A Plastivida, Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos(http://www.plastivida.org.br), promoveu nos dias 21 e 22 de agosto o 5º e 6º Simpósio Plastivida, realizados respectivamente em Curitiba e em São Paulo. O tema central dos encontros foi "Alternativas sócio-ambientais para os plásticos pós-consumo", com foco em degradabilidade e reciclagem energética. Para ambos eventos, a entidade convidou o engenheiro bioquímico e especialista em biodegradação de plásticos, Ramani Narayan. Para complementar a abordagem do também professor da Universidade de Michigan, foi apresentado o projeto de reciclagem energética da Usina Verde, que já possui uma usina piloto no Rio de Janeiro. O evento contou com o apoio da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas (Abief), da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Paraná (Simpep).
"A palavra biodegradável é muito sedutora, mas de verdade nada quer dizer se não mencionarmos em quanto tempo e em que condições algo se biodegrada", explicou Francisco de Assis Esmeraldo, presidente da Plastivida. Em sua apresentação, o executivo se preocupou em dar um panorama geral sobre a questão das sacolas oxi-degradáveis, que têm sido objeto de projetos de lei em estados e municípios do país. Assis salientou que, além de gerar uma "poluição invisível" ao se despedaçar e não se dissolver na natureza, impor sacolas oxi-degradáveis significa desperdiçar um plástico que poderia voltar para a cadeia produtiva e ainda gerar energia. "Plástico é petróleo e, portanto, tem alto teor energético, comparável ao óleo diesel, e num momento em que o mundo carece de novas fontes de energia é um contra-senso fazer 'desaparecer' uma sacola plástica", acredita Assis.
Eloísa Helena Garcia, diretora do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) de Campinas (SP), participou do evento em Curitiba com a palestra "Plásticos e Meio-Ambiente: Qual é o caminho sustentável?". A palestrante citou entre os resultados de seus estudos, 13 motivos pelos quais o material dito oxi-biodegradável não é a alternativa ambientalmente correta e eficaz.
Sem meio termoJá o professor Ramani Narayan, da Universidade de Michigan, considerado um dos maiores especialistas do mundo em biodegradação de plásticos, foi categórico em sua explicação: "Ou um produto é totalmente biodegradável ou não, não há meio termo". Assim como Assis, Narayan salientou que para se falar em degradação de algo é preciso estipular o tempo e as condições de ambiente que o resíduo deve estar exposto para que microorganismos possam 'digerí-lo'. "A definição mais simples para biodegradação é: em quanto tempo e em que condições este plástico se tornará comida para microorganismos?", explicou o acadêmico. Para ser biodegradável, Narayan explica que é preciso que haja microorganismos que consigam transformar 90% do carbono do material em gás carbônico num período de 180 dias. Se isso não ocorrer, não se pode denominar o material como biodegradável. "Por isso que pesquisadores têm encontrado no organismo de mamíferos marinhos partículas de plásticos que se dizem biodegradáveis. Estes, apesar de não os matarem sufocados, podem gerar contaminações sérias", concluiu Narayan.
Fim do lixoTendo como foco a reciclagem energética, a Usina Verde apresentou nos Simpósios o projeto-piloto de sua usina de reciclagem energética (incineração), que tem como objetivo incinerar os resíduos urbanos, gerando energia, nas proximidades dos centros urbanos. Henrique Saraiva e João Henrique Paes Leme, da Usina Verde, disseram que a tecnologia empregada para a construção dos incineradores é inteiramente nacional e patenteada, e consegue ser no mínimo 30% mais barata (R$/tonelada de resíduo) do que as tecnologias empregadas na União Européia e Estados Unidos. O projeto-piloto, instalado no Rio de Janeiro, tem capacidade de incinerar 150 toneladas/dia e gera cerca de 2,6 MW (capaz de suprir energia para 187 mil pessoas). Além de energia, os resíduos sólidos da usina podem ser empregados na fabricação de pisos e tijolos utilizados na construção civil, pois são materiais inertes. Paes Leme ressaltou ainda que a usina não gera efluentes líquidos e os gases passam por um processo de lavagem, que gera uma fumaça limpa.
Gerenciamento eficazA sexta edição do Simpósio Plastivida, em São Paulo, também contou com a participação de Casemiro Tércio de Carvalho, coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, que ressaltou que a boa destinação de resíduos sólidos no Estado é superior a média nacional. "O IQE (Inventário de Resíduos Sólidos) era de aproximadamente 4 em 1997, este ano São Paulo já atingiu 7,40", afirmou Carvalho. O ideal deste índice, segundo ele, é estar entre 8 e 10, o que significa que a tonelagem de resíduos urbanos se classifica cada vez mais como adequada. A região metropolitana é a que mais se destaca por ter aterros bem operados, "afinal acaba se tornando um negócio lucrativo operar bem o lixo", complementa Carvalho.
O governo paulista está implantando soluções regionalizadas, dividindo por bacias hidrográficas o estado, e inclusive a Grande São Paulo. "Na Zona Leste temos muito entulho, por isso não podemos tratar o lixo da mesma forma que uma região onde predomina o produto orgânico", afirma Carvalho. Por fim, o coordenador opina dizendo que toda embalagem deveria ter embutida o custo da reciclagem. "Algumas empresas, que são pró-ativas, já estão gerindo seu pós-consumo, o que o governo estimula e tenta botar em prática dentro de sua estrutura administrativa", finaliza o coordenador.
Conceito prejudicialNo papel de articuladora entre sociedade, governo e indústria, a Plastivida tem levado esclarecimentos à população sobre os riscos oferecidos pelo uso das sacolas oxi-degradáveis, incorretamente denominadas de biodegradáveis, que não desaparecem na natureza. Além do prejuízo à natureza, a Plastivida lembra que a questão do plástico dito biodegradável certamente desencadearia uma ação de deseducação, uma vez que induziria a população a descartar o lixo em qualquer lugar, sem qualquer cuidado, agravando o problema da poluição. A Plastivida defende que a melhor solução para a preservação do meio-ambiente é a coleta seletiva e reciclagem (mecânica e energética) do material pós-consumo.
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Envolverde / Assessoria, 28/08/2007)