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consumismo
2007-08-29
Há seis anos, o Instituto Akatu faz ações para conscientizar e mobilizar o consumidor brasileiro para o seu papel protagonista na construção da sustentabilidade da vida no planeta. Criado no âmbito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, para educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente, a organização busca disseminar o conceito de consumo consciente. Nesta entrevista, o gerente de projetos especiais do Instituto Akatu, Aron Belinky, fala sobre o tema.

Qual é o conceito de consumo consciente?
Aron Belinky - A idéia do consumo consciente é exatamente que as pessoas, no seu cotidiano, percebam que as decisões individuais que cada um toma tem um efeito sob o coletivo. As pessoas precisam perceber que podem mudar a forma de consumir a fim de evitar problemas de poluição e aquecimento global, por exemplo, e perceberem que isso é uma maneira de interferir e fazer com que a mesma força do consumo que está gerando todos esses problemas ajude a gerar soluções. Quando falamos em consumo consciente, estamos falando em primeiro olhar os impactos – positivos ou negativos – sob quatro dimensões: indivíduo, sociedade, meio-ambiente e economia.

Qual é a proposta do Instituto Akatu?
Belinky - Queremos que o consumidor, ao tomar suas decisões no cotidiano, perceba que o seu ato de consumo gera impactos que podem ser positivos ou negativos tanto na sociedade, como no meio-ambiente, como na economia, como na própria vida da pessoa. Queremos que o consumidor perceba os impactos dos seus atos. Esses impactos vão acontecer antes do momento da compra e depois que ele tomou a decisão e o consumo aconteceu. Temos que levar em conta esses dois momentos.

Como funciona o impacto antes do momento da compra?
Belinky - Um exemplo é você comprar produtos de empresas que tenham responsabilidade social ou comprar produtos que venham de um comércio justo. Ao fazer isso, o consumidor irá ajudar a ampliar e manter a lógica do comércio justo. Ao mesmo tempo, um consumidor que desconsidera o compromisso social do fornecedor, eventualmente vai sustentar um processo de expansão insustentável ou agressivo à sustentabilidade. Ao escolher o produto ou ao tomar sua decisão de compra, o consumidor deve ver da onde o produto veio e a quem o fato dele estar comprando e usando aquilo vai beneficiar: se é algo que ajuda a sociedade e o meio-ambiente ou se é uma coisa que prejudica.

E como funciona o impacto depois da decisão do consumo?
Belinky - Por exemplo, quando você compra um produto que tenha embalagens em excesso. Você vai ter aquelas embalagens, vai destinar isso para o lixo ou para reciclagem – que também consome energia – e, portanto, como consumidor, você vai gerar um impacto no meio-ambiente. Ou quando você descarta um produto – uma roupa ou um celular – antes que a vida útil dele tenha terminado. Ao utilizar o produto por mais tempo ou ao destinar a quem precisa, você estará gerando um impacto positivo.

Como o Brasil se coloca diante dessas temáticas?
Belinky - De acordo com uma pesquisa do Instituto Akatu de 2006, 33% dos brasileiros tem uma percepção como consumidores que vai além daquela economia imediata na hora de consumir. O Brasil está num nível intermediário. Nosso consumidor tem já certo engajamento, mas não tão grande quanto em outros países. Outro dado é em relação à disposição do consumidor a premiar ou punir empresas através da sua decisão de compras. Perguntamos para os consumidores se alguma vez eles já tomaram a decisão de compra levando em consideração a vontade de prestigiar uma empresa que faz uma coisa certa ou, pelo contrário, de não comprar uma coisa ou falar mal da empresa porque acha que ela fez uma coisa errada. No Brasil, temos um percentual de 30% que disseram que já fizeram ou pensaram em fazer isso alguma vez. Esse número é menor do que em outros países como Austrália, França, Alemanha onde se chega próximo a 50%.

Como aliar em crescimento econômico, sustentabilidade e comércio justo?
Belinky - Não existe uma incompatibilidade nesse sentido. Hoje, temos um percentual enorme da população mundial com um consumo muito abaixo daquilo que as pessoas poderiam esperar. Por outro lado, a humanidade consome 25% mais do que a Terra é capaz de sustentar. Estamos indo além do que é sustentável. Se todas as pessoas do Planeta passassem a consumir no padrão de consumo e desperdício dos habitantes dos países ricos, precisaríamos de quatro planetas Terras. Precisamos trabalhar de maneira que o crescimento econômico una essas pessoas todas que estão fora do mercado ou que tenham um consumo mínimo aquém daquele essencial para a sobrevivência e, ao mesmo tempo, ele tem que ser mais produtivo de modo que você consiga gerar menos impacto, com menos desperdício, com menos excesso na outra ponta. A nossa idéia não é que as pessoas não consumam, mas sim, que pensem na maneira como o consumo pode acontecer. Isso é o que torna a proposta de sustentabilidade e consumo consciente algo que não é incompatível com o crescimento econômico. Temos que trabalhar em duas pontas: desenvolver novos padrões de expectativas das pessoas e diminuir o desperdício.

Como as empresas podem contribuir nesse sentido?
Belinky - As empresas têm um papel enorme. Hoje, vemos o aquecimento global, o problema da poluição e percebemos que o excesso no uso de recursos naturais não é uma questão de valores ou uma questão das pessoas acharem certo ou errado. É uma questão matemática, econômica e de sobrevivência. Por isso, tem que haver um consenso - tanto na sociedade, como no meio empresarial, como no governo - da necessidade de se estabelecer um consumo sustentável. As empresas têm como um dos seus fundamentos a sobrevivência a longo prazo. Hoje, para uma empresa ser reconhecida como alguém que de fato contribui para a sociedade, não basta só pagar impostos, gerar empregos, fazendo aquele papel tradicional que a gente sempre viu como sendo o papel das empresas. O que se deseja atualmente das empresas é que, além de terem esse papel econômico de operar corretamente, gerar empregos, pagar impostos e mover a economia, contribuam ativamente para a construção de uma sociedade mais ética e mais sustentável.

(Carbono Brasil, 13/08/2007)

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