a Bunge usa 100% de madeira nativa como fonte energética para industrialização da soja na sua unidade de Uruçuí. São cerca de 600 metros cúbicos de lenha por dia (que devem passar a 1.200 metros cúbicos/dia neste ano), provocando uma intensa devastação nas matas do Cerrado. O Ibama concedeu licença para extração da madeira numa área de até 30 quilômetros da empresa, mas um laudo do IPT/USP aponta que ela pode estar vindo de municípios de até 800 quilômetros de distância.

Para tentar se desobrigar da responsabilidade pelo desmatamento, acrescentam as denúncias, a  Bunge teria terceirizado a extração da madeira para  outra empresa, a Graúna. Ainda por cima, a Bunge exibe o certificado ISO 14001, uma espécie de atestado de respeito ao meio ambiente que ela utiliza como marketing ambiental. A pressão dos ambientalistas piauienses é para que a multinacional mude imediatamente a matriz energética de Uruçuí para preservar as florestas. Também contestam as isenções fiscais concedidas pelo governo do Estado.

A Funaguas já levou o caso ao Ministério Público Federal, alegando danos irreparáveis ao meio ambiente, para pedir o embargo das atividades da indústria.  Durante toda a semana passada, a EcoAgência tentou ouvir a Bunge Alimentos sobre as denúncias. A pedido de sua assessoria de imprensa, enviamos inclusive algumas perguntas via e-mail. Foram quatro contatos ao todo com a sede, o último no final da tarde de sexta-feira, 24/08, sem que houvesse resposta ao nosso questionário.

Ameaças de produtores
Além dos diversos processos judiciais da Bunge, os ambientalistas afirmam que também vêm sofrendo ameaças de retaliações por sua contestação ao agronegócio. O alvo preferido tem sido Judson Barros.  Este é um dos recados que ele recebeu pelo Orkut, em péssimo português:

“cra sou produtor rural em cima da cerra do piaui, e eu tenho certeza que você ou qul quer outro besta, que tentar atrapalhar nos, nós vamos agir!! e por isso ja estamos nos reunindo para fazer uma reunião para ver e estudar seus atos para termos uma conversa em massa com gv federal e os demais produtores. para ver o absurdo que você esta fazendo. para que sera que existe IBAMA E MEIO AMBIENTE? sai do meio que que a chapa ta esquentando pra vc, nós somos liberados para desmatar pagando taxas para o i bamo e estamos legalizados não é tu um orelha seca que vai impedir. sai fora enquanto é tempo!!!!”

Dia 30 de julho, Judson acionou os meios de comunicação e a OAB, pois os recados estavam ficando cada vez mais freqüentes e ameaçadores. Dois dos autores das ameaças foram identificados, são produtores rurais, residem em Floriano (PI) e seriam oriundos de São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul.

“Os ambientalistas do Estado não podem mais defender a vida, pois quando vão à TV, jornais e portais, o governo e estas empresas procuram sempre fazer terrorismo contra a nossa luta. É inadmissível esta posição de defesa que o Governo faz em beneficio dos grandes empresários do agronegócio desordenado”, desabafa Judson. “A situação ambiental no Piauí é alarmante, pois o Cerrado não tem lei e quem manda são os grandes produtores”, completa Dionísio Carvalho Neto, da ONG Rede Ambiental do Piauí (Reapi).

Protesto em Teresina
Na manhã da última sexta-feira (24/08), estudantes ligados à Reapi fizeram uma passeata pelas principais ruas do centro de Teresina. Com apitos, faixas e cartazes os estudantes pediram a atenção do poder público para a questão ambiental no Estado.

“Soja destrói o Cerrado", "Serra Vermelha quase se foi. Qual será a próxima?” “Governador, Carvão não é desenvolvimento”, "Fora BUNGE e JB Carbon”, "Fora Dalton MAUcambira (secretário de meio ambiente)”, "Deputados do Piauí querem destruir a Serra Vermelha”, “Mamona não é comida”, diziam as faixas.

Dionísio Carvalho disse que este é só o começo, haverá mobilizações maiores, com os estudantes aliados à sociedade civil organizada, garantiu. Ele acusa os deputados e o governo do Piauí de serem insensíveis para com o meio ambiente e incapazes de administrar com responsabilidade. Cita como exemplo o caso da Serra Vermelha, onde foi autorizado o desmatamento de 78 mil hectares, com o apoio da grande maioria dos deputados de seu Estado, para produção de carvão pela empresa JB Carbon, num projeto chamado “Energia Verde”.

“O Governo do Estado quer transformar o Piauí em uma grande caieira, destruindo a nossa biodiversidade causando danos ambientais e econômicos irreversíveis”, explicou Divo Carvalho. A passeata terminou em frente ao Palácio de Karnak, sede do governo Estadual, onde os jovens estenderam os cartazes e as faixas. Não houve manifestação do governo estadual sobre o protesto.

- Clique aqui para assistir ao documentário "Olhos Cerrados".
- Leia mais: www.funaguas.org.br

(Por Ulisses Almeida Nenê, EcoAgência, 27/08/2007)

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