Continuando sua caminhada pelo Nordeste, a Caravana em defesa do rio São Francisco e do Semi-Árido - Contra a transposição visitou neste último final de semana os municípios do Rio Grande do Norte. A Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, ou Açude Açu, foi alguns dos pontos visitados. O objetivo era conhecer de perto a realidade do açude e das comunidades que vivem em seu entorno. Hoje, a Caravana já se encontra em Fortaleza, Ceará.
A realidade encontrada pelos membros da Caravana já era esperada. Eles já sabiam que no Açude Açu tinha água, mas a visão dele cheio foi surpreendente. Segundo o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), a barragem Armando Ribeiro Gonçalves tem "capacidade de armazenamento de 2,4 milhões de metros cúbicos d'água e bacia hidráulica com área de 195 quilômetros quadrados". Ela teve sua construção iniciada em 1979 e sua conclusão se deu no ano de 1983. Hoje, o reservatório está com mais de 90% de sua capacidade de armazenamento.
"O objetivo do açude é o suprimento de água ao Projeto de Irrigação do Baixo Açu. São inúmeros os benefícios gerados pelo Projeto Baixo-Açu, destacando-se, sobretudo o aproveitamento hidroagrícola das terras aluviais do vale, assim como os chapadões dos tabuleiros das encostas, cuja irrigação promoverá o desenvolvimento agrícola em uma área com cerca de 25.000 hectares, com geração de quase 12.000 empregos diretos e indiretos", explica o Dnocs em sua página na internet.
Entretanto, não é essa a realidade vivida pelos produtores rurais. Em Ipanguaçu, município distante a 214 km de Natal, mais de 50 pessoas receberam a Caravana para discutir a transposição do São Francisco e relatar suas experiências com o açude. O encontro foi no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipanguaçu.
O presidente Severino Cosme Xavier deu as boas vindas para a Caravana e afirmou: o "rio Açu está uma mácula. Você não consegue ver o reflexo do seu rosto nele". Xavier continuou: "antes do açude era uma vida boa para o pequeno produtor. A barragem está servindo para os ricos, para os grandes produtores". De acordo com ele, os projetos de irrigação prometidos não saíram do papel, e as culturas tradicionais que garantiam a sobrevivência dos trabalhadores, não estão sendo cultivadas. "Antes da barragem a gente era mais saudável, plantava. Hoje tem que comprar batata de fora", conta Severino.
A cobertura completa da Caravana em www.manuelzao.ufmg.br
(Humberto Santos, Assessoria da Caravana /
Adital, 27/08/2007)