Todos os anos os ativistas de direitos animais dos Estados Unidos e alguns representantes de outros países se reúnem numa conferência para trocar idéias e discutir os avanços do movimento de defesa dos animais. Trata-se da Animal Rights, evento idealizado há 15 anos pela organização sem fins lucrativos FARM (Farm Animal Reform Movement). Este ano a conferência foi realizada na cidade de Los Angeles entre os dias 19 e 23 de julho e os cerca de 1000 participantes discutiram questões que foram além das estratégias de ações de defesa, campanhas e vegetarianismo/ veganismo no âmbito de ações de exploração covardes cometidas contra os animais. Conclui-se que além de ser uma prática ética em relação aos bichos, Direitos Animais é uma questão ambiental.
Em tempos de manchetes sobre aquecimento global, já foi amplamente divulgado o fato de que a pecuária e todos os outros processos que geram produtos de origem animal são grandes vilões do meio ambiente por conta da devastação de florestas, alto consumo de cereais e desperdício e poluição das águas. A própria Organização das Nações Unidas, através de relatório oficial de 2006, demonstrou que a criação industrial de animais é responsável por aproximadamente 18% das emissões de gases de efeito estufa. Em termos comparativos esse número é maior, por exemplo, que o das emissões geradas pelos meios de transporte.
“Muitos veganos fazem a opção pela dieta pensando nos animais apenas. No entanto, eles acabam ajudando na melhoria de sua saúde e da saúde do planeta. Infelizmente muitos líderes ambientalistas ainda não se deram conta da importância disso”, afirma Alex Hershaft, presidente da FARM e idealizador da Animal Rights. “Além de mudanças no atual modelo energético, é necessário trabalhar na conscientização das pessoas sobre sua alimentação. O resultado será uma mudança de comportamento e hábitos em larga escala, ingrediente principal para uma mudança de modelo da dieta global”, explica Saurabh F. Dalal, presidente da União Internacional Vegetariana/ América do Norte e um dos principais divulgadores da intrínseca relação entre Direitos Animais e Meio Ambiente.
Dalal fez uma apresentação sobre a influência da atual dieta onívora adotada pela humanidade nas mudanças climáticas em uma das plenárias principais da Animal Rights e fez questão de ressaltar que cabe ao ativista de direitos animais ficar atento não só à alimentação. “Ser vegano é fundamental, mas precisamos rever ainda mais nossos hábitos de consumo. Temos realmente que nos tornar mais verdes”, alertou Dalal.
O coro dos direitos animais e sua relação direta com o equilíbrio ambiental do planeta teve um reforço significativo com a declaração oficial de apoio dada por Dennis Kucinich, candidato à presidência dos EUA em 2008 e um dos únicos congressistas americanos adeptos da dieta vegana. Através de uma áudio-conferência, Kucinich falou para um auditório lotado sobre as suas crenças e o seu comprometimento no cenário político a favor da sustentabilidade para a preservação de todas as espécies de vida e do meio ambiente. “Tratar mal os animais reflete na paz do mundo”, afirmou o congressista na Animal Rights.
Ativismo não é terrorismo
Entre os mais de 100 palestrantes da Animal Rights 2007, algumas são figuras ilustres já conhecidas e respeitadas (e, às vezes, criticadas), como o Capitão Paul Watson, fundador e presidente da Sea Shepherd Society. Watson é mundialmente conhecido por liderar operações diretas contra a caça de baleias na Antártica e chama este trabalho de ambientalismo. Para ele, defesa de animais e vegetarianismo são simplesmente questões ambientais.
“A Sea Shepherd é um grupo conservacionista que atua na defesa de direitos animais. Vamos a campo tentar garantir o cumprimento das leis internacionais e isso consiste em um trabalho de conservação. Não me considero um ativista de direitos dos animais. Sou um ambientalista”, explica, ressaltando que a fama de pirata do mar conquistada pela organização é até motivo de orgulho. “Um pirata resolve por ele mesmo, sem receber ordens do Governo. Nossa missão é salvar o planeta. Nossos clientes são os animais. Este é o nosso foco”.
Mas se Watson tem orgulho em ser chamado de pirata, um outro rótulo é motivo de revolta por parte dos ativistas e consistiu em outro assunto de destaque da conferência este ano: a crítica coletiva ao Animal Enterprise Terrorism Act, ou AETA, uma emenda aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 2006 que coloca qualquer pessoa ou organização de defesa de animais no mesmo nível de terroristas, punindo inclusive protestos pacíficos. “O AETA ameaça a liberdade de expressão particular e dos grupos ativistas e chama nosso trabalho de terrorismo. Na conferência tivemos a chance de avançar bastante nas estratégias de enfrentamento e anulação desta emenda”, esclarece Hershaft.
(Por Jaqueline B. Ramos, Envolverde, 27/08/2007)