A retomada do meio-ambiente como assunto prioritário na agenda política rende inúmeros desdobramentos. Um deles refere-se ao consumo de combustíveis fósseis, tão empregados pelo homem contemporâneo apesar de suas implicações ambientais já conhecidas. A comunidade científica e empresarial do mundo já se deu conta que é hora de pensar em outras formas de energia – e é nesse ponto que os biocombustíveis ganham força.
Mas pensar na produção e consumo de biodiesel e álcool, entre outros, é algo que vai bem além da esfera ambiental. A economia é diretamente afetada – temos, por um lado, países cuja atividade econômica é praticamente inteira voltada ao petróleo, e cujos padrões rotineiros seriam seriamente abalados caso haja a opção mundial por outro combustível; há também a agricultura, que vê muitos de seus empreendedores motivados a investir em uma produção radicalmente diferente do habitual.
No caso do Brasil, essas últimas implicações somam-se ao fato de uma “responsabilidade positiva” que o país carrega no tocante aos biocombustíveis. O Brasil é pioneiro e líder mundial na produção de etanol – há exatos 30 anos foi instituído o Proálcool, que deu uma nova dimensão à produção de combustíveis de matriz natural, e mesmo em escala global.
Enfim, há muitas variantes que englobam a produção dos biocombustíveis. O debate vai muito além da possibilidade do álcool ser produzido em escala mundial ou não. E todos esses desdobramentos serão abordados na Conferência Nacional de Bioenergia (Bioconfe), que a USP promove entre os dias 26 e 28 de setembro no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
O professor Wanderley Messias da Costa, coordenador da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP - uma das unidades que promove o evento - e presidente da Bioconfe reafirma a importância da Universidade nos processos tecnológicos que levaram a esse quadro positivo, e destaca que essa é uma das principais motivações para que a USP seja ativa nas discussões referentes a esse tema. "Uma universidade do porte da USP, na qual está reunido o universo dos conhecimentos envolvidos nessa questão, possui todas as credenciais para explorar e debater todos os seus diversos ângulos", aponta.
O formato da Bioconfe segue essa linha. O evento não é restrito a participantes advindos da Universidade; mais que expor seus pesquisadores, a USP exerce seu papel de canalizador de idéias e agrupador de debates na conferência. Estarão presentes representantes do setor governamental, empresários e pesquisadores de diferentes instituições.
Os seis painéis da Bioconfe têm como meta abarcar as divisões do tema. Serão discutidos ali desdobramentos ambientais, econômicos, políticos, tecnológicos e outros que tenham relacionamento direto com a produção de Biocombustíveis.
As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo site http://www.usp.br/bioconfe, que contém outras informações sobre o evento, como a programação completa.
A “nata” do saber tecnológico reunida
Conferência Nacional de Bioenergia – que a USP realizará em setembro no Maksoud Plaza Hotel – discutirá formas de o Brasil vencer os desafios industriais e se tornar a maior potência em bioenergia do planeta no século 21
Recursos naturais abundantes – como área agricultável e água – não são suficientes para transformar o Brasil na grande potência mundial em bioenergia do século 21. É preciso também desenvolver avançadas tecnologias, que dêem ao País condições de aumentar a produtividade no setor e se colocar à frente das demais nações. Apresentar essas tecnologias é um dos objetivos da Conferência Nacional de Bioenergia, que a USP promoverá nos dias 26, 27 e 28 de setembro, no Maksoud Plaza Hotel, São Paulo. O encontro reunirá especialistas da Universidade, da iniciativa privada e do governo, entre eles o ex-ministro de Minas e Energia e ex-reitor da USP José Goldemberg, o diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, e o gerente executivo de Desenvolvimento Energético da Petrobras, Mozart Schmitt de Queiroz,
Estão previstos seis painéis, que abordarão temas como “Políticas públicas e inovação para o desenvolvimento da bioenergia”, “Pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a produção da bioenergia”, “Perspectivas de investimentos em bioenergia e seus impactos na economia brasileira”, “Meio ambiente e bioenergia” e “Bioenergia e indústria automobilística no Brasil e no mundo”. Haverá conferências sobre “O programa de bioenergia do Estado de São Paulo”, proferida por Goldemberg, e “Cenários mundiais do biodiesel”, dada pelo presidente da A ssociação Brasileira das Indústrias de Biodiesel (Abiodiesel), Nivaldo Trama.
Alcoolquímica – “A nossa finalidade é utilizar o conhecimento que já temos na área e propor estratégias para o Brasil superar as dificuldades tecnológicas e aproveitar essa oportunidade histórica oferecida pela bioenergia”, afirma o professor Wanderley Messias da Costa, presidente da Bioconfe, lembrando que a conferência reunirá “a nata da nata” dos pesquisadores ligados à bioenergia. Entre as “dificuldades tecnológicas” a ser superadas, ele cita a necessidade de melhorar a tecnologia de fermentação da cana-de-açúcar, a fim de obter mais açúcar e álcool, e a urgência de aperfeiçoar o processo de obtenção do etanol por hidrólise, que permite o aproveitamento do bagago da cana. “Precisamos achar meios de aumentar cada vez mais a produção sem aumentar a área de plantio de cana”, diz o professor. “Temos expertise suficiente para propor soluções para esses problemas.”
Costa: propostas para o PaísWanderley da Costa destaca que a alcoolquímica é uma área especialmente estratégica para o País, que precisa receber a atenção do governo e dos pesquisadores, conforme mostrará a conferência. Assim como a indústria petroquímica extrai do petróleo inúmeros derivados – desde combustíveis até solventes e plásticos –, também o álcool pode ser explorado para dar origem a vários subprodutos, como celulose, componentes do plástico de origem vegetal, materiais de revestimentos e solventes, além do etanol e do biodiesel. “É toda uma cadeia produtiva auto-sustentável, menos poluente e geradora de riquezas, que pode ser formada com o desenvolvimento da alcoolquímica.”
Interdisciplinar, a conferência será “a primeira dos últimos anos” a reunir pesquisadores das diferentes áreas envolvidas na produção de bioenergia, acrescenta Wanderley da Costa. Essas áreas incluem a genética, a química, a engenharia, a agronomia e a economia, entre outras. “Isso nos permitirá abordar a bioenergia da forma mais abrangente possível, discutindo desde os avanços científicos e tecnológicos até os impactos positivos e negativos na sociedade e no ambiente.” Realizado pela USP, o evento conta com apoio de várias instituições acadêmicas, privadas e governamentais, entre elas a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, entre várias outras.
A Conferência Nacional de Bioenergia da USP será realizada nos dias 26, 27 e 28 de setembro no Maksoud Plaza Hotel (alameda Campinas, 150, em São Paulo). As pré-inscrições podem ser feitas via internet até 21 de setembro. Após essa data, somente nos dias e local do evento. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (0xx11) 3091-4806 e na página eletrônica http://www.usp.br/bioconfe (e-mail: markccs@usp.br).
(Por Olavo Soares,
da Agência USP, 28/08/2007)