Enquanto o mercado imobiliário americano amarga uma tendência de queda, na zonal rural do país o preço das propriedades tem subido a níveis históricos, impulsionado pela maior demanda por etanol. Os dados mais recentes do Standard & Poor’s/Case-Shiller Home Price Index, indicador que aponta o preço de propriedades urbanas em dez regiões metropolitanas dos Estados Unidos, caiu 3,4% em maio em comparação ao mesmo período do ano passado – a 18ª queda consecutiva desde dezembro de 2005. O índice recuou para um patamar não visto desde 1991.
No campo, ao contrário, os números revelam um mercado aquecido, um "boom" comparado aos do início do século 20 ou da década de 70, quando novas tecnologias e equipamentos inflaram o valor das propriedades rurais. De acordo com relatório do Departamento de Agricultura americano, a média nacional do preço por acre, incluindo prédios e terra, subiu 14% para US$ 2.160, em 2007, comparado ao ano anterior.
Observando a média histórica, o aumento é ainda mais expressivo. Em 1985, o preço era de US$ 713 por acre. Em 1995, US$ 844 e, em 2005, US$ 1.650. "A demanda por etanol está impulsionando o preço das terras. Principalmente a procura por milho, que é o produto mais fácil de ser convertido", afirma David Baker, professor da Iowa State University e diretor do Beginning Farmer Center, organização que presta assessoria a fazendeiros iniciantes.
Com a demanda forte, cada vez mais fazendeiros aumentam a área de plantação de milho para entrar no negócio do biocombustível. Dados de junho do Departamento de Agricultura americano revelaram que os fazendeiros do país plantaram 92,9 milhões de acres de milho em 2007 – a maior área desde 1944.
Investimento inicial
Em função do aumento do preço da terra, quem tem maior
facilidade para entrar no negócio do etanol são fazendeiros estabelecidos –
seja por já terem uma boa área para plantar milho, muitas vezes por herança de
família, ou condições financeiras para comprar ou arrendar mais acres.
"É um fazendeiro que tem entre 50 e 60 anos e provavelmente já tem outras terras onde pode diversificar o risco", descreveu Baker. Já jovens atraídos pela qualidade de vida no campo e por possíveis ganhos com o agronegócio, seja com etanol ou não, enfrentam dificuldades, acrescenta o professor da Iowa State University.
David Baker, professor universitário e consultor
O arrendamento requer um nível de investimento cada vez mais
alto. No estado de Iowa, onde há o maior cultivo de milho no país, a média do
preço do aluguel da terra subiu para US$ 150 por acre em 2007, contra US$ 128
por acre em 2003, conforme estudo do economista William Edwards, professor da
Iowa State University. Randy Dickhut, diretor da Farmers National Company,
empresa de administração de fazendas em Omaha, Illinois, diz, no entanto, que o
investimento inicial sempre foi um problema para aspirantes.
"Principalmente em relação a jovens, em qualquer ponto da história comprar uma fazenda sempre foi um grande investimento, e o mesmo ocorre hoje, quando os valores estão mais altos do que nunca", disse Dickhut. "Se ajustarmos a inflação ou capacidade de pagamento, essa situação pode não ser muito diferente do que tem sido ao longo das décadas."
'Bom investimento'
Dickhut, cuja empresa atua no mercado agrícola desde 1929,
diz que o início é sempre complicado, "mas que 20 anos depois as pessoas
vêem que fizeram um bom investimento".
Pelo menos em um futuro de médio prazo, de três a quatro anos, na avaliação de Baker, os fazendeiros que investiram em plantações de milho deverão ter retornos. Ruben Lubowski, economista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, aponta para o Programa de Combustível Renovável do governo, que prevê a produção de 7,5 bilhões de galões de etanol em 2012, o dobro do nível de 2005.
Até 2012, o milho ainda deverá ser a principal matéria-prima
para o etanol. "Depois disso, acho que vamos ver outros materiais sendo
usados para a produção de etanol, como celulose, madeira e grama", prevê
Baker. "Isso continuará a alimentar o aumento do preço da terra."
(Por Adriana Stock, BBC, 27/08/2007)