O governo do Amazonas tem se esforçado para combater o desmatamento e preservar a biodiversidade da fauna e flora. Todavia, no que tange ao segundo quesito, a situação foi reconhecida no mínimo como “crítica” no âmbito estadual, segundo o relatório Colección Documentos e Projetos (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU), redigido em conjunto com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS) e a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ).
Conforme aponta o documento, que teve a participação do cientista Carlos Bueno, doutor em biologia vegetal (Unicamp) e coordenador de Extensão (Coxt) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), há pelo menos 38 espécies ameaçadas de extinção e uma já extinta no Amazonas. O texto, denominado “Análise Ambiental e de Sustentabilidade do Estado do Amazonas”, aponta que, ao todo, 41 espécies na Amazônia Legal estão sob ameaça de desaparecer para sempre.
No estrito caso estadual, no que tange à lista de animais que podem sumir de vez dos ecossistemas, estão quatro espécies de aves, duas de peixes, 14 de mamíferos e dez espécies vegetais. Além disso, “a essas espécies caberia acrescentar um número indeterminado de anfíbios, répteis, insetos e fungos, entre outras, a maioria das quais ainda não foi classificada”, aponta o relatório.
A ONU alerta ainda para o fato de “apesar do Amazonas apresentar o maior percentual de cobertura florestal em relação aos demais Estados da Amazônia Legal, sua biodiversidade também está sujeita a muitas pressões”. Conforme o documento, tais “pressões” seriam fortalecidas tanto pela falta de projetos de sustentabilidade ambiental quanto pela inércia de empresas industriais em face a responsabilidades ecológicas.
Para embasar a afirmativa, o documento descreve que a indústria de perfumaria é um dos setores que tem explorado de forma absurda o meio ambiente do Amazonas, sobretudo a flora. “O pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke), por exemplo, tem sido usado de modo não-sustentável e em larga escala na produção do linalol e fragrâncias. A produção do óleo essencial se baseia na destruição da árvore cujo tronco é cortado e reduzido a cavacos”.
No mesmo sentido, a extração mineral, os derramamentos de petróleo e a construção de barragens — todas atividades industriais — são considerados concorrentes entre si na corrida para acelerar a extinção de espécies, sobretudo, da fauna, conforme aponta a ONU. A Organização sublinha que a industrialização também pressiona o ecossistema amazonense por meio do desenvolvimento da agricultura, da criação de bovinos e bubalinos e da captura volumosa de espécies aquáticas. “Desde a década de 1990, observa-se a diminuição de várias populações de peixes em virtude da sobreexploração”, aponta o texto, que foi parcialmente redigido pelo diretor-presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), Neliton Marques, doutor em entomologia (USP).
Fazendo comparativos de 2000 a 2006 sobre os processos de risco de extinção de espécies no Amazonas, o documento alfineta, inclusive, antigos projetos de administração pública do Estado. É enfatizado que “a implementação efetiva de unidades de conservação tem registrado avanços significativos se for levado em consideração que até 2002 havia apenas um plano de gestão (ambiental) concluído”. A ONU situa geograficamente sua avaliação salientando que no sul do Estado, na área conhecida como “Arco do Desmatamento”, é o local onde é mais visível o impacto antrópico.
De positivo, a ONU reconhece apenas os mais recentes esforços institucionais para fortalecer as regiões de unidades de conservação (UCs) do Estado, as quais contabilizam hoje uma área de mais de 16 milhões de hectares. O Sistema Estadual de Unidades de Conservação (Seuc) — que foi lançado pelo governo para diminuir a problemática do desmatamento, o qual contribui de forma direta para o desaparecimento de espécies no Amazonas — é apontado como benéfico.
Cabe enfatizar que o lançamento do programa de avaliação das unidades de conservação foi sancionado em 5 de junho, no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, no mesmo dia em que a Lei de Mudanças Climáticas também foi ratificada. Com o Seuc, segundo dados da ONU, a estratégia de combater o desmatamento e o avanço da fronteira agrícola no sul do Amazonas foi fortalecida. O documento registra que a meta do Sistema também é implementar planos de manejo para a biodiversidade ameaçada do Estado.
(Por Renan Albuquerque,
Amazonas Em Tempo, 27/08/2007)