Concluído ontem, o inquérito da Polícia Civil sobre a explosão que matou seis funcionários da Nova Protecin no mês de junho, em Canoas, determinou o indiciamento de cinco responsáveis pela empresa por homicídio com dolo eventual.
Se o enquadramento for mantido pelo Ministério Público, os indiciados deverão enfrentar júri popular. O relatório revela que houve outros dois acidentes na mesma tarde do incêndio fatal.
Responsável pela investigação, o titular da 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas, Fernando Soares, entende que a administração da empresa assumiu o risco de um acidente grave ao ignorar normas básicas de segurança. Por isso, optou por caracterizar o crime como homicídio com dolo eventual em vez de homicídio culposo (sem intenção de matar).
Assim, a pena dos dirigentes da Nova Protecin poderia variar de seis a 20 anos de prisão. O inquérito ainda os responsabiliza por lesão corporal grave de quatro funcionários que tiveram queimaduras, mas sobreviveram. Nesse caso, a pena é de dois a oito anos.
O inquérito indicia Dalci Lengler (sócio), Cleonilson Augusto Zibetti (gerente de produção), Everton Diornes da Silva (gerente de qualidade e presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - Cipa), Leila Rodrigues (supervisora administrativa) e Edimilson Cardoso Feijó da Silveira (inspetor de qualidade e vice-presidente da Cipa).
Com base em depoimentos de empregados, o delegado apurou que, na mesma tarde do dia 21 de junho em que ocorreu a explosão, já haviam sido registrados outros dois incidentes devido à concentração de gás. Em um deles, sofreu queimaduras nas pernas o funcionário Paulo Roberto Rodrigues de Lima. Em vez de ir para um hospital, ele passou pomada nos ferimentos e continuou trabalhando - até ser morto na explosão seguinte.
Uma das razões da sucessão de incidentes, conforme Soares, foi a realização de tarefas para as quais a Nova Protecin não se encontrava qualificada.
- A empresa estava preparada para trabalhar com botijões de 13 quilos, mas estava recebendo botijões de 20, 45 e até 90 quilos com válvulas, que trazem gás residual em seu interior, que precisa ser removido com segurança - argumenta Soares.
O relatório deve ser encaminhado para o Judiciário até a manhã de hoje, de onde seguirá para o Ministério Público. Caberá ao MP decidir por denunciar os indiciados, modificar o enquadramento ou reenviar o relatório para a Polícia Civil para mais investigações.
ContrapontoO que diz Alexandre Wunderlich, advogado dos indiciadosO relatório da Polícia Civil ainda depende da aceitação por parte do Ministério Público. Há pessoas indiciadas que não tiveram qualquer responsabilidade pelo evento. Além disso, o enquadramento jurídico de crime doloso não corresponde às provas. No máximo, o que houve foi imprudência. Não quer dizer que tenha ocorrido, apenas sublinho que, no máximo, poderia ter havido imprudência. Houve apenas um outro acidente no mesmo dia, e que é comum nesse tipo de atividade. Mas não vou entrar no mérito disso. Vamos examinar as provas que levaram a autoridade policial a indiciar essas cinco pessoas. A Nova Protecin já reativou as suas atividades, autorizada pelos órgãos competentes, e segue dando apoio às famílias das vítimas. Respeitamos o trabalho da polícia, mas discordamos das conclusões.
Polícia aponta 13 fatores de negligênciaA investigação conduzida pela 1ª Delegacia da Polícia Civil de Canoas encontrou 13 fatores de negligência por parte da direção da Nova Protecin. Entre eles, destaca-se a falta de espaço adequado e de condições técnicas para trabalhar com botijões acima de 13 quilos - incluindo espaço arejado e o respeito a normas de segurança. A falta de espaço fez com que um grande número de botijões fosse armazenado no pátio lateral da empresa, área pouco ventilada e próxima ao pavilhão onde eram utilizados equipamentos elétricos. Os fundos da empresa, área mais indicada para o serviço, já se encontravam ocupados.
(Por Marcelo Gonzatt,
Zero Hora, 28/08/2007)